«A minha mãe tirou-me do futebol e inscreveu-me de castigo nos trampolins»

Lucas Santos, 22 anos, venceu a medalha de ouro de trampolins sincronizados nos Jogos Mundiais, em par com o ginasta Gabriel Albuquerque. Começou na modalidade como forma de castigo, mas agora que conquistou o ouro, não pretende parar por aqui

Se muitos profissionais do mundo do desporto se referem ao início da carreira como uma brincadeira que depois se tornou algo sério, para Lucas não foi bem assim. Foi um castigo. E começou no futebol. 

«Joguei futebol até aos meus 10, 11 anos e depois tive de deixar de jogar por maus comportamentos, digamos assim. Eu era muito rígido com os meus colegas», contou-nos Lucas, esclarecendo imediatamente: «Mas eu jogava bem, atenção! Não era daqueles que só falava. Jogava bem, só que o meu comportamento prejudicava o resto da equipa, o meu treinador também já reclamava um bocadinho comigo e eu não gostava muito. Então, a minha mãe soube, tirou-me do futebol e meteu-me de castigo nos trampolins», contou, numa visita à redação de A BOLA, em Lisboa.

A lógica do castigo passava por inscrever Lucas num desporto individual para que a prática o ajudasse a lidar sozinho com a raiva e as frustrações. E funcionou, até que deixou de estar sozinho.

E foi a fazer par com Gabriel Albuquerque, ginasta de 19 anos e colega de seleção, que em agosto deste ano, Lucas, de 22 anos, venceu a medalha de ouro nos Jogos Mundiais da China, competição que acolhe todas as modalidades não olímpicas.  

«Foi uma sensação mesmo incrível, porque nós sabíamos que conseguíamos ganhar o ouro, mas nada é garantido, não é? Portanto, nós queríamos fazer o melhor trabalho. Chegámos lá e tivemos um bocadinho mais de sorte do que os outros e conseguimos ficar com o ouro», relata Lucas sobre os Jogos Mundiais 2025, onde, juntamente com Gabriel Albuquerque, garantiu o primeiro lugar em trampolins sincronizados para Portugal. 

 «Trampolim sincronizado para as pessoas normalmente é mais giro de ver, porque é como se fosse um espelho, não é? Tu estás a saltar e outra pessoa que está ao lado está a fazer literalmente os mesmos saltos à mesma altura, a abrir os saltos ao mesmo tempo e é muito mais bonito de se ver do que o trampolim individual». Com esta confissão, Lucas aborda a vontade de ver a modalidade sincronizada elevar-se à categoria olímpica. De momento, apenas o trampolim individual tem lugar nos Jogos. E Lucas quer lá estar, seja só ou acompanhado. A ambição é grande uma vez que, confessa a A BOLA, não se vê a fazer outra coisa.

«A minha prioridade foi sempre os trampolins porque, para mim, fazer desporto é aquilo que mais amo. Quis ir para a faculdade, mas depois desisti e não cheguei a entrar. Ia tirar desporto, qualquer coisa na área de desporto. Mas não fui e, desde então, estou só focado nos trampolins», diz o ginasta, delineando bem aquela que é a sua prioridade: «No fundo, a minha vida é só trampolins, família e... pronto.» 

Depois do ouro, qual é o objetivo? Lucas não hesita: renovar o título sincronizado, ser campeão mundial individual e apurar-se para os Jogos Olímpicos 2028. No fundo, continuar a saltar e a ganhar muito, muito mais.