«Assinei com o Barcelona e depois, aos 24 anos, tive um AVC»
Ellie Roebuck é a guarda-redes do Barcelona (Imago)
Foto: IMAGO

«Assinei com o Barcelona e depois, aos 24 anos, tive um AVC»

FUTEBOL FEMININO19.02.202515:45

Ellie Roebuck recorda momento em que pensou que não iria voltar a jogar futebol

Guarda-redes da Inglaterra e do Barcelona, Ellie Roebuck, está a desfrutar da vida em Espanha, mas esta é uma imagem muito diferente da de há 12 meses. Em fevereiro passado, foi informada de que, aos 24 anos, tinha sofrido um AVC e receava nunca mais voltar a jogar futebol.

«Tive sorte porque devia ter perdido a visão. Devia ter perdido a minha visão periférica, de certeza. A maior parte das pessoas que sofrem um AVC [como o meu] sofrem isso. Por isso, provavelmente deveria ter ficado cega, o que é um milagre que isso não tenha acontecido», conta à BBC.

Ellie Roebuck ao serviço do Barcelona (Imago)

Foi por volta da altura do Natal de 2023 que Roebuck começou a sentir que algo «não estava bem», embora não conseguisse perceber o que era. «Sentia-se nauseada, tonta, fatigada, um pouco desequilibrada e a sua visão começou a ser afetada por pontos negros que lhe prejudicavam a visão. Uma bola tinha-lhe batido na nuca durante um treino, nada de anormal para um guarda-redes, pelo que os sintomas foram atribuídos a esse facto.

Foi tratada por um médico do clube, mas com o avançar do mês de janeiro, Roebuck ficou com a certeza de que tinha de ser outra coisa. «Eu sabia que não era concussão», disse. «Já tive uma concussão. Sabia que algo não estava bem. Disse: 'Para minha tranquilidade, preciso de fazer um exame à cabeça, algo não está bem e eu sei disso'.»

Quando recebeu o telefonema do médico do clube, alguns dias depois do exame, a pedir-lhe que viesse imediatamente, sabia que as notícias não iam ser boas.

»Fiquei em pânico, mas nunca me passou pela cabeça que fosse um AVC. Ele sentou-me e disse: 'teve um enfarte no lobo occipital esquerdo'. Perguntei-lhe “o que é isso em inglês? E depois ele disse-me que era um tipo de AVC», recordou.

Ellie Roebuck tem 12 internacionalizações pela Inglaterra (Imago)

Roebuck acrescenta: «A minha primeira pergunta foi 'será que vou voltar a jogar futebol?'»

Na altura, ninguém lhe podia dar uma resposta e o momento não podia ter sido pior, pois o diagnóstico surgiu apenas duas semanas depois de ter formalizado a sua saída do Manchester City, assinando um pré-contrato com o campeão europeu Barcelona, antes de se mudar no verão.

Ellie Roebuck (Imago)

Roebuck não foi autorizada a treinar durante 12 semanas e receava constantemente que voltasse a acontecer: «Não pude passear o meu cão durante umas seis semanas. Não saía de casa. Tinha medo de fazer qualquer coisa sozinha. E eu nunca fui assim, sempre fui muito independente. A minha mãe e o meu pai faziam turnos a viver comigo no meu apartamento de um quarto em Manchester.»

Admite que foi um período solitário, mas encontrou apoio de dois desportistas que tinham passado por experiências semelhantes. Um deles foi o antigo guarda-redes do Chelsea, Petr Cech, que sofreu um grave traumatismo craniano durante um jogo em 2006.

«Tive uma chamada com ele durante cerca de duas horas e foi fantástico. Embora não fosse diretamente a mesma coisa, era alguém com quem me identificava por estar a passar por uma situação semelhante. Ele falou de coisas que mais ninguém falou. Não importava quantas vezes eu tentasse exprimir-me, não conseguia. Ninguém se identificava com aquilo por que eu estava a passar. Ele é agora um grande amigo meu. Veio ver-me treinar no outro dia em Barcelona. Por isso, há aspectos positivos a retirar desta situação - as novas relações que criei», referiu.

No final, tudo correu bem e a guardiã regressou aos relvados, admitindo que aprendeu a valorizar mais a vida: «Sinto que dou muito mais valor à vida. Agora estou a dar prioridade ao que é mais importante, que é ser a melhor guarda-redes que posso ser.»