Subidas e descidas, uma lição territorial
João Rodrigues preside ao SC Farense (Foto Grafislab)

Subidas e descidas, uma lição territorial

Tribuna Livre é um espaço de opinião de A BOLA, esta da responsabilidade de João Rodrigues dos Santos, professor Associado e Coordenador da área de Economia e Gestão da Universidade Europeia

A descida do SC Farense à Liga 2 representa mais do que uma perda desportiva. É um revés económico e social para a região algarvia. Com uma média de 7.165 espectadores por jogo na época 2024/2025, o clube desempenhou um papel fundamental na dinamização da economia local, alimentando setores como a hotelaria, restauração e comércio, sobretudo em dias de jogo. A presença do Farense na Liga significa, para Faro e para o Algarve, mais do que golos e classificações. É um motor indireto de emprego, turismo e coesão territorial.

A ausência do clube no principal escalão nacional poderá resultar numa quebra de receitas relevante para a região. João Rodrigues, presidente do SC Farense, destacou repetidamente o peso das receitas obtidas nos jogos contra os três grandes, Benfica, FC Porto e Sporting, realizados no Estádio Algarve, com capacidade para 20 mil pessoas. Esses encontros geravam, por si só, entre 1,5 a 2 milhões de euros por época. Um valor que, para um clube com um orçamento apertado, representa a diferença entre o investimento e a contenção.

Em contraste, a promoção e a manutenção do Aves SAD na Liga traz benefícios imediatos à Vila das Aves. Há um ano, Alberto Costa, presidente da Câmara Municipal de Santo Tirso, não hesitou em reconhecer a importância da subida, um feito que devolve visibilidade à região, atrai visitantes e gera novas dinâmicas comerciais. O futebol, nestes territórios, pode assumir o papel de polo de centralidade.

A comparação entre o impacto económico da descida do Farense e a ascensão do Aves SAD evidencia com clareza a importância do futebol de alto nível para as economias locais. Enquanto o Algarve enfrenta um vazio competitivo e financeiro, a região de Santo Tirso assiste a um potencial ciclo virtuoso de crescimento.

Este cenário serve de alerta. Reforça a necessidade de uma visão estratégica por parte dos decisores locais e nacionais, que reconheça o futebol profissional como uma âncora legítima para o desenvolvimento económico e social. A coesão territorial pode, e deve, ser fortalecida através de investimentos em infraestruturas desportivas, incentivos à profissionalização dos clubes e programas que integrem o desporto nas políticas públicas de desenvolvimento regional.

A descida do Farense talvez não seja apenas uma questão de pontos. Pode ser um sinal de que, sem políticas sustentáveis e integradas, comunidades e regiões ficam à mercê de resultados desportivos, que, embora imprevisíveis, têm consequências bem reais. O futebol, mais do que um jogo, é uma plataforma de identidade, progresso e esperança para muitos territórios do interior e litoral fora dos grandes eixos metropolitanos.

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