O linchamento terminou? Falemos de futebol...
Agora que o linchamento popular parece ter terminado, falemos de futebol. Sobretudo da dupla Xavi-Iniesta do PSG. De Vitinha e João Neves. Ainda não se percebe muito bem qual é Xavi e qual é Iniesta. Talvez Vitinha seja mais Xavi e João Neves mais Iniesta. Os quatro têm algo em comum: não são grandes e têm muito talento. Como Pedri e Gavi. Ou João Moutinho. Ou, recuando meio século, tempo em que não havia linchamentos por meios audiovisuais (olá, António Oliveira, tudo bem consigo?), João Alves e Octávio. Todos grandes em talento e pequenos em altura. O físico é importante no futebol do segundo quarto do Século XXI, mas decisivo é talento + trabalho. Talento sem trabalho pode ser quase zero e trabalho sem talento pode ser quase zero. Vitinha e João Neves possuem os dois: talento e trabalho. Pode alguém chegar alto sem talento e trabalho? Pode. Basta ter um bom padrinho. Conheço um ou outro caso. Mas não no futebol.
Agora que o linchamento popular parece ter terminado, falemos da vida. Quem nunca pensou em mudar de vida, talvez fugir para a Polinésia Francesa apenas com havaianas, cão e cartão de crédito, que levante o dedo. Há quem mude radicalmente de vida e deixe o mundo do futebol para passar a ser ator de filmes pornográficos (Fábio Paim), remodelador de apartamentos (Jorge Cadete) ou homem dos sete instrumentos (Paulo Futre). Há depois quem mude de vida para que quase tudo fique na mesma. É o caso de Luís Campos.
Modestíssimo jogador (Esposende e Fão) e modesto treinador (Leiria, Esposense, Aves, Leça, Penafiel, Gil Vicente e V. Setúbal, Varzim ou Beira-Mar), decidiu um dia (ou a vida decidiu por ele) saltar dos bancos para os gabinetes e tornou-se diretor desportivo ou conselheiro de clubes, qualquer coisa assim. Ajudou o Mónaco e o Mónaco seria campeão de França em 2017/2018. Ajudou o Lille e o Lille seria campeão de França em 2020/2021. Passou depois por Galatasaray e Celta e chegou em 2022/2023 ao PSG. O PSG seria tricampeão de França (normal), venceria duas Taças de França (normal) e duas Supertaças de França (normal). Ajudou o PSG e o PSG foi, por fim, campeão da Europa (anormal).
Claro que o dinheiro ajuda muito, claro que um grande treinador e um grande plantel ajudam muito, mas esta vitória do PSG tem também a impressão digital de Luís Campos. Houve Nuno Mendes, Vitinha, João Neves e Gonçalo Ramos, os quatro cavaleiros lusos do Paris Saint-Germain Football Club, clube nascido apenas em 1970, mas há também Luís Campos. O homem que decidiu mudar de vida para que tudo continuasse (quase) na mesma. Campos tem talento e trabalho, dois dos t's mais importantes na vida. Os cinco portugueses são o exemplo dos profissionais da era moderna: talento e trabalho misturados. George Best tinha talento, mas não gostava de trabalhar. Paul Gascoigne tinha talento, mas não gostava de trabalhar.
Por fim, agora que o linchamento popular parece ter terminado, falemos do pai da Xana. Junta-se a Ernst Happel, Ottmar Hitzfeld, José Mourinho, Jupp Heynckes, Carlo Ancelotti e Pep Guardiola como únicos treinadores vencedores da Champions por dois clubes. Sem padrinhos e com talento e trabalho.