Belenenses partido em dois

OPINIÃO25.07.201801:23

Esta história de passarmos a ter dois Belenenses - um na I Liga, outro na distrital de Lisboa - é uma bizarria perigosa e estúpida. Que, em última análise, poderá afundar de vez o histórico clube lisboeta,  cuja trajetória nas últimas décadas - de declínio progressivo e evidente - recomendava tudo menos partições, ainda por cima litigiosas. Se ou quando o Belém estoirar de vez (clube, SAD, ambos arriscam falência…) bem podem Patrick Morais de Carvalho e Rui Pedro Soares continuar a esgrimir argumentos e a atirar as culpas para cima do outro. Já não haverá ninguém para os ouvir. E escrevo isto com a consciência de que a massa apoiante do Belenenses não prima propriamente pela juventude e é cada vez menos numerosa. A mim, que não tenho laço afetivo especial com o clube, incomoda-me esta situação. Imagino o que estarão a passar os adeptos e aqueles que acompanham o dia a dia do clube, como é o caso do meu amigo e companheiro Pedro Cravo, que me tem posto ao corrente da situação. Enfim, resumindo rapidamente: após a rotura entre o presidente do clube, Patrick Morais de Carvalho, e Rui Pedro Soares, presidente da SAD e líder da Codecity Sports Management (que em 2012 adquiriu a maioria do capital da SAD), a direção do clube avançou para a cisão total no futebol, criando uma equipa para disputar os distritais de Lisboa. A equipa profissional, treinada por Silas, mantém-se na Liga NOS a competir sob a designação Belenenses SAD e vai passar a jogar no Estádio do Jamor. Basicamente, é a equipa que há coisa de três meses venceu no Restelo o FC Porto (2-0) com uma bela exibição.


A equipa amadora (low cost, obviamente), orientada por um jovem treinador mais ou menos desconhecido (Nuno Oliveira), disputa a I Divisão Distrital de Lisboa e continuará a jogar no Estádio do Restelo, sob a designação C. F. ‘Os Belenenses’; que corresponde ao Belenenses de toda uma vida, o histórico Belém de Artur Pereira, Augusto Silva, Pepe, Amaro, Capela, Feliciano, Yaúca, Matateu, Vicente Lucas, Di Pace, Alfredo Quaresma, Gonzalez, Pietra e Mladenov; o histórico  Belém que ao fim destes anos todos ainda é, sem discussão, o quarto grande na história da I Divisão - campeão nacional em 1946, soma mais 17 pódios (três vice-campeonatos e 14 terceiros lugares), um registo muito superior ao do atual quarto grande (SC Braga) e também do Boavista, V. Setúbal e V. Guimarães.


Como reagirão os adeptos do Belenenses? Com quem vão ficar, por quem vão torcer? Pela equipa da SAD, no Jamor? Pela equipa do clube, no Restelo? Em qualquer dos casos, suspeito que haverá dois Belenenses com o mesmo cenário desolador nas bancadas: pouca gente. Pouca gente no belo elefante branco do Jamor. Pouca gente no belo elefante branco do Restelo. Clube partido, clube dividido, clube ferido. Pobre Belenenses, o que te fizeram!...