75 anos - Nagasaki
1 Há precisamente 75 anos explodiu em Nagasaki a segunda bomba atómica lançada pelos Estados Unidos da América para forçar o Japão a render-se e pôr fim à devastadora Segunda Guerra Mundial. A primeira explodira três dias antes em Hiroshima. Há alguns anos visitei o Japão, a cidade de Nagasaki e uma cidade bem próxima, Omura, um dos marcos da presença portuguesa naquelas terras longínquas. E, aqui, com um parque urbano que tem o nome da nossa Rosa Mota. São Francisco Xavier é uma das referências da evangelização cristã naquelas paragens, bem como o cronista Luís Fróis, que escreveu, no final do século XVI, um bem interessante livro acerca da «história do Japão». Mas depois daquela viagem nunca mais me esqueço, a cada 9 de agosto, a visita, sempre obrigatória, que fiz ao Museu da Bomba Atómica em Nagasaki. O museu, construído a partir do diário de um sobrevivente da bomba, vincula-nos a um firme clamor pela vida e obriga-nos a denunciar aquela monstruosidade. O museu ergue-se a partir de uma negritude que impressiona, já que cresce a partir do preciso local onde a bomba deflagrou. E aqueles andares do museu, cheios de imagens de dor, de um terror que paralisa, de uma crueldade que angustia, de relatos de «pessoas a derreter» (!!!), de elétricos com os ferros retorcidos, são imagens que, em cada agosto, recordo com uma intensidade singular. Sei bem que mal saí do museu me sentei num banco de pedra e chorei. Sim, chorei, digo sem vergonha. As lágrimas corriam pela face e a cada 9 de agosto elas, certamente em muito menor número, derramam pela mesma face. Sabemos bem, nós, desde Machado de Assis, que «lágrimas não são argumentos»! Mas o que vimos e sentimos obriga-nos a este grito de humanidade! Neste jornal que nascera, em resistência, meses antes!
2 A partir de amanhã só teremos, em termos de futebol europeu de topo, dois dias de pausa: 20 e 22 de agosto. Marquem na agenda! A partir de amanhã, e até ao domingo 23, teremos todos os dias jogos ou da Liga Europa ou da Liga dos Campeões. Amanhã e terça, na Alemanha, os quartos de final da Liga Europa. De quarta a sábado, na Luz e em Alvalade, os quartos de final da Liga dos Campeões. Todos os jogos às oito da noite de Portugal e de Inglaterra e, naturalmente, às 21 em grande parte da Europa. E depois, no próximo fim de semana, as meias-finais da Liga Europa. Os detentores dos direitos televisivos terão, nas próximas duas semanas, um razoável retorno, e os amantes do futebol ao redor do planeta não deixarão de vibrar com as suas marcas e os seus ídolos. Com a particularidade, bem negativa, de Juventus e Real Madrid não marcarem presença em Lisboa, o que nos impede de ver, nos nossos relvados, o extraordinário e repetido talento de Cristiano Ronaldo. Fica a esperança de revermos João Félix e de, porventura, vermos em Lisboa a magia de Neymar e companhia! Mas o que fica destas finais a oito inéditas é a supremacia clara das cinco grandes ligas do futebol europeu. Em 16 equipas finalistas têm 13. Os oito finalistas da Liga dos Campeões são todos originários das ligas espanhola, inglesa, alemã, italiana e francesa. Na Liga Europa, são duas equipas inglesas, uma alemã, uma italiana, uma espanhola - uma vez mais o Sevilha! - e três equipas de outras ligas, como a suíça (Basileia), dinamarquesa (Copenhaga) e uma ucraniana (Shakhtar). Nenhuma das ligas entre o sexto lugar (Portugal) e o nono (Holanda) marcam presença nesta fase final. A Ucrânia está em décimo lugar, a Dinamarca em 13.º e a Suíça em 18.º. Mas o que importa evidenciar é a presença de dois treinadores portugueses nos oitavos de final da Liga Europa: Luís Castro e Nuno Espírito Santo. E este último com notável legião de grandes jogadores portugueses na sua equipa e muitos deles são referências de uma notável época desportiva na principal competição do planeta futebol! Ambos os treinadores merecem um cumprimento bem especial e o desejo que se encontrem na final. É que o sorteio assim o ditou. Mas seria um prémio merecido a dois cidadãos e a dois profissionais que engrandecem Portugal, o seu futebol e qualidade dos seus treinadores.
3 Já falta menos de um mês para o regresso da nossa Seleção Nacional à competição. Na verdade, no próximo dia 5 de setembro, no Estádio do Dragão, e para a Liga das Nações - cuja primeira edição ali conquistámos! - a equipa de Fernando Santos defronta a Croácia e, logo a seguir, tem um confronto na Suécia (a 8). O nosso selecionador sabe bem que a nossa liga só arranca a 20 de setembro e que no âmbito europeu, e no que diz respeito a grandes ligas, só a liga francesa arranca em agosto (22). As ligas inglesa, espanhola, grega, holandesa e turca arrancam a 12 de setembro. E a alemã seis dias depois! O que igualmente sabemos é que a liga escocesa, mais a da Sérvia, começaram a 1 de agosto e que neste fim de semana arrancaram as ligas búlgara, russa e belga! Vivemos momentos especiais e com calendários singulares. As seleções com jogos de apuramento entram em competição antes da generalidade das ligas internas se iniciarem, o que obriga a uma especial articulação entre as equipas técnicas nacionais e os treinadores das equipas fornecedoras. E, bem assim, uma especial e diferente ligação entre os selecionadores e os jogadores em que acreditam. São, mesmo, tempos singulares. E sem que antecipemos, por ora, as consequências para as diferentes competições, de uma segunda, ou até, terceira vagas desta pandemia que nos perturba e condiciona.
4 O novo e diferente Benfica de Jorge Jesus está a ser construído. O que implica uma reconstrução de uma equipa que mostrou fragilidades nos últimos meses e, logo, urgentes necessidades. O que sei é que alguns dos jogadores do plantel já mostraram que sabem, e podem, jogar o dobro «ou o triplo»! Do que nos proporcionaram, com evidente dor, nos últimos meses. O que sabemos igualmente é que em alguns lugares chave da equipa, há urgentes necessidades de forma a olharmos, com renovada esperança, para a nossa liga e a sua necessária reconquista. Sem ignorarmos a presença europeia e, desde logo, e nesta época que agora arranca, a atrativa presença na fase de grupos da Liga dos Campeões. Mas o discurso de Jorge Jesus, na apresentação, foi tão entusiasmante quanto motivante. E com Napoleão Bonaparte sabemos que «o entusiasmo é a maior força da alma. Conserva-o e nunca te faltará poder para conseguires o que desejas»!
5 Nove de agosto de 1945. Às 11.02 uma nuvem, em forma de cogumelo, enche o céu, relativamente nublado, de Nagasaki. A bomba atómica arrasou a cidade, vitimou milhares de homens, mulheres e crianças e vincula-nos, sempre, a impedir que tal desgraça se repita. E esta recordação é, tão só, um instante. A partir de uma visita marcante na minha vida!