Volta a Espanha debaixo de fogo
O desfecho da Vuelta deixou o mundo do ciclismo a ferro e fogo e as posições nada têm a ver com o resultado final que consagrou o dinamarquês Jonas Vingegaard (Visma Lease a Bike) como vencedor e em nada beliscam o segundo lugar de João Almeida (UAE Emirates), que o melhor resultado de sempre de um português numa grande Volta, alcançado por Joaquim Agostinho,vice na Volta a Espanha, em 1974.
O cancelamento da 21.ª etapa da Volta a Espanha devido à manifestação de mais de 100 mil pessoas pró-Palestina que invadiram o circuito final e travaram o pelotão a 56 quilómetros da meta fizeram estalar o verniz. O protesto foi contra a presença da equipa Israel-Premier Tech — de nada valeu o dispositivo de segurança na capital espanhola, o maior de sempre num evento desportivo e o maior desde a cimeira da NATO, em 2022 — e dividiu opiniões.
Os corredores acabaram num parque de estacionamento de um hotel em Madrid, em cima de geleiras a fingir os degraus do pódio e Vingegaard a ouvir o hino dinamarquês saído de uma coluna a pilhas.
🇪🇸 #LaVuelta25
— Team Visma | Lease a Bike (@vismaleaseabike) September 14, 2025
Boys will be boys. An intimate celebration for the winners of this Vuelta a España! 🍾🙌🏼 pic.twitter.com/s8PG1uUNWS
«Lamentamos que o primeiro-ministro espanhol e o seu governo tenham apoiado ações tomadas durante uma competição desportiva que poderiam prejudicar o seu bom desenrolar e, em alguns casos, tenham manifestado a sua admiração pelos protestos», disse ontem a UCI, entidade que rege o ciclismo mundial, em comunicado, depois dos caos que se verificou em Madrid. «Esta posição está em total contradição com os valores olímpicos, respeito mútuo e paz», acrescenta. Na mesma mensagem, a UCI admite ainda que tem «dúvidas sobre a capacidade de Espanha para acolher grandes eventos desportivos internacionais».
Spanish PM Pedro Sanchez held a rally in Málaga with Palestinian flags flying and on display across the big screens.
— Leyla Hamed (@leylahamed) September 14, 2025
He took a moment to show his support for protesters opposing Israel’s participation in La Vuelta cycling tour. pic.twitter.com/y6xEc8wwxN
Indiferente às criticas, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, manteve-se firme nas suas declarações, reafirmando admiração pelos manifestantes: «Sentimos imenso respeito e profunda admiração por uma sociedade civil espanhola que se mobiliza contra a injustiça e defende as suas convicções pacificamente».
A Vuelta ficou, assim, marcada por constantes alterações ao percurso, uma etapa cancelada, outra sem vencedor, e uma outra com uma meta improvisada, culminando nos incidentes de domingo.
Imperdoável, segundo o diretor da prova. «Lamento e condeno o que ocorreu na última etapa da Volta a Espanha. As imagens falam por si. É totalmente inaceitável aquilo que aconteceu, especialmente no circuito. Não se retira nada de bom disso. Lamento a imagem que passámos, não se pode repetir», defendeu Javier Guillén.
«Falámos com a UCI para analisar os acontecimentos, pedimos que tomassem uma posição mantiveram a Israel-Premier Tech em prova. Guiámo-nos pelos seus regulamentos, mantivemo-nos neutros. Informámos que havia um problema», argumentou, recordando que a equipa foi convidada a abandonar a prova, mas recusou.
Já em Lisboa, no dia em que a Volta a Portugal terminou, alguns manifestantes juntaram-se na meta para protestar contra a presença da Israel Premier Tech Academy, equipa de formação que venceu quatro etapas, mas sem causar distúrbios de maior.
Israel tem em curso uma ofensiva na Faixa de Gaza que causou mais de 64.600 mortos no território governado pelo Hamas desde 2007, após um ataque deste grupo no sul de Israel, a 7 de outubro de 2023, em que fez 251 reféns e mais de 1200 mortos.
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