«Vítor Brunos há muitos, este também anda de calções»
Em setembro de 2012, Wilson Teixeira tornou-se uma cara conhecida de boa parte dos portugueses, ao participar na terceira edição da Casa dos Segredos. Treze anos depois, o técnico de 38 anos vivia o momento mais marcante da sua carreira no futebol. À frente do Atlético Clube da Malveira desde meados de setembro a meados de novembro de 2025, conduziu a equipa ao topo da Série D do Campeonato de Portugal, com os mesmos 18 pontos da Juventude de Évora, devolvendo confiança a um grupo que, há dois meses, estava na zona de despromoção.
Mas esta semana, de forma inesperada, o treinador deixou o cargo. Saiu por divergências internas, apesar da boa campanha e dos resultados que sustentavam a sua liderança.
«Escolhi três adjuntos: dois já tinham trabalhado comigo, o outro (José Pedreira) foi-me recomendado por um amigo. Não gostei de certas atitudes dele e falei com o presidente na terça-feira para reajustar a equipa técnica. Registei atitudes de falta de lealdade, quebraram-se elos de confiança», explica.
Segundo o treinador, a divergência com o adjunto acabou por se tornar irreversível. «Disse ao presidente que na minha equipa técnica mando eu, mas o presidente manda no clube — e isso eu compreendo, mas ele não aceitou a saída do adjunto. Não compreendo a decisão, mas tenho de a respeitar.»
Wilson admite que ficou desiludido com a forma como o processo foi conduzido. «O José foi trazido por mim ao clube. Quando percebi que não havia respeito, nem união, tive de tomar a decisão de o afastar. Segundo os meus adjuntos Nuno Diogo e Marco Gomes, em quem confio, houve afirmações do José no sentido de ter a ambição de ocupar o meu lugar. Já foi ele quem deu o treino de quarta-feira.»
As atitudes do adjunto e saída de Wilson levaram o antigo técnico do clube a fazer uma comparação provocatória. «Vítor Brunos há muitos. Por acaso, este também anda de calções. Deve ser defeito de quem os usa», atirou, numa alusão à polémica saída de Sérgio Conceição do FC Porto e ao seu ex-adjunto.
Apesar da saída abrupta, Wilson Teixeira deixa a Malveira com um registo muito positivo. Desde que chegou, à quarta jornada, somou quatro vitórias e dois empates em seis jogos, devolvendo estabilidade e ambição a um grupo que parecia encaminhado a lutar pela manutenção.
«Era um desafio que não podia rejeitar. Queria muito ter esta oportunidade como treinador principal nesta divisão», recorda. «Trabalhámos muito para chegar até aqui. Fico triste por sair, mas há coisas que não posso aceitar.»
Desde 2006, quando começou a treinar equipas de formação, Wilson construiu um percurso pautado pela persistência. Em 2010, assumiu a primeira equipa sénior, o Bobadelense, e desde então passou por vários clubes dos distritais de Lisboa e Santarém.
Mas a determinação levou-o também a experiências internacionais. Primeiro, ao Qashqai Shiraz, da 2.ª Liga do Irão, em 2018/2019. «As orações a meio do treino, os sacrifícios de animais antes dos jogos, em que tínhamos de pisar o sangue dos cabritos sacrificados... Para nós, ocidentais, é estranho, mas faz parte da cultura e da religião deles», recorda.
Mais tarde, o destino levou-o a Andorra, onde completou o curso UEFA A e integrou o Esperança d’Andorra como adjunto. «Desde 2015 que tentava entrar no curso em Portugal e nunca consegui. É mais difícil entrar num curso UEFA A do que em Medicina, infelizmente», lamenta.
Foi dessa luta que nasceu o seu livro Sem Vagas para a Paixão, lançado em junho deste ano. «Retrata o que vivi e pretende ajudar outros treinadores a perceberem os obstáculos que a FPF impõe e toda a castração que existe em termos de formação dos treinadores.»
O segredo é o trabalho
Aos 38 anos, Wilson ainda carrega o estigma mediático da Casa dos Segredos, mas encara-o com serenidade. «Não fujo do tema. Existe preconceito e sei que muitos presidentes deixaram de me contratar por causa disso. No dia em que fui anunciado no Atlético, o presidente recebeu centenas de mensagens a dizer que eu não ia aguentar um mês», recorda.
Wilson assume que ainda há quem o identifique como «o rapaz do reality show», mas garante que a sua resposta está no trabalho e nos resultados. «Tirei todos os cursos com distinção e tenho orgulho nisso. Essas pessoas são a gasolina do meu motor motivacional.»
Admirador de «todos os bons treinadores», como Guardiola, Mourinho, Bielsa, Abel, Rui Borges ou Farioli, define-se como um «copiador de ideias», mas com ADN próprio. «Antes de ser bom taticamente, um treinador tem de ser uma boa pessoa para os jogadores. É isso que tento ser todos os dias.»
À saída, Wilson Teixeira garante não ter outro projeto à vista. «Não sei qual será o próximo passo. Não tenho nada, não tive nenhuma proposta. Queria ter continuado. Acredito que, se tivesse ficado até ao fim, ficávamos em primeiro ou segundo da série.»
Apesar da mágoa, mantém a convicção de que o seu trabalho foi sólido e merecia continuidade, revelando esperança em voltar aos bancos o mais depressa possível. «Os resultados estavam a ser bons, mas há coisas que não posso aceitar. Acho que mereço uma oportunidade no Campeonato de Portugal. Agora, é esperar.»