Villas-Boas

Villas-Boas não tem projeto

Presidente do FC Porto continua sem acertar na escolha do treinador e dá preferência aos da moda. Erradamente. Este é o 'Livre sem barreira', espaço de opinião de Hugo do Carmo

Um ano como presidente e três treinadores. Não está a ser fácil o início de carreira de André Villas-Boas na cadeira de sonho. A herança de Pinto da Costa, todos o sabíamos, não seria fácil de gerir. Pelo carisma, liderança e, fundamentalmente, títulos do presidente dos presidentes. 42 anos têm, obviamente, muito peso, ainda para mais quando a transição não é pacífica. Pinto da Costa perdeu, claramente, nas urnas, mas deixou um legado e esse é o principal problema de Villas-Boas.

Os adeptos querem um Porto à Porto. Forte, guerreiro e com alma. Numa palavra, ganhador. Foi a isto a que se habituaram durante quatro décadas e é isto que estão a cobrar à nova Administração.

Villas-Boas pode ter inúmeras razões para argumentar, começando, claro, pela difícil situação financeira, mas isso para o comum dos adeptos é secundário. No futebol o que interessa é ganhar e poucos são os que estão interessados em saber como. Bem pode Villas-Boas procurar democratizar e humanizar o clube, torná-lo, até, mais transparente, mas nada conseguirá sem… resultados.

Após uma época na plenitude das funções — a Taça de Portugal de 2023/2024 foi a meias com Pinto da Costa —, Villas-Boas conquistou uma Supertaça Cândido de Oliveira e logo de uma forma épica, com a inesquecível reviravolta de 0-3 para 4-3.

Para muitos clubes seria bom, para o FC Porto é insuficiente. O presidente é o primeiro a sabê-lo e por isso não segurou por muito tempo o treinador que conquistou o troféu. Vítor Bruno foi sacrificado, ele que tinha sido, quanto a mim, uma aposta de risco. Não pela capacidade, mas sim por ser o ex-braço-direito de Sérgio Conceição, também ele muito querido pelos adeptos e… vencedor. 

Não correu bem a primeira aposta de Villas-Boas, que decidiu inovar e foi ao México descobrir o desconhecido Martín Anselmi. O argentino falhou por completo e outra opção não restou ao presidente que não despedi-lo. Agora, segue-se Francesco Farioli. 

Tenho dificuldades em entender a escolha. Não pela qualidade do ex-técnico do Ajax, que não questiono, mas sim pelo perfil. Primeiro um português, depois um argentino, em estreia na Europa, e agora um italiano. Em comum apenas a idade, todas jovens para um treinador: 42, 39, 36.

Tenho a convicção de que Villas-Boas não tem um projeto desportivo. Construiu a sua equipa diretiva, mas falta-lhe um… treinador. Sem este, claro, nada funcionará, pelo que continua a tentar… acertar. Como Frederico Varandas fez no Sporting até encontrar Ruben Amorim, que tudo mudou em Alvalade. Num ápice, o presidente tremendamente contestado passou a ser o mais titulado da história do clube. 

Creio mesmo que Villas-Boas procura o novo Amorim, o que o leva a dar preferência a treinadores da moda. Um erro, como todos nós sabemos desde que todo o futebol português parou à procura do novo Mourinho. O mais aproximado que conseguiu descobrir foi… André Villas-Boas! Mérito, num e noutro caso, para… Pinto da Costa. E Villas-Boas, melhor do que ninguém, sabe que não existem clones…