«Vejo o Romário Baró como um jogador de eleição, vai ter impacto muito positivo»
Respira-se Portugal no Radomiak Radom, da Polónia. João Henriques é o treinador e António Ribeiro o diretor desportivo. A BOLA falou com o dirigente, que explica como se trabalha a pensar em crescer de forma... sustentável.
Como surgiu a aposta do Radomiak num diretor desportivo português?
—Venho de uma família com alguma história no futebol. O meu pai e o meu tio foram jogadores profissionais. O meu primo, Luís Machado, ainda é jogador, está no Ethnikos, em Chipre. O meu irmão é treinador e, na época passada, também esteve na Polónia, no Legia, e até nos defrontámos. Eu não tive a qualidade necessária para ser jogador! [risos] Mas percebi que tinha muita paixão pelo treino. Formei-me, cheguei a ir para uma das academias do Guangzhou, na China, mas só tinha 22 ou 23 anos e não me adaptei. Voltei a Portugal e comecei a trabalhar como scout, através de uma empresa. Ao fim de ano e meio, surge o primeiro contacto do Radomiak. Acabei por fazer a introdução de um jogador português, o Filipe Nascimento, no clube. Mais tarde, surgiu o convite para ficar como scout do clube, em 2021/22. Entretanto há um convite do Tiago Calisto para ingressar na empresa dele, que fazia consultoria à SAD do Feirense. Foi um projeto muito atrativo, onde estive até dezembro de 2024. Aí, o presidente do Radomiak convidou-me para voltar, mas como diretor desportivo. Ainda sou muito jovem e achei uma excelente oportunidade para começar a minha carreira no dirigismo.
De que forma justifica a aposta tão vincada do clube no mercado português?
—O presidente do Radomiak tem uma visão muito ampla. Foi o primeiro árbitro internacional da Polónia e o primeiro convite que me fez, para ser scout, já tinha o intuito de explorar o mercado português. Há muita qualidade no jogador português e de outras nacionalidades que passam nas nossas ligas profissionais, pelo que desde cedo começou a ter resultados muito positivos com os jogadores que vinham de Portugal para o Radomiak. Foi algo que começou a ser cultural no clube. Já tinha havido outro treinador português aqui, o míster Bruno Baltazar. Quando voltei, surgiu a oportunidade de trazer o míster João Henriques, que tem feito um excelente trabalho e está completamente integrado nas ideias do clube. Ter um treinador português também dá continuidade ao que eu conheço em Portugal. Tem corrido muito bem.
É fácil trabalhar com o míster João Henriques?
—Muito fácil. Tem sido uma pessoa espetacular, quer a trabalhar, quer em termos pessoais. Ajuda-me muito, a comunicação é diária, exaustiva e ele está por dentro de todo o processo de contratações do clube. Temos de ver sempre aquilo que faz sentido para o projeto e identidade do Radomiak, mas sempre com o aval do nosso treinador. Foi muito bom começar num projeto no estrangeiro com um treinador português, deixa-nos a todos muito mais confortáveis e creio que a ele também, apesar de já ter tido uma boa experiência no Olimpija Ljubljana. Temos funcionado muito bem, juntamente com o presidente, nesta ideia de reestruturação do clube.
Quais os objetivos do Radomiak Radom para 2025/26?
—O mercado que fizemos mostra ambição. Ainda agora trouxemos o Romário Baró do FC Porto, que continuo a ver como um jogador de eleição, juntamente com outros que temos aqui no plantel. O Rafal Wolski, internacional polaco, o Maurides… Temos um grupo com muita qualidade. Queremos cimentar o Radomiak no primeiro terço da tabela esta época. Depois, a médio e longo prazo, há o projeto de tentar entrar nas competições europeias, mas de forma sustentável.
Como é que se motiva um jogador a trocar a Liga portuguesa pela polaca?
—Creio que está relacionado com a exposição que a liga polaca tem dado. Há o exemplo recente do Afonso Sousa, que esteve três épocas no Lech Poznan. Foi o melhor médio da liga e, agora, acabou por ser transferido. A Polónia, até pelo posicionamento geográfico que tem, está no meio de vários mercados. O nível da liga também tem crescido muito. Há infraestruturas, qualidade de vida… Nós somos um clube de meio da tabela e temos um estádio novo, com 6 mil lugares, que está sempre cheio. Temos quatro campos de treino e um ginásio novo. Os jogadores são acarinhados na rua e há uma envolvência muito positiva com os adeptos. Depois, há o passar da palavra. Este ano trouxemos o Vasco Lopes, que estava no Aves SAD, o Elves Baldé estava no Farense e o Depú estava ligado ao Gil Vicente. São três jogadores que vieram da Liga portuguesa e as negociações não são fáceis. São jogadores com qualidade, com mercado, mas que conseguem perceber rapidamente aquilo que a Polónia e o Radomiak podem dar. Vai para lá da vertente financeira, porque os valores no nosso clube não fogem muito dos valores da Liga portuguesa. Naturalmente que tem de haver algo financeiramente atrativo, mas a diferença no Radomiak não é tão substancial como a que há ao ir para o Lech Poznan ou o Legia Varsóvia. Nós temos que convencer pelo projeto, por aquilo em que acreditamos e pela progressão na carreira que podemos dar aos jogadores.
Interesse do jogador português pela Polónia vai para lá da vertente financeira, porque os valores no nosso clube não fogem muito dos valores da Liga portuguesa
Já tocou no 'tema' Romário Baró… O Radomiak pode ser a rampa de relançamento?
—Sem dúvida. Acredito que o Romário vai ter um impacto muito positivo no clube e na liga. Isso pode colocá-lo novamente em patamares onde eu acho que ele merece e tem qualidade para estar. O Romário foi uma surpresa muito boa em termos de personalidade. É muito humilde, tem os pés na Terra, uma boa visão e percebeu que o Radomiak pode dar-lhe as ferramentas para voltar ao nível em que já esteve. Foi, de facto, uma contratação com bastante impacto aqui na Polónia, sonante. Fisicamente, está perfeitamente apto. É um jogador que até faz falta ao campeonato português, porque tem coisas muito interessantes. Estamos muito felizes por tê-lo aqui e falo em nome do clube, do presidente e do treinador. O Romário sente-se feliz e creio que é o primeiro passo para que as coisas possam correr bem.
Protocolo de cooperação com o Benfica
Em maio, Benfica e Radomiak firmaram um protocolo de cooperação e António Ribeiro explicou a A BOLA os contornos da parceria.
«Foi algo que quis trazer para o Radomiak ainda no decorrer da época passada e que começou, oficialmente e de forma prática, há cerca de um mês. Finalizámos o protocolo com o Benfica em meados de maio e vai muito de encontro à visão do jogador português, da metodologia portuguesa. Optámos pelo Benfica, que é uma formação de renome a nível mundial», detalha António Ribeiro.
Optámos pelo Benfica [para o protocolo], que é uma formação de renome a nível mundial
«Temos aqui um coordenador técnico, o Pedro Alegria, que já tem alguma experiência. Temos também um treinador que está a fazer o acompanhamento de várias camadas de formação e a dar formação aos técnicos que temos na nossa base. É um protocolo a cinco anos, tem o objetivo de desenvolver o jogador da academia de Radomiak para que possa chegar preparado ao plantel principal. Há também o objetivo de começar a colocar jogadores nas seleções nacionais jovens, coisa que nunca aconteceu no clube. Acima de tudo, trazer uma formação de excelência para a nossa realidade», sublinha.