Utrecht tem uma massa adepta muito fiel - Foto: Imago
Utrecht tem uma massa adepta muito fiel - Foto: Imago

Utrecht: do empreendedor que resgatou o Kursk à tragédia que eternizou o n.º 4

Adversário do FC Porto na Liga Europa nasceu em 1970, fruto da fusão de três clubes. Na cidade que viu nascer Van Basten (que nunca jogou no Utrecht) ainda há memória do... Sporting

UTREQUE — O Utrecht, adversário do FC Porto na 4.ª jornada da UEFA Europa League, tem uma história recente. Fundado a 1 de julho de 1970, resultou da fusão de três clubes da cidade de Utreque. O DOS (Door Ons Samenspanning), o USV Elinkwijk e VV Velox. O DOS era o mais antigo e conhecido clube da cidade de Utreque: foi campeão nacional em 1958 e enfrentou o Sporting, campeão português da mesma temporada, na 1.ª pré-eliminatória da antiga Taça dos Campeões Europeus. Na primeira mão, a 10 de setembro de 1958, no Estádio Galgenwaard, os leões venceram por 4-3. Em Alvalade, novo triunfo do Sporting, por 2-1.

Reportagem de A BOLA sobre o jogo entre o DOS e o Sporting

O dono ‘disto tudo’

Frans van Seumeren, empreendedor neerlandês e proprietário do Utrecht desde 2008, construiu a sua fortuna na indústria de equipamentos pesados antes de se dedicar ao futebol. Após vender a sua parte na Mammoet, empresa famosa pelo resgate do submarino russo Kursk, Van Seumeren realizou com a esposa uma caminhada de 6.000 km pela Europa com passagem por Atenas e Alicante, regressando de Espanha até à cidade natal, Harmelen, perto de Utrecht. Apaixonado pelo clube da sua infância, investiu 16 milhões de euros para salvar a equipa da falência e garantir a sua estabilidade financeira. Desde então, tem trabalhado para posicionar o Utrecht de forma sólida na liga neerlandesa e nos palcos da UEFA. Nesse projeto, perdeu o amor a cerca de 50 milhões de euros e promete não parar por aí.

Frans van Seumeren, empreendedor neerlandês e proprietário do Utrecht (Foto: Imago)

De Dirk Kuyt a Co Adriaanse

Apesar de nunca se ter sagrado campeão, o Utrecht exibe nas vitrinas do seu museu três Taças dos Países Baixos (1984/85, 2002/03, 2003/04) e uma Supertaça (2004). A sua melhor classificação na Liga, a Eredivisie, foi o 3.º lugar em 1980/81. Tem o supremo orgulho de nunca ter descido à II Divisão desde a sua fundação, em 1970. Dirk Kuyt, conhecido como o Guerreiro de Utrecht, será provavelmente o jogador mais famoso saído da formação. Fez a estreia aos 18 anos, sendo transferido para o Liverpool por uma soma recorde de €14 milhões, em 2006. Em 2018, voltou ao Utrecht como dirigente. Atualmente, orienta o FC Dordrecht, da II Divisão neerlandesa. Outra lenda é Leo van Veen, avançado/médio-ofensivo que nas décadas de 1970 e 1980 escreveu história no Utrecht, com 400 jogos e 154 golos apontados, um recorde no clube. Co Adriaanse, treinador do FC Porto na época 2005/06, jogou no Utrecht entre 1970 e 1976.

Co Adriaanse (esq), do FC Utrecht, luta pela posse de bola com Kevin Keegan, do Liverpool, em 1975 (A BOLA)

Van Basten e o museu do pai

Falando de grandes jogadores, impossível não associar Utreque a Marco Van Basten. Foi onde o genial e icónico ponta de lança nasceu. Vencedor de três Bolas de Ouro e autor de um dos golos mais incríveis da história do futebol, um pontapé de bicicleta que garantiu a vitória dos Países Baixos sobre a União Soviética por 2-0, na final do Europeu de 1988, Van Basten nunca jogou no Utrech. Antes de ir para o Ajax, onde se estreou com 17 anos, fez a formação em dois clubes locais, o EDO e o UVV Utrecht. O apartamento onde nasceu, num andar de cima da Surinamestraat n.º 49, ainda existe, bem como a sua casa de infância, na Johan Wagenaarkade, n.º 72, onde o pai montou um pequeno museu. São, como é fácil perceber, locais de peregrinação para adeptos de todo o mundo.

Casa de infância de Van Basten, na Johan Wagenaarkade, n.º 72 (DR)

O eterno camisola 4

Não há número 4 no Utrecht. O clube retirou oficialmente essa camisola como tributo ao central francês David di Tommaso, falecido tragicamente aos 26 anos, em 29 de novembro de 2005, vítima de um ataque cardíaco durante o sono. Usava o número 4 e era ídolo dos adeptos — foi eleito Jogador do Ano em 2004/05. Esse troféu que notabiliza o melhor atleta do clube em cada temporada tem, desde a sua fatídica partida, o seu nome. A De Bunnikside, a curva norte do Estádio Galgenwaard, onde se sentam (ou melhor, não se sentam) os ultras do Utrecht, tem o nome oficial de tribuna David di Tommaso e tem capacidade para 4 mil adeptos.

David di Tommaso é sempre recordado pelos adeptos do Utrecht (Foto: IMAGO)