Ucrânia foi só ‘caso’ diplomático

O 47.º Congresso da UEFA, que decorreu ontem no Centro de Congressos de Lisboa, ficou marcado pela eleição do esloveno Aleksander Ceferin, por unanimidade e aclamação, para um terceiro e último mandato à frente da organização que manda no futebol europeu. Relevante, para Portugal, foi a eleição, igualmente por unanimidade e aclamação, de Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) até 2024, que abandonou a UEFA por ter atingido o limite de idade, para ocupar um lugar, por quatro anos, no Conselho Executivo da FIFA.


Mas a surpresa do dia surgiu da boca de António Costa, primeiro-ministro de Portugal, quando, no discurso de boas-vindas com que se iniciaram os trabalhos, falou na candidatura ao Mundial de 2030 de Portugal, Espanha, Marrocos e… Ucrânia.

Pensou-se, de início, que se tinha tratado de um lapsus linguae do chefe do Governo, mas, logo de seguida, Fernando Gomes na sua intervenção também incluiu a Ucrânia no ticket onde está Portugal. Num contexto em que, até agora, em todas as intervenções públicas, nem o rei de Marrocos nem os chefes de Governo de Portugal e Espanha tinham referido uma candidatura a quatro, segundo A BOLA apurou, o primeiro-ministro, que leu o discurso, o que afasta a possibilidade de gafe, terá incluído a Ucrânia à última hora, por uma questão diplomática, uma vez que ainda não foi feito o anúncio oficial da saída da parceria rumo ao Mundial 2030 do país que luta contra a invasão russa. E terá sido à última hora, porque a seguir Costa falou «numa candidatura única, conjunta entre as duas margens do Mar Mediterrâneo».


Em relação a Portugal, e apesar de sermos um país atlântico, pode falar-se em cultura mediterrânica; mas o mesmo não é, obviamente, possível, mesmo esticando ao máximo a história e a geografia, relativamente à Ucrânia, que de mediterrânica não tem rigorosamente nada. Para compor este ramalhete, na sessão final de perguntas e respostas, Ceferin referiu-se ao caso como «uma provável má tradução», o que é, de todo, impossível.

O ponto de situação, na realidade, é o seguinte: a Ucrânia está fora da candidatura, faltando apenas a formalização; o resto, foi um ato falhado de diplomacia, em que Fernando Gomes não quis deixar mal António Costa, e até Ceferin veio a reconhecer que «mudou de ideias», referindo-se a Marrocos, relativamente a uma candidatura de países de confederações diferentes.