Supertubos - Ondas e dinheiro
Na véspera de começar mais uma passagem do Circuito Mundial por Portugal, para a disputa da terceira etapa de 2024, A BOLA foi à procura do que tem a praia de Supertubos, em Peniche. O que faz dela uma das mas desejadas e única no velho continente. A resposta é: tem ondas de classe mundial e um investimento financeiro público e privado suficiente para levantar e ali fixar um evento capaz de receber uma prova do Championship Tour (CT).
São estes os dois fatores-chave, o que a natureza oferece e o que o homem está disposto a pagar, que transformam Peniche na única paragem europeia do calendário do circuito principal da Liga Mundial de Surf (World Surf League), estatuto conquistado a partir de 2022 depois de anos a fio a partilhar palco com as praias do sudeste francês.
Em Supertubos, além das ondas tubulares, a possível mobilidade do evento — Molhe Leste, Lagido e Belgas — contribuiu para fixar Peniche como palco de eleição exclusivo a nível europeu de uma competição que, nas restantes nove etapas, viaja pela América do Norte (Havai e Estados Unidos), América Central (El Salvador), América do Sul (Brasil), Oceânia (Austrália e Fiji) e Polinésia Francesa (Taiti).
«Desde 2009 o surf conheceu uma evolução em números de audiência e em participação é dos poucos desportos que está a subir dois dígitos todos os anos», começou por explicar Francisco Spínola, presidente da World Surf League (WSL) para a Europa, África e Médio Oriente.
A profissionalização crescente e a explosão dos números «criou maior concorrência» entre os destinos que procuram estar no mapa das competições «e a França perdeu a prova exatamente porque não conseguiu acompanhar as exigências da organização a nível de investimento que são necessárias», sintetizou Spínola, empresário português e dono da Ocean Events, empresa responsável por ter estacionado há 15 anos uma etapa do circuito de elite do surf mundial na baía piscatória da zona Oeste.
‘prize-money’ ronda um milhão
«Uma prova destas custa 3,5 milhões de euros», revela, sem meias medidas. «Só o prize-money total de homens e mulheres ronda um milhão de euros», adiantou ainda. A distribuição dos dinheiros aos surfistas mereceu uma explicação extra por parte de Francisco. «Homens e mulheres recebem igual prémio, mas este não é dividido ao meio. Há mais dinheiro a ser distribuído por homens, 36 surfistas, do que mulheres, 18, por causa do número de atletas em prova», esclareceu.
Celebrar bodas de cristal
O pedido para etapa de Supertubos foi concretizado em 2009, à boleia de uma licença. Passado com distinção no teste da WSL para aferir da qualidade da onda e da recetividade internacional, nacional e local ao evento, no ano seguinte assegurou o estatuto de etapa permanente do Circuito Mundial ASP antecessora da WSL.
Em 2010, a prova portuguesa dispôs de um orçamento de 1,6 milhões de euros, divididos em milhão de euros de produção do evento, aos quais acresceram os prize-money da competição masculina (400 mil dólares, cerca de 300 mil euros) e feminina (100 mil dólares, cerca de 75 mil euros), segundo dados revelados na altura.
Hoje, passados 15 anos, os valores mais que duplicaram. «Estamos a falar de apoios públicos — Turismo de Portugal e Câmara Municipal de Peniche e organismos públicos — que não chegam a 15 por cento desses 3,5 milhões», detalhou Francisco Spínola. «O resto é privado e em que quase 30 por cento vem do investimento privado local, MEO e empresas angariadas em Portugal e o restante da angariação da nossa equipa a nível internacional», pormenorizou.
«Paga-se a si mesmo»
«Só o impacto direto de impostos, sem receber qualquer investimento, o que o evento gera em termos fiscais é maior do que é investido pelos organismos públicos», conta. O prize-money, cerca de 230 mil, é retido na fonte e desses 2,5 milhões de euros restantes usados na produção, 1,3 milhões são fornecedores portugueses. Logo, 23 por cento de IVA fica em Portugal», aditou.
«É um evento que logo aí se paga a si mesmo. E isto assumindo que não trazia uma noite de hospedagem que fosse. Estamos só a falar de produção e investimento direto da etapa. Tudo o resto, os milhões que gera na economia local, todos esses negócios pagam impostos, IVA e IRC. Em termos fiscais é um bom negócio para o país», destacou.