Atriz faz parte do elenco do filme «Cândido - O Espião que veio do Futebol»

Supertaça Cândido de Oliveira: a homenagem do futebol ao Mestre dos mestres

A Supertaça, criada em 1979 e oficializada em 1981, levou desde a origem o nome de um dos fundadores de A BOLA, cujo legado no desporto e, em particular, no futebol portugueses faz sempre sentido recordar

Futebolista, treinador, jornalista, funcionário dos correios, espião ao serviço dos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial. Cândido Plácido Fernandes de Oliveira, nascido a 24 de setembro de 1896 em Fronteira, distrito de Portalegre, foi um homem multifacetado e à frente do seu próprio tempo. Por Portugal fora existem pelo menos dez ruas e um estádio (justamente em Fronteira) com o nome dele. E existe também uma competição de futebol, algo que a nível oficial apenas neste caso sucede.

Quando, em 1979, a Federação Portuguesa de Futebol decidiu replicar, no verão, um jogo havido em 1944 entre o campeão nacional e o vencedor da Taça de Portugal da época anterior para inaugurar o Estádio Nacional (Taça Império, então disputada por Sporting e Benfica, com vitória dos leões, campeões em título, por 3-2), ficou desde logo decidido que a nova prova se chamaria Supertaça Cândido de Oliveira. Foi oficiosa nas duas primeiras edições (embora os títulos sejam contabilizados como oficiais) e passou a fazer parte dos regulamentos federativos a partir de 1981.

Vinte e um anos após a morte de Cândido de Oliveira, o futebol português homenageava devidamente um dos três fundadores de A BOLA — os outros foram Ribeiro dos Reis e Vicente de Melo. Embora a criação do jornal seja considerada entre as mais importantes obras do Mestre dos mestres, não foi a única. Depois de ter jogado futebol na Casa Pia, que frequentou, e no Benfica, cujo interesse a sua habilidade despertou, Cândido foi um dos entusiastas que criou o Casa Pia Atlético Clube, cuja SAD disputa, atualmente, a Liga portuguesa.

Foi o primeiro capitão da Seleção Nacional, em 1921, contra a Espanha, num jogo em que os portugueses alinharam de preto justamente devido ao empréstimo de equipamentos por parte do Casa Pia. A relação com a FPF foi longa e profícua. Ao todo, Cândido de Oliveira trabalhou como treinador e/ou Selecionador Nacional durante 15 anos, em três intervalos de tempo intercalados. Era ele o reponsável da equipa das Quinas quando Portugal teve a sua primeira representação internacional, nos Jogos Olímpicos de Amesterdão de 1928.

Como treinador representou ainda Belenenses, Sporting, Flamengo, FC Porto e Académica, por esta ordem. Ao serviço dos lisboetas conquistou dois campeonatos nacionais e duas Taças de Portugal.

Enquanto se dedicava ao desporto e à colaboração em jornais, prosseguia carreira de funcionário dos correios. Terá sido nesta qualidade que ajudou os serviços secretos ingleses durante a Segunda Guerra Mundial, numa Lisboa que era então uma autêntica placa giratória de espionagem internacional. É pelo menos sob essa acusação que é detido pela PVDE (antecessora da PIDE), torturado e posteriomente deportado para o campo de prisioneiros do Tarrafal, em Cabo Verde. Já depois de regressar e fundar A BOLA, haveria de escrever um livro cujo título ainda hoje é utilizado como um dos cognomes desse campo de concentração: O Pântano da Morte.

Libertado do pântano em 1944, mas impedido de retomar o lugar nos correios, preparou então a aventura de A BOLA com os dois companheiros. Foi ao serviço de A BOLA que morreu, durante o Mundial de 1958, na Suécia. Há testemunhos de que na viagem, que fez de carro, um vidro se partiu. Cândido continuou o percurso. Era preciso prosseguir a missão de jornalista, quiçá a que mais o apaixonou. Contraiu uma pneumonia que viria, depois, a estar na origem da morte.

Quase 130 anos após o nascimento em Fronteira, é devidamente recordado pelo menos duas vezes por ano: na realização da Supertaça Cândido de Oliveira e, claro, a cada 29 de janeiro que se celebra desde o primeiro número de A BOLA, datado de 1945.