Sudakov, dois golos e uma assistência em quatro jogos pelo Benfica - Foto: Miguel Nunes
Sudakov, dois golos e uma assistência em quatro jogos pelo Benfica - Foto: Miguel Nunes

Sudakov precisa de amigos

Internacional ucraniano é peça única no plantel agora orientado por José Mourinho e mesmo a ajuda de Lukebakio pode ser curta para um Benfica sem identidade vincada

Foi com José Mourinho que o Benfica empatou com o Rio Ave, mas no banco podia perfeitamente estar Bruno Lage, ou mesmo Roger Schmidt, que as dificuldades não são novas. Rui Costa contratou o melhor treinador português de sempre, não um milagreiro, ainda para mais se falamos de ataque posicional. Será preciso tempo para ver o dedo de Mourinho, mas o problema maior não está nos dias disponíveis para treinar, antes no perfil dos jogadores para jogar.

É indiscutível que o Benfica tem opções mais do que suficientes para jogar melhor e atacar o título, mas continua também evidente que o plantel tem carência de jogadores que assumam influência clara na definição. Desde logo na definição da identidade da equipa, que deveria estar alinhada com a identidade do clube.

Sudakov e Lukebakio, contratados nos últimos dias do mercado de transferências, podem combater esta limitação crónica, como mostraram na construção do golo frente ao Rio Ave, mas ainda assim parece curto, ainda para mais se tivermos em conta o registo intermitente de Schjelderup e Prestianni.

O Benfica tem apenas um jogador verdadeiramente capaz de receber a bola dentro de blocos defensivos recuados e compactos: é precisamente o internacional ucraniano contratado ao Shakhtar Donetsk. Mesmo Lukebakio, cuja estreia gerou o mesmo entusiasmo que geraria água fresca no deserto, é um jogador que desequilibra por fora. Ajuda, claro, ao dar a verticalidade que também escasseia, mas não deixa de ser essencial, nestes contextos, conseguir minar a estratégia do adversário por dentro. Pavlidis e Ivanovic não são avançados de ligação, muito menos com espaços reduzidos; Ríos nunca foi médio de inventar espaços, antes de aproveitá-los.

Aursnes, esse sim, tem capacidade para pensar o jogo do Benfica, mas anda destacado para outras missões, como quase sempre. No próximo jogo até pode ser chamado a compensar a ausência do castigado Enzo Barrenechea, mas talvez valha a pena começar a questionar a titularidade de Ríos, que tem estado ainda mais discreto do que o argentino.

É bem possível que José Mourinho encontre forma de contornar esta limitação, com tempo, mas talvez seja importante alguém levantar o tapete à procura de uma identidade aparentemente perdida. Definir como deve o Benfica jogar, para depois escolher quem deve estar no Benfica a treinar e quem deve estar no Benfica a jogar.