É dia de jogo
No Domingo (anteontem), fui a Alvalade com o Pedro e o João. Tinha-lhes prometido que faria o que pudesse para conseguir levá-los ao estádio no primeiro jogo da época em casa sabendo que, provavelmente, seria o último jogo a que conseguiria acompanhá-los antes do nascimento da irmã.
Eles andavam loucos com o Alvalade 2.0, viam em repetição os vídeos publicados pelo Sporting e eu senti realmente que os miúdos mereciam o meu esforço — e sim, acreditem que com sete meses de gravidez e com lugares na fila 34 do sector B32, foi mesmo preciso muito esforço.
Ainda confessei a um senhor, enquanto subia as escadas para o lugar, que estava a ver jeitos de a Teresa nascer mesmo ali o que, sendo bonito pelo simbolismo, seria perigoso pela prematuridade. Ele, a rondar os setenta anos, sorriu para mim e respondeu-me 'antes aqui do que num passeio no meio da rua'. E eu vi-me obrigada a concordar.
Aliás, só não continuei a conversa porque já estava naquele ponto em que o ar escasseava. Mas sabem o que é que me deixou realmente revoltada? A quantidade de cadeiras vazias, em zonas muito mais acessíveis para alguém na minha condição, num estádio que, supostamente, estava esgotado.
Reparem, não fui parar à penúltima fila do estádio por opção ou sequer por uma questão financeira. Fui porque, mesmo tendo começado a tentar a compra dos bilhetes mal foram postos à venda, aqueles foram os únicos três lugares seguidos que consegui encontrar. Imaginem então o meu espanto quando o speaker do clube informou que éramos quarenta e um mil e poucos em Alvalade. Juro que me deu vontade de gritar 'mas como é que os bilhetes estavam esgotados se, afinal, nem chegamos a quarenta e dois mil cá dentro?'.
E só não gritei porque a resposta era óbvia: bastava olhar em volta para perceber clareiras de lugares vazios num jogo onde Alvalade estava repleto de famílias de emigrantes a aproveitar o único mês em que podem ver o seu clube jogar em casa.
Pergunto-me quantas não terão ficado de fora, sem oportunidade de voltar esta época, para que tantas cadeiras ficassem vazias. E não entendo, confesso, como é que o clube não age para corrigir esta situação de uma forma eficaz. Percebo a ideia do Gameback (possibilidade de os sócios com Gamebox poderem colocarem o seu lugar à disposição para um jogo específico sendo que, se o lugar for vendido, recebem uma parte do valor da venda em carteira que podem depois usar na Loja Verde), mas continuo a achá-la demasiado ingénua e sem apelatividade suficiente para, de facto, surtir grandes efeitos práticos. Aqui, neste ponto, o Benfica funciona bastante melhor uma vez que a cedência do Red Pass através da App do clube é fácil e muito prática.
Mas adiante, deixem-me dizer-vos que antes do jogo, quando fui comer qualquer coisa com os miúdos na Alvaláxia, senti mesmo alívio por termos, finalmente, readquirido aquele espaço que, actualmente, além de mal aproveitado e descuidado funciona de forma vergonhosa. Cada um dos dezassete milhões de euros gastos a trazer de volta o espaço para o clube como, aliás, tinha sido decidido por 96,09 % dos sócios em Assembleia Geral em 2024, foi bem gasto.
E acreditem que nem falo por questões de plano estratégico ou pela ideia bonita da Cidade Sporting. Falo mesmo porque tanto o espaço como os serviços oferecidos são, neste momento, absurdamente maus. Tudo no espaço Alvaláxia tresanda a poucochinho o que é incompreensível num lugar com aquele potencial. Oferta cultural? Zero! Entretenimento? Zero! Lojas e restauração? Tudo de baixíssima qualidade. Opções para crianças?
Há lá uma daquelas máquinas em forma de trenó do Pai Natal onde metemos um euro e os miúdos andam três minutos a baloiçar enquanto ouvem uma música natalícia em pleno Agosto. Como costumava dizer a minha avó 'chega a ser um dó de alma'. Neste momento, em vez de ser um espaço que convide ao convívio, Alvaláxia é um espaço que convida a sair depressa e, de preferência, sem olhar para trás.
Recuperar Alvaláxia é recuperar algo que nunca devia ter deixado de pertencer ao Sporting. Além de que, e sobre isto não tenho quaisquer dúvidas, este espaço, se bem pensado, aproveitado e gerido, pode mesmo aumentar de forma significativa as receitas do clube.
Mas voltando ao dia de Domingo, e mesmo sabendo que este é um jornal lido esmagadoramente por homens, não consigo não falar de outro aspeto que me deixou negativamente surpreendida: prioridade para grávidas nas filas de entrada no estádio é coisa que, segundo dois dos seguranças de serviço na porta 5, não existe. Está grávida, com calor e pés inchados? Mete-se na fila como os outros seja para esperar uma, duas ou três horas. E sim, gravidez pode não ser doença (sendo que, em alguns casos, até é), mas esperar horas de pé? Não é por acaso que as grávidas são prioritárias nos atendimentos, acreditem. Pela parte que me toca fui sentar-me num banquinho e só entrei no estádio quando a fila encurtou consideravelmente. Se morri? Não. Mas parece-me muito pouco decente, confesso.
Quanto ao jogo em si, juro que, a determinado ponto, comecei a ter pena do Arouca que, claramente, entrou em Alvalade para disputar o jogo pelo jogo e saiu completamente cilindrado. Depois do segundo golo do Sporting e de o Arouca ficar reduzido a dez, o jogo passou a acontecer apenas num sentido e a única dúvida que se colocava era a quantos chegaríamos no marcador. Foram seis. Mas podiam ter sido mais, nomeadamente se Harder, que claramente anda desesperado por golos, não tivesse tentado fazer tudo sozinho. Ainda assim, confesso, não critico o jogador. É um miúdo, provavelmente sente-se pressionado para mostrar o seu valor, e não vê outra coisa se não a baliza. Espero que apareçam depressa os golos de que precisa para se acalmar porque, apesar de ter muito para crescer, a garra e o potencial estão claramente lá.
Os meus filhos saíram de Alvalade em festa. Até a Teresa, na barriga, parecia estar a celebrar (estive quase a mostrar-lhe cartão amarelo tal não foi a intensidade dos pontapés).
O sono derrotou-os no carro menos de dez minutos depois de termos abandonado Alvalade. Mas os sorrisos que traziam gravados no rosto? Oxalá lhes durem a época inteira.
Foi dia de jogo. E nós estivemos lá.