O conforto dos 'spoilers'
Nunca me importei muito com spoilers. Em pequena procurava (ok, até há pouco ainda tentava) o maior de todos: os esconderijos das prendas de natal a fim de espreitar o que aí vinha na noite de 24 de dezembro, depois de sofrer ao jantar com o bacalhau cozido, as couves cozidas, as batatas cozidas e toda a humidade daí resultante. A satisfação era a mesma, como se fosse surpresa. Um reencontro.
Ainda hoje, com a maior parte de séries ou filmes, não me importo de saber de antemão os plot twists para depois ver como tudo foi filmado e acontecem mesmo as surpresas. Com a internet e um crítico e um detetive em cada conta de redes sociais, é quase impossível fugir-lhes: basta lembrar-me como há anos, num inocente scroll de Instagram, vi como um ator se transformava num monstro na cadeira de maquilhagem, ficando assim estragada a grande revelação da quarta temporada da série Stranger Things. Quem vê sabe de quem falo. Agora, por pura sorte (e porque também não procurei) três dias depois da estreia dos episódios na Netflix, vi tudo sem spoilers. Novos episódios estrearão no natal, por curiosidade.
Por tudo isto não me importei de ver, depois de tudo finalizado, o desempate de penáltis da Seleção sub-17 frente ao Brasil, para garantir a passagem à final do Mundial da categoria. Recebi a notificação do resultado do jogo no telefone – lá está, difícil fugir – mas depois sentei-me no sofá, puxei na caixa para trás e apenas apreciei, com aquela sensação de conforto de quem sabe o que aí vem. O sangue-frio de todos os rapazes, a coragem do guarda-redes Romário Cunha em ser logo o quinto a rematar e, mesmo quando falhou, a calma perante uma equipa brasileira que já tinha superado dois desempates por penáltis na competição (e ainda o fez para o terceiro lugar). Foi com spoilers mas também com emoção, rapazes!
A final já foi em direto, mas com tv sem som, para manter algum suspense. O golo de Anísio Cabral - será que chega a estrear-se na equipa principal do Benfica antes de ser vendido para um PSG? - selou uma tarde épica e foi mesmo um presente que nem foi preciso embrulhar.