Estádio Aviva, em Dublin (IMAGO)
Estádio Aviva, em Dublin (IMAGO)

Seleção entra num palco especial para Portugal e com 153 anos de história

Construído no local do mítico Lansdowne Road, o Aviva Stadium (Arena Dublin para as competições UEFA) é a casa das seleções irlandesas de futebol e de râguebi

O entusiasmo em torno do encontro que pode apurar Portugal para o Mundial 2026 (em caso de vitória ou de empate, isto se a Hungria não vencer a Arménia) começou mais de 36 horas antes do apito inicial desta noite, no Aeroporto Humberto Delgado.

A madrugada não impediu alguns portugueses de já envergarem cachecóis, chapéus e camisolas com os nomes de Cristiano Ronaldo e do malogrado Diogo Jota, enquanto aguardavam pelo primeiro voo do dia com destino a Dublin. Serão parte da pequena falange portuguesa que quererá fazer frente aos muitos milhares de irlandeses que vão encher um estádio recheado de história.

Casa aberta

Aninhado numa curva junto ao Rio Dodder – um dos três principais rios de Dublin – ergueu-se em 1872 o estádio conhecido por Lawsome Road, com um objetivo multidesportivo: tinha pistas para atletismo, um clube de ténis, campos de futebol, râguebi, croquet e um para arco e flecha. Mas foi o râguebi que se instituiu como o desporto mais popular neste recinto, que se tornou propriedade da Federação Irlandesa desta modalidade no início do século XX.

Antiga bancada de Lawsome Road (Foto: Aviva Stadium)

O local ganhou relevância social e política através do desporto: em 1965, a seleção de râguebi da África do Sul aqui veio, para jogar com a seleção da casa, mas sobretudo para aumentar a conscientização para os problemas que o Apartheid trazia para o país africano.

Já em 1973, durante o período sensível conhecido como The Troubles – violentos conflitos que envolviam a luta do IRA (Irish Republican Army) que tinha o objetivo de terminar com a soberania britânica sobre a Irlanda do Norte e pretendia unir este território à restante Irlanda – a seleção inglesa de râguebi foi jogar a Lawsome Road contra a Irlanda. E recebeu uma ovação de pé dos adeptos irlandeses.

Futebolisticamente falando, foi aqui que a Irlanda viveu uma das suas maiores vitórias, quando em 1987, Lawsome Road foi palco de um triunfo irlandês frente ao Brasil, com um golo solitário de Liam Brady.

Relevância no futebol português

Lawsome Road foi demolido em 2007 para dar espaço ao surgimento de um novo e moderno estádio, apto para o século XXI: o Estádio Aviva, ou Dublin Arena, se hoje em dia se tratar de um jogo de uma competição UEFA. E a primeira grande montra de exibição que o novo estádio teve foi também um dia histórico para o futebol português: a 18 de maio de 2011, FC Porto e SC Braga enfrentaram-se na fina da Europa League – a primeira e última vez que duas equipas portuguesas se encontraram na final de uma competição europeia.

Nesse dia em Dublin, o 17.º golo de Radamel Falcao naquela edição da prova foi suficiente para os comandados de André Villas-Boas baterem os de Domingos Paciência (1-0). E assim, o Aviva Stadium foi palco de um momento inédito para o futebol português, como também do último triunfo europeu de qualquer clube lusitano desde então.

Último duelo colocou tudo em risco

A equipa das Quinas por aqui só jogou na Dublin Arena por uma vez e confirmou o enguiço que se formou nos jogos que realiza na Irlanda, onde nunca venceu.

Foi na fase de apuramento para o último Mundial, há praticamente quatro anos exatos (11 de novembro de 2021) que os portugueses empataram a zero com os irlandeses.

Pepe e Portugal não foram felizes na Irlanda em 2021 (IMAGO)

Cinco jogadores que também integram a convocatória atual foram titulares nesse duelo: Nélson Semedo, Diogo Dalot, Matheus Nunes, João Palhinha e Cristiano Ronaldo. Bruno Fernandes também figurou no 11 inicial, mas está fora do encontro de hoje por castigo.

Rafael Leão, João Félix (suplentes utilizados nesse jogo), Diogo Costa, João Cancelo, Rúben Dias e Rúben Neves (não saíram do banco) foram os outros atletas que, quatro anos depois, voltam a este estádio com a Seleção.

No último jogo na Irlanda, Ronaldo deu a camisola a uma criança (IMAGO)

Esse resultado obtido há quatro anos até teve consequências quase desastrosas para Portugal.

Isto porque, fruto deste empate, a equipa então treinada por Fernando Santos chegou à última jornada da fase de grupos empatada com a Sérvia, que era também o adversário nesse duelo decisivo. E a verdade é que no Estádio da Luz, Portugal levou com um balde de água fria aos 90’ quando Aleksandar Mitrovic fez o golo da vitória sérvia (1-2).

«Se não for apurado no play-off, sairei por minha iniciativa», disse então Fernando Santos após o encontro. Para chegar ao Mundial, Portugal teve assim de disputar um play-off de apuramento, primeiro com a Turquia (ganhou 3-1) e depois com o vencedor do Itália-Macedónia do Norte. Mas o previsível encontro com os italianos não aconteceu porque os macedónios venceram em Palermo, antes de perderem em Portugal o encontro decisivo.

Resumindo, há quatro anos, Portugal veio à Irlanda no 1.º lugar de um grupo de apuramento para o Mundial e na penúltima jornada dessa fase, não ganhou. Fantasmas que não se querem revisitar, porque é o desejo de todos, no seio da Seleção, acabar com esta maldição de nunca ter vencido um encontro oficial na Irlanda (quatro jogos, duas derrotas e dois empates) e terminar a noite a celebrar a ida de Portugal ao sétimo Mundial de forma consecutiva, o nono na história.