Ricardo Pessoa e o jogo da Taça frente ao Sporting: «Era o melhor dos últimos anos»
- Deixou o Lusitânia dos Açores para rumar ao Portimonense, onde fez quase toda a carreira de jogador. Como foi esse regresso?
- Regressar ao Portimonense é sempre uma sensação especial porque praticamente passei lá toda a minha carreira de jogador, iniciei lá a minha carreira de treinador como adjunto. Poder treinar o meu clube é sempre um sentimento especial e único. Era um dos meus objetivos e felizmente consegui concretizá-lo.
- As coisas não estavam a correr bem quando chegou. Como encontrou o plantel e o clube?
- A estrutura do clube tem vindo sempre a crescer de há uns anos para agora. Dá todas as condições para jogadores e treinadores poderem trabalhar, condições acima do normal. Obviamente, quando pegamos numa equipa que não tem resultados tão positivos, é normal que possa haver alguma descrença. Isso aconteceu-me enquanto jogador sempre que houve trocas de treinador. Mas depois as coisas foram-se modificando. Nesse momento, pretendemos que a equipa volte a ter alegria. Mas estávamos numa fase inicial da época, só com três jornadas do campeonato.
— Foi-lhe logo dado o objetivo da luta pela permanência?
— Sim. O objetivo inicial do clube era subir divisão, mas quando eu cheguei, o objetivo era a manutenção. A época foi decorrendo e fomos mantendo esse objetivo. Conseguimos alcançá-lo. A segunda liga é um campeonato extremamente competitivo, muito difícil. Tornou-se ainda mais difícil nos últimos anos, vê-se que mais de 50% das equipas preparam-se para lutar pela promoção. E foi um dos campeonatos mais difíceis que eu presenciei. Por isso, depois de todos esses momentos, garantir a manutenção era o objetivo final.
— O Ricardo foi o treinador do Portimonense no jogo da Taça de Portugal que terminou com derrota por 1-2 frente ao Sporting. Como é que se prepara uma equipa, como é que se controla a euforia, para um jogo desses?
— Nós tínhamos um plantel muito jovem, com muitos jogadores que ainda não tinham defrontado uma equipa grande. Lembro-me que, para esse jogo, fui buscar, por exemplo, o Diogo Ferreira, que ainda não tinha qualquer minuto, nem sequer na Segunda Liga, aos sub-23, e foi titular nesse jogo. Teve um belíssimo desempenho. Tinha o Camilo Durán, que tinha sido meu jogador, e que tinha passado do Campeonato de Portugal para a Segunda Liga, mas nunca tinha jogado com um grande. Tinha o Varela, que estava no Pêro Pinheiro, e que também nunca tinha jogado com um grande. Para esses jogadores, é normal que haja uma euforia extra, diferente. Mas o Portimonense vinha de várias épocas na Primeira Liga, É normal, estando na segunda liga, que esse fator da emoção, da adrenalina, esteja presente.
Aquilo que tentamos fazer é trabalhá-lo como se uma semana normal de campeonato com um outro adversário, porque respeitamos todos os adversários da mesma forma, para que não passássemos para os jogadores a ideia de que estávamos a fazer algo diferente e a colocar-lhes ainda mais pressão por estarmos a trabalhar um jogo contra o Sporting. Sou da opinião de que devemos manter sempre os nossos métodos, independentemente do adversário, para que não criemos esse fator extra de pressão. Foi simplesmente isso que fizemos. Claro que o Sporting era o melhor Sporting dos últimos anos, uma equipa que eu acredito que, se não tivesse tido a troca de treinador, provavelmente era campeã em praticamente em janeiro ou fevereiro, porque eram avassaladores. Tivemos as dificuldades que tivemos com o Sporting, mas ao mesmo tempo conseguimos criar e levar o jogo quase para o prolongamento.
— Como sentiu, no banco, o momento do 1-1 e, depois, o 1-2?
— Recordo-me que fazemos o 1-1 e pouco depois temos mais uma aproximação muito perigosa à baliza do Sporting. Sentimos nesse momento que o Sporting… não é que tenham tremido, mas aquela sensação de «temos o jogo na mão, sofremos um golo e a equipa que joga numa divisão inferior vai galvanizar-se», e foi isso que aconteceu. Nós temos uma aproximação muito perigosa e sofremos um golo logo de seguida, numa aproximação em que perdemos a bola no nosso setor ofensivo junto à bandeirola de canto. No contra-ataque houve falta de experiência. Tivemos três oportunidades para matar a jogada com uma falta, olhar para o placar e perceber que estivemos a 15, 20 segundos de levar o jogo para prolongamento. Foi rapidamente um momento de adrenalina, de muito contentamento, para, de repente, baixarmos os nossos índices, porque não tínhamos tempo para responder ao jogo do Sporting.
— O que disse no balneário depois do jogo?
— Tentei passar que, antes desse jogo, não vínhamos de resultados positivos. E aquilo que os jogadores fizeram com o Sporting, se o fizeram com o Sporting, têm de ter a capacidade de o poder fazer com equipas, neste caso, da Segunda Liga. Pedi para agarrarem naquele jogo, olharem para aquilo que de bom fizeram e transportarem para campeonato. Acabámos por atravessar a nossa melhor fase até à altura de janeiro.