Rui Águas discorda em absoluto do golo anulado a Richard Ríos no SC Braga-Benfica
Rui Águas discorda em absoluto do golo anulado a Richard Ríos no SC Braga-Benfica - Foto: IMAGO

Rastreio ocular

Visão de golo é o espaço de opinião de Rui Águas, treinador e antigo avançado internacional português

Em Braga, aconteceu um desafio interessante, em ambiente de jogo grande e com períodos de domínio repartido de alta intensidade. Encontro sem dúvida difícil de dirigir, dado o ritmo e a importância do duelo, mas com a arbitragem, mais uma vez, como triste protagonista e pior equipa em campo. Desta vez, nem foi questão de intensidade, nem de interpretação, só a incompetência levada ao extremo.

Aquilo a que temos assistido justifica uma reciclagem urgente dos árbitros nacionais. Verificar a saúde ocular, rever as regras e visionar a arbitragem de outros campeonatos poderia ser útil. Ao mesmo tempo, o árbitro é o máximo responsável pelo jogo e dá a cara, não devendo ser refém da inércia ou tendência de quem avalia sentado, com meios técnicos que supostamente lhes permitem decidir melhor. Até algo ser feito, VAR à parte, a nossa arbitragem continua a arrastar o seu perfil decadente de muito apito e pouco acerto.

Futebol

Voltando ao jogo vibrante e competitivo que vimos, o que de mais saudável e verdadeiro se viu foi um par de grandes golos de bola corrida. O golo de Pau Victor é espetacular, de puro talento em pouco espaço e controle absoluto no drible até à finalização. O remate de Ausrnes também é um momento especial. De fora da área e quase sem balanço, só poderia resultar em golo se fosse muito puxado a um canto. O último instante para definir o lado para onde rematar é uma das valias que diferenciam o remate do médio do Benfica e que retardam a resposta de quem defende.

Em relação ao penálti, nada a dizer. Segue o atual critério absurdo da bola no braço, em que qualquer jogador que tenha a necessidade de saltar está sujeito a cometer falta. Ou então não se salta, porque quem já saltou sabe que a elevação normal se faz com a ajuda dos braços. Mas, neste caso, não é culpa dos nossos árbitros. O mal é de quem mudou a lei, que ainda se espera um dia poder ser revertida.

A responsabilidade de Dahl nesse lance, que curiosamente podia ter sido atenuada pelo golo limpo que marcou, é posicional e não gestual. O jovem defesa estava demasiado aberto na altura do cruzamento, abrindo espaço exagerado entre si e Otamendi. Esse espaço foi explorado pela desmarcação de Dorgeles e pelo cruzamento perfeito de Zalazar, o melhor jogador do SC Braga.

A anulação do terceiro golo do Benfica é ridícula, envergonhando, mais uma vez, a nossa atrofiada arbitragem. Consegue ultrapassar o escândalo da final da Taça, só não foi tão violento. Não é um simples erro e fica difícil não pensar em má fé.

Critério tático

A opção pela saída a jogar curto desde a própria baliza, no futebol atual vem dividindo os observadores e percebe-se porquê... A propósito desta tendência, a designação identidade própria é algo que muitos treinadores gostam de assumir ter, com indisfarçável orgulho. Falhamos e perdemos, mas temos a nossa identidade.

A vida é bela, mesmo na derrota... Personalidade ou ingenuidade? Em caso de dúvida é insistir ou aliviar? Devemos correr o perigo de sofrer golo, ou jogar longo e poder ganhar a segunda bola? Entretanto, o maior ou menor êxito desta opção tática, dependerá sempre, e muito, da qualidade dos executantes e também da expressão do pressing contrário. É desta relação que deve resultar o critério e a decisão do possuidor da bola. Na saída de bola a gestão é feita ao momento, e muitas vezes mal medida, o que origina frequentemente verdadeiros autogolos que levam a derrotas.

Critério e medição do risco é um desafio atual para quem joga e para quem treina e procura ganhar. Definir um nível máximo de risco não é possível, por não ser mensurável, tal a diversidade e dinâmica que o jogo representa. Têm a palavra os treinadores e os portadores da bola.

Irmandade

Os tempos são hoje bem diferentes daqueles que vivi no futebol profissional. A organização e o rigor são incomparáveis. O departamento clínico tem importância prioritária na saúde das equipas, na defesa dos atletas e do seu rendimento.

O conhecimento médico mais específico é algo que, naturalmente, o treinador não domina. No entanto, em relação a algumas lesões, alguns treinadores acabam por reter, pela sua experiência, algumas noções básicas do eventual estado físico de um qualquer atleta.

As lesões mais graves, quando acontecem, não deixam dúvidas, nem mesmo aos leigos, mas no restante existe uma infinidade de maleitas difíceis de avaliar por amadores. Os jogadores que passam mais tempo lesionados criam, normalmente, laços com os massagistas ou fisioterapeutas, elementos com quem passam mais tempo e em quem depositam as suas esperanças.

O acompanhamento e apoio psicológico regular desses importantes parceiros é também fundamental e algo que o atleta precisa para a sua plena recuperação. Recordo sempre as operações a que fui submetido e o apoio que recebi, passo a passo, quer no Portimonense, quer no Benfica.

Quanto às lesões mais complicadas, como as de Bah e Manu, contraídas exatamente no mesmo jogo, são exemplo de como imprevisível pode ser a respetiva recuperação. Depois de um longo processo, haver um recuo por qualquer razão é altamente frustrante para o atleta afetado. Manu já regressou, mas quanto a Bah, espera ainda por melhores dias.