Rafael Nadal em Lisboa: «Não temos de odiar os nossos adversários»
Rafael Nadal, uma das maiores figuras da história do ténis mundial, foi a figura de destaque do VTEX Connect Lisboa, evento promovido pela empresa VTEX, especializada em comércio digital, que teve lugar esta terça-feira no Pavilhão Carlos Lopes. Ao longo de cerca de 50 minutos, o vencedor de 22 torneios do Grand Slam falou sobre os altos e baixos da carreira, numa conversa que recaiu sobre a forma como o tenista recuperava dos momentos mais difíceis, a forma como viveu a rivalidade com Federer e Djokovic e o futuro.
Questionado sobre o ponto que escolheria reviver, Nadal escolheu aquele que lhe deu o penúltimo torneio do Grand Slam da carreira, que garantiu a conquista do Open da Australia de 2022. «Foi um dos últimos anos em que consegui ser competitivo. Foi inesperado, porque recuperei de uma lesão muito longa. Fomos a Austrália com poucas expectativas. Mas, por ganhar na final, por recuperar de dois sets de desvantagem, por essa energia que senti, escolheria esse ponto», começou por explicar.
You won't see better celebrations than this on a tennis court 🙌
— Cycling on TNT Sports (@cyclingontnt) January 11, 2025
Rafa Nadal delivered the 𝐔𝐋𝐓𝐈𝐌𝐀𝐓𝐄 comeback to win the 2022 Australian Open 🇦🇺🏆 pic.twitter.com/djdylDUv4h
«Sempre senti que as desculpas não ajudam a ser melhor», prosseguiu Nadal. «Quando procuras a razão para perder um jogo, podes sempre arranjar desculpas, mas não te ajudam a preparar a próxima vez. Só servem para um sentimento de alívio momentâneo. Não há outra solução que não trabalhar mais, com a atitude e a mentalidade certas e a ouvir as pessoas que te tentam ajudar», afirmou o tenista, que garantiu que o acompanhamento da equipa foi um fator-chave para o crescimento: «Para ter sucesso, é preciso estar desconfortável. É preciso passar por momentos difíceis, sofrer, ter dúvidas, ouvir coisas que não queremos ouvir. Fui humilde o suficiente para dar a oportunidade à minha equipa para dizer sempre o que eu não queria ouvir.»
«Há muitas distrações hoje em dia»
Rafael Nadal não deixou o mundo do ténis. Continua a acompanhar a modalidade e tem várias academias espalhadas pelo mundo. Mas há coisas que mudaram. «Há muitas distrações hoje em dia. Quando eu era mais novo, havia muito menos distrações. Há muitas questões hoje, tudo muito rápido, é difícil para as gerações mais novas estarem 100% concentradas. Vejo-o nas minhas academias, os miúdos têm demasiadas opções, é mais difícil ouvirem», analisou.
«Não temos de odiar os nossos adversários»
Nadal fez parte do trio histórico do ténis dos últimos anos, juntamente com Novak Djokovic e Roger Federer. Uma rivalidade que, afirmou, nunca teve qualquer «ódio». «Não temos de odiar os nossos adversários. Sempre tive muito respeito pelos meus maiores rivais. Entendíamos que, no final de contas, era só um jogo. A relação pessoal vai para lá disso. Eu, o Roger, o Novak, o Andy [Murray], fomos os maiores rivais mas nunca nos odiámos. Competimos de forma muito saudável e é algo que nos orgulha», afirmou o tenista.
Essa rivalidade foi, e ainda é, motivo de orgulho para Nadal. «Fomos parte de um período muito especial, três jogadores da nossa geração venceram 24, 22 e 20 Grand Slams. As nossas rivalidades eram cada vez mais fortes, ano após ano. Mas aceitámos essa rivalidade de forma positiva», ressalvou. «Claro que queríamos ser os melhores, fomos ao limite, mas de forma positiva. O Roger, por exemplo, o Roland Garros 2009 depois de ter estado nas finais de 2007 e 2008. Ele conquistou o título e fiquei muito feliz por ele. E com o Novak também, fiquei muito feliz por ele ter vencido os Jogos Olímpicos do ano passado. Alcançámos os sonhos que tínhamos, não nos podemos queixar. Competimos de forma positiva e isso deixa-me muito feliz.»
Uma mensagem positiva que passou para a nova geração de astros do ténis. «O nosso legado inspirou as novas gerações na forma como se tratam uns aos outros. vemos, por exemplo, o Carlos Alcaraz e o Jannik Sinner, lutam pelos maiores títulos durante o ano e não se odeiam. No passado, víamos isso, os rivais odiavam-se. Era engraçado, criava interesse, mas não era a mensagem certa para a nova geração. Passámos isso à nova geração, que se comporta da forma que acho que é correta», completou.
É preciso ter paixão para se ser bem-sucedido ao mais alto nível? «A paixão é boa. Se não tiveres paixão pelo que estás a fazer, é quase impossível ser bem-sucedido a longo prazo. Vais ter situações difíceis, como lesões, momentos em que não jogas bem. Sempre tive essa paixão por todo o meu dia a dia. As vitórias são um resultado dessa paixão. A satisfação vem do que se faz todos os dias, longe dos olhos do mundo. Isso dá esse sentimento de recompensa. Quando chegas ao destino, sabes o quanto sofreste na partida», defendeu o maiorquino.
Aos 39 anos, afastado dos courts, o entusiasmo não se esbateu. «Agora começou um capítulo novo. Posso aprender coisas novas, tenho novos projetos pessoais e profissionais. Estou a tentar descobrir este novo mundo dos negócios, a descobrir coisas no meu mundo pessoal, como pai. Estou entusiasmado. Aceitei este desafio e continuo a sentir paixão pelas coisas que aí vêm», completou Nadal, que, entre aplausos à entrada e à saída, ainda presenteou os presentes com uma troca de bolas com Santiago Naranjo, diretor de receita da VTEX e anfitrião do diálogo com Rafael Nadal.