Milan de 1993/94 impressionou na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus (Imago)

Poucos golos, muita glória: o Milan campeão italiano que desfez o Barça de Cruyff

'Rossoneri' de Fabio Capello eram conhecidos pela solidez defensiva e não pelo poderio ofensivo. No entanto, na maior das finais, acabaram por aplicar uma goleada a uma das melhores equipas do final do século XX

É justo pensar que, para uma equipa ter sucesso e conquistar títulos, precisa de ter um ataque mortífero, capaz de resolver os jogos cedo e impor goleadas que aterrorizem os rivais diretos. Mas nem sempre é preciso isso para vencer.

Na temporada 1993/94, o Milan escreveu um dos capítulos mais curiosos e impressionantes da história do futebol europeu. Sob o comando de Fabio Capello, os rossoneri conquistaram o campeonato italiano com um registo quase impensável para os padrões modernos: apenas 36 golos marcados, em 34 jornadas, que dá uma média de pouco mais de um por jogo.

O Milan de 1993/94 conquistou a Supertaça, a Serie A e a Champions (Imago)

Num campeonato que sempre foi conhecido pela exigência tática e defensiva, o Milan fez da solidez a sua identidade. Com uma defesa de luxo composta por Franco Baresi, Paolo Maldini, Alessandro Costacurta, Marcel Desailly e Mauro Tassotti, com Sebastiano Rossi na baliza, o clube de Milão sofreu apenas 15 golos durante toda a época, estabelecendo um recorde que reforçava a reputação de equipa impenetrável e que dura até hoje.

Num ataque que já não contou com a veia goleadora de Marco Van Basten, Marco Simone, Daniele Massaro e o francês Jean-Pierre Papin garantiam o mínimo necessário para vencer - não com espetacularidade, mas com eficácia clínica.

Fabio Capello (Imago)

O estilo pragmático de Capello não encantava os puristas, mas garantia títulos. E o Milan venceu o Scudetto (19V, 12E e 3D) com três pontos de vantagem sobre a Juventus, numa época em que as vitórias ainda valiam apenas dois pontos.

Mas o verdadeiro momento de glória dessa época não foi no campeonato italiano. Foi na noite de 18 de maio de 1994, no Estádio Olímpico de Atenas, frente ao poderoso Barcelona de Johan Cruyff, na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus.

O plantel do Milan em 1993/94 (Imago)

Dream Team viveu pesadelo rossonero

Na final da última edição da Taça dos Clubes Campeões Europeus, antes da reformulação para UEFA Champions League, o Dream Team do Barça, que contava com craques como Ronald Koeman, Pep Guardiola, Hristo Stoichkov, Romário e Michael Laudrup (que acabou por não ser utilizado), era amplamente favorito.

Todos esperavam uma de duas coisas: ou um jogo equilibrado ou uma exibição dominante dos catalães. O Milan, desfalcado de Baresi e Costacurta por castigo, apresentou uma equipa reorganizada, com Panucci e Galli na defesa, mas com um plano tático perfeito.

Desailly, Romário e Maldini a disputarem a bola (Imago)

Fabio Capello (e os rossoneri) surpreenderam o mundo do futebol com uma performance magistral e... ofensiva. Resultado final: Milan 4-0 Barcelona.

Daniele Massaro bisou na primeira parte (22' e 45+3'), Dejan Savicevic assinou um golo de antologia ao início da segunda (47') e Marcel Desailly fechou a contagem (59') - tornando-se o primeiro jogador a vencer a prova em anos consecutivos, com clubes diferentes (Marselha e Milan).

Foi uma das finais mais desequilibradas de sempre e uma humilhação histórica para o Barcelona de Cruyff, que admitiu ter sido completamente superado. A turma italiana, com fama de ser defensiva, acabou por oferecer ao mundo uma das exibições ofensivas mais memoráveis da história do futebol europeu.

Assim, o Milan de 1993/94 ficou eternizado: uma equipa que venceu o campeonato com poucos golos marcados, mas que brilhou intensamente quando mais importava, contra os melhores, na maior das finais.

Maldini com o troféu (Imago)