Portugal vai ter um problema central
ASeleção Nacional só volta a jogar daqui a um mês e provavelmente o problema nem se vai colocar já, mas não demorará muito tempo para se tornar num tema... central a curto prazo: a qualidade das soluções para o centro da defesa. Portugal tem uma tradição de fabricar grandes centrais e nos últimos 25 anos a maior dificuldade dos selecionadores prendia-se mais com aqueles que tinham de deixar de fora do que acertar na dupla que entrava em campo. Se recordarmos que chegaram a cruzar-se, na mesma geração, Fernando Couto, Jorge Costa, Jorge Andrade e Ricardo Carvalho chegamos à conclusão de que o panorama é atualmente mais pobre. Pior: o futuro também.
Para o imediato, a dupla Pepe-Rúben Dias, se bem coordenada, ainda tem condições para ser das melhores da Europa, mas o jogador do FC Porto tem 38 anos e é urgente pensar numa alternativa para ontem. Partindo do princípio de que José Fonte, pelo fator idade (37 anos), também vai deixar gradualmente de entrar nas contas, restam soluções que não oferecem a mesma fiabilidade e segurança. Não estamos a falar das quartas e quintas opções, mas sim de primeiras escolhas, talvez já para o Catar-2022. Uma Seleção que se quer vencedora necessita de pelo menos três centrais de topo. E pode Portugal vir a ter apenas um.
Rúben Dias, 24 anos, e Pepe, 38, formam a dupla de centrais titular na Seleção Nacional
Não surpreende por isso que Fernando Santos tenha chamado Gonçalo Inácio (entretanto dispensado por lesão), sem que o jogador de 20 anos tenha passado pelos sub-21: à qualidade do defesa leonino (titular no campeão nacional mas num sistema de três defesas) junta-se a necessidade de encontrar soluções para um setor que, a par da qualidade dos extremos, roçou a excelência em duas décadas. Analisando a última convocatória, ficou à vista a escassez de matéria prima: quando saiu Inácio, Fernando Santos não chamou ninguém: preferiu manter Domingos Duarte e adaptar Danilo. Em primeiro lugar, para dar minutos ao jogador do Granada (que fez dupla com o médio do PSG); em segundo, porque na realidade não tem assim tanto por onde escolher - e essa é que é a grande questão.
Nos três grandes, Gonçalo Inácio é mesmo a exceção. No Benfica, apenas Ferro poderia aspirar a esse voo (chegou a ser chamado em setembro de 2019 devido à lesão de Pepe) mas não faz parte das escolhas principais de Jorge Jesus; Fábio Cardoso, que tanto reivindicou uma chamada quando era titular no Santa Clara, não tem sido sequer convocado por Sérgio Conceição no FC Porto. Resta esperar por uma evolução de Diogo Leite no SC Braga ou até mesmo David Carmo (e partindo do princípio de que Diogo Queirós, que fez boa dupla com Diogo Viana nos sub-21, estará fora, pois na passagem para sénior não mostrou, como aconteceu com tantos outros, o potencial que prometia).
Se depender de Fernando Santos, Danilo nunca será o central de que a Seleção necessita (contrariando a opinião de Thomas Tuchel, que utilizou o ex-jogador do FC Porto naquela posição enquanto treinou o Paris Saint-Germain) mas corre o risco de mudar de ideias. A necessidade é amiga do engenho. E do engenheiro.