Portosantense

Portosantense: profetas com a casa às costas

De regresso aos campeonatos nacionais, depois de uma ausência de 12 anos, equipa treina-se e joga longe da ilha dourada. O início de época tem exigido inúmeras viagens e um aumento de custos considerável.

Em apenas duas temporadas, tudo mudou no Portosantense. Com novos investidores e uma diferente administração, o popular clube da ilha do Porto Santo, no arquipélago da Madeira, venceu, logo no primeiro ano, o campeonato regional (há 35 anos que o clube não era campeão da Madeira), assegurando, volvidos 12 anos, o regresso aos campeonatos nacionais.

As dificuldades surgiram associadas à promoção. Desde logo, os «profetas», como são conhecidos os habitantes e naturais da ilha dourada, viram-se impossibilitados de realizar os seus jogos em casa, no Estádio José Lino Pestana, propriedade do Governo Regional da Madeira, uma vez estavam obrigados a remodelar praticamente todo o recinto desportivo, o que não foi ainda possível. «É, talvez, a única frustração nesta experiência. Não termos conseguido que o clube ficasse no Porto Santo, a trabalhar e a jogar na sua infraestrutura, fisicamente junto dos seus adeptos», reconhece, em conversa com a reportagem de A BOLA, o administrador Jorge Machado.

«Fui alertando, a partir de determinada altura da última época, para a necessidade de intervenção no recinto», lamenta ainda Jorge Machado que, esta temporada, não acredita possível utilizar o José Lino Pestana em jogos oficiais. «As obras estavam previstas de setembro a março de 2024… estamos praticamente a meio de setembro e ainda não aconteceu nada», reforça.

Longe do Porto Santo, os «profetas» treinam-se «próximo da cidade do Porto, na zona de Valongo», revela o dirigente da SAD do Portosantense. «Somos uma equipa de nómadas, andamos com a casa às costas, o que não é o ideal para a estrutura e para a nossa aposta», acrescenta Jorge Machado. 

Já os jogos oficiais realizam-se no Estádio Municipal de Câmara de Lobos – devido a obras, o encontro com a Camacha foi disputado no Centro Desportivo da Madeira, na Ribeira Brava –, com o sorteio das competições oficiais a obrigar, em cinco jogos (Campeonato de Portugal e Taça de Portugal), a quatro deslocações à Madeira, onde regressam, ainda este mês, para a partida com o Nacional da Madeira, da 2.ª eliminatória da prova rainha. «Em termos logísticos, tudo é muito diferente e exige permanente atenção. Ainda por cima, o sorteio reservou-se, neste início de épocas, a muitas viagens à Madeira e a um aumento de custos considerável», admite o administrador da SAD. 

Desportivamente, a pontual deslocalização do Portosantense para a zona do grande Porto tornou «mais simples» a formação do grupo de trabalho, esta época liderado pelo técnico Tiago Ramos, de 36 anos. «Conseguimos contratar jogadores de um outro alcance em termos qualitativos», reconhece Jorge Machado, lembrando as dificuldades inerentes às transferências de futebolistas para clubes das ilhas. 

Também por isso, o objetivo dos «profetas» passa, tão rápido quanto possível, pela «permanência», o que não coarta a ambição de, com o decorrer do campeonato, a equipa poder lutar por uma eventual promoção. «Primeiro, é importante amadurecer no Campeonato de Portugal, estruturar o clube para, no futuro, poder, então, ambicionar a lutar por um lugar na Liga 3. As equipas das ilhas estão inseridas num contexto de dificuldades acrescidas e é importante, nestes primeiros anos, evitar sobressaltos e o sobe e desce», sustenta Jorge Machado para quem, pessoalmente, a aposta no clube da ilha dourada «tem corrido» como, desde o início, a nova administração «tinha planeado.»