Pizzi em conversa franca e sem segredos com A BOLA. Foto: Breno Barison
Pizzi em conversa franca e sem segredos com A BOLA. Foto: Breno Barison

Pizzi: «Poderia ter ajudado mais a Seleção»

Cumpriu 17 internacionalizações, com três golos marcados, mas sabor é agridoce: «Muitas vezes fui convocado e não era utilizado», diz. Não foi o caso de um Portugal - Chipre, no qual até marcou

- A sua carreira levou-o a outros patamares como a Seleção Nacional, onde cumpriu 17 internacionalizações e 3 golos. Fica com algum amargo de boca de que poderia ter conseguido mais? Números mais equiparados com os do Benfica?

Sim, acho que sim. Acho que houve momentos em que as coisas poderiam ter corrido melhor a nível de Seleção Nacional, porque estava num grande momento no Benfica, as coisas estavam a sair muito bem, fui muitas vezes um dos melhores marcadores, um dos melhores jogadores e sim, fico com esse sentimento de que poderia ter ajudado mais a Seleção Nacional e poderia ter contribuído da melhor maneira, mas são coisas que acontecem no futebol, fazem parte, temos de saber aceitar. Sim, gostaria de ter tido mais participação, porque naquele momento estava realmente muito bem.

- Entre 2018 e 2020, o Pizzi faz 106 jogos pelo Benfica, marca 45 golos e faz 42 assistências, um registo que chama a atenção. Acha que esse período deveria ter tido essa repercussão na Seleção?

Sim, é basicamente isso. Quando se está bem, ainda por cima num clube como o Benfica, acho que é normal a chamada à Seleção Nacional e poder contribuir para ela porque jogas num grande clube e estás a fazer bem as coisas. Fui muitas vezes convocado e muitas vezes não era utilizado mas já passou, sinto um orgulho enorme por ter vestido a camisola da Seleção por 17 vezes. Se poderiam ter sido mais? Podiam, mas estou feliz com o meu percurso.

- Conquista uma Liga das Nações por Portugal. Esse foi o ponto alto da sua passagem pela Seleção?

Sem dúvida! Primeiro, porque foi a primeira Liga das Nações que a Seleção ganhou, foi no nosso país, no Estádio do Dragão, por isso teve um sabor ainda mais especial para todos nós e todos os portugueses, e foi muito importante. É sempre importante ganhar um título, ainda mais pelo teu país e a tua Seleção. Foi incrível e um dos momentos mais altos da minha carreira, sem dúvida.

- Um dos três golos que marcou por Portugal foi precisamente aqui, no Estádio António Coimbra da Mota, frente ao Chipre, numa vitória por 4-0. Recordou-se disso quando assinou pelo Estoril?

Recordei-me porque esse momento tem uma história curiosa por trás, que é: eu tinha o meu casamento marcado para esse dia do Portugal – Chipre e tive de adiar para o dia seguinte. Nesse jogo eu acabei por marcar um golo e no dia a seguir casei-me e pronto, foi uma história bonita e não dá para esquecer esse momento.

Revejo-me muito no trajeto do Pote e acho que também somos parecidos a jogar

- Portugal já tinha, nessa altura, uma geração muito forte de futebolistas para as posições que o Pizzi ocupa, que hoje se mantém. Considera-se um pouco vítima disso, da concorrência e das circunstâncias? Na verdade, poderia ter acontecido com outro jogador?

Obviamente que sim, e todos os treinadores têm as suas opções pessoais acerca de cada jogador, de quem gostam mais. É o futebol. Como já disse, gostava de ter tido mais participação, mas aquele momento não foi possível por alguma situação, algum outro jogador estava melhor que eu. São coisas que fazem parte na vida de um jogador de futebol e só temos de aceitar, aceitava-o e procurava trabalhar para poder estar na convocatória seguinte e ajudar e foi isso que aconteceu.

Se caímos na frustração do não estou a jogar, as coisas acabam por correr mal e eu não sou desses. Gosto de estar sempre com pensamento positivo, para a frente e o que aconteceu foi o que teve de acontecer.

- No Benfica, era apreciado por desempenhar diferentes funções. Acha que esse perfil não se enquadrava tanto na Seleção e isso pode ter atrasado a sua afirmação?

Sim, poderá ser um dos motivos, mas ser polivalente pode ajudar os treinadores a saber que podem contar com aquele jogador para fazer médio ala, 10, médio centro, segundo avançado, e isso pode ser importante. Gostava de ter participado mais, ter tido mais jogos porque fui muitas e muitas vezes convocado e estive na Seleção por muitos anos, mas foram anos positivos os que lá estive.

- Há atualmente um jogador na Seleção cujo perfil é comparado ao seu, o Pedro Gonçalves, e que a sua forma de jogar é semelhante ao do prime Pizzi. Revê-se nisso e também na sua história? É também rotulado de grande jogador, mas a sua afirmação na Seleção ainda não está totalmente conseguida…

Sim, revejo-me muito no trajeto que o Pedro Gonçalves está a fazer porque primeiro esteve em clubes de ligas maiores, como o Wolverhampton e eu estive no Atlético de Madrid, depois veio para o Famalicão para jogar e ser importante e deu o salto para o Sporting. Acho que somos parecidos a jogar no posicionamento no campo, no posicionamento entre linhas, no estar no último terço, na finalização ele faz aqueles passes para a baliza que eu também costumo fazer e acho que é grande jogador.

Acho que também já poderia ter tido outro reconhecimento na Seleção porque acho que é um jogador que nos pode ajudar bastante, sobretudo em espaços curtos, porque é muito bom entrelinhas e a decidir bem. Mas, como digo, são opções, a Seleção tem um conjunto vasto de jogadores que jogam em grandes clubes e isso já parte do selecionador e das suas opções.

-Como avalia a Seleção atual? Tem a capacidade de voltar a conseguir conquistas?

Acho que temos das melhores gerações de sempre, senão a melhor, acho que é evidente, até pelos clubes em que todos os nossos jogadores jogam, em grandes clubes internacionais e no meu tempo não havia tanto isso. Podemos sonhar com grandes coisas neste Mundial, porque temos muita qualidade, 30 ou 40 jogadores que podem estar na Seleção a qualquer momento e acho que se todos estiverem focados, mesmo os portugueses em volta, se tivermos essa ambição de ganhar o Mundial vai criar-se uma nuvem e no final poderemos todos sorrir e sermos campeões do Mundo.

«Carreira está a chegar ao fim e vejo-me a terminar na Liga»

- Sente que o final de carreira está próximo? Pode acontecer aqui no Estoril?

Neste momento estou focado no meu dia a dia, em poder ajudar o Estoril a conquistar vitórias e ser importante, seja dentro ou fora do campo. Obviamente que sei que a minha carreira está quase a terminar e não é fácil para nenhum jogador, durante muitos anos o nosso dia a dia é este, sentimo-nos muito bem, no balneário, com os nossos. Já pensei nisso bastantes vezes, está a aproximar-se do fim, mas quero aproveitar todos os momentos em que estou aqui no Estoril e pensaremos no futuro mais para a frente.

- Que final pretende para si? É o tipo de jogador que pretende terminar ao mais alto nível ou, face ao gosto em jogar futebol, vê-se a jogar em escalões inferiores?

Gosto muito do futebol e do dia a dia, mas vejo-me a acabar num alto nível como o Estoril, um clube de primeira Liga. Não sei o que acontecerá no futuro ou se irei jogar e outros patamares, mas o meu foco é aproveitar os poucos anos que tenho pela frente para ser feliz a fazer o que gosto. Penso em continuar ao mais alto nível, na Liga, onde me sinto feliz.

- O que seria uma temporada bem conseguida para si, em 25/26?

Acima de tudo, poder jogar e conquistar vitórias no Estoril. Quero sempre jogar, estar dentro do terreno de jogo, faz parte de mim e do meu ADN e quero ter mais minutos, poder ser importante dentro do campo como já o sou fora e o que quero é desfrutar de todos os momentos que tenha para colocar o Estoril ainda mais acima.