Pizzi: «Os melhores com quem joguei foram Jonas e Rafa»
- No Estoril encontrou alguns conhecidos, com quem havia partilhado balneário como João Carvalho e Ferro, que até capitaneou no Benfica. Que diferenças encontrou nestes dois jogadores passado alguns anos? Como foi reencontrá-los ao fim deste tempo?
O João Carvalho e o Ferro são, primeiro, além de grandes pessoas, dois jogadores que têm muita qualidade e desempenham o seu papel dentro do campo com muita qualidade. Já fui capitão do João Carvalho, agora curiosamente ele é o meu capitão e era naquela altura - e é agora - um miúdo com muita qualidade, um talento acima da média.
Aqui ou ali não conseguiu demonstrar toda a sua qualidade e todo o seu talento, mas aqui no Estoril ele tem encontrado o seu conforto, o seu lado tranquilo para crescer e evoluir como jogador e tem demonstrado que apesar de já ter 28, 29 anos, é jogador para outros patamares.
O Ferro para mim é um grande jogador, já o disse muitas vezes, desde os tempos do Benfica que me impressiona muito, tem muita qualidade, uma saída de bola incrível, algo bom para o modelo de jogo da nossa equipa e é, sem dúvida, além de uma grande pessoa, um grande jogador e também espero que vá para outros patamares porque merece.
- É dos jogadores em atividade com mais títulos na nossa Liga. Notabilizou-se por sete anos e meio no Benfica, algo raro de acontecer, especialmente no futebol moderno, com quatro Ligas, três Supertaças, três Taças da Liga e uma Taça de Portugal. Considera natural que, para muitos, nunca deixe de ser o Pizzi do Benfica?
Obviamente que foi no Benfica que tive as minhas melhores épocas e me senti melhor como jogador. Foi também uma fase muito bonita para mim, em que fui pai e isso dá uma energia extra para continuar e para trabalhar sempre no limite. No Benfica sentia-me em casa, confortável, as coisas saiam naturalmente. Era um grande grupo de trabalho, em que nos dávamos todos muito bem, tudo saía na perfeição e sem dúvida que os anos do Benfica foram os melhores da minha carreira.
Os números no Benfica foram extraordinários, principalmente porque joguei muitas vezes como número 8
- Os números por si conseguidos no Benfica ainda hoje impressionam - 360 jogos e 94 golos em sete anos e não joga como avançado. Como olha para esses números?
Vendo agora e já passado algum tempo, acho que são números extraordinários, principalmente porque eu joguei muitas vezes como número 8, ou seja, segundo médio e era mais difícil chegar à área. Outras vezes joguei mais a 10, interior direito, mais aí sim perto da área, mas como já disse, como você disse, nunca fui um avançado, ou seja, estava um bocado longe das zonas de finalização e são números que me orgulham muito porque, como já disse, sentia-me muito feliz. Além dos golos, fiz muitas assistências também, que é uma das coisas que eu também adoro fazer, por isso foram anos maravilhosos no Benfica.
- Também em entrevista a A BOLA, João Carvalho afirmou que, face a esses números, o Pizzi estatisticamente é dos melhores médios que já passou pela Benfica. Concorda?
Isso já depende da opinião de cada um. Como já disse, sinto um orgulho enorme por aquilo que fiz e por aquilo que conquistei. Agora, se foi dos melhores ou se não, isso deixo para a opinião das outras pessoas e os especialistas. Agora, comparando com o que vejo agora e o que vi há alguns anos, posso dizer que sim, em termos de números estive acima da média do resto. São realmente muitos anos de Benfica, junto com grandes jogadores.
- Entre todos esses jogadores, qual o maior talento que encontrou?
Essa é uma questão difícil. Eram muitos e é difícil escolher um porque se calhar vou estar a ser injusto com os outros todos mas se calhar vou eleger dois, para não deixar um de fora. E mesmo assim já vou deixar bastantes de fora, mas vou eleger o Jonas, que sem dúvida para mim foi um dos melhores com quem já joguei até hoje, e o Rafa.
- Chegou a capitão e antes foi capitaneado por outra referência do Benfica, como Luisão, que se retira e, a dada altura, o Pizzi assume a braçadeira. Olha para ele como uma inspiração, para liderar o Benfica e agora até eventualmente no Estoril, mesmo não sendo um capitão?
Sim, sem dúvida. O Luisão foi um grande capitão para todos nós naqueles momentos. Era como se fosse um pai, um irmão mais velho para nós e aprendi muito com ele, aprendi muitas das coisas que agora faço e tento transmitir aos mais jovens. Foram ensinamentos do Luisão, o André Almeida, que quando eu cheguei já fazia parte dos capitães, com o Gaitán. Vários jogadores que naquele momento estavam num patamar acima do meu, que eu respeitava muito e foram os jogadores que me ajudaram muito para ser o que sou hoje, como pessoa e como jogador.
«Associarem-me à saída de Bruno Lage foi ridículo»
- No Benfica, aquando da primeira saída de Bruno Lage, foi um dos associados ao despedimento do treinador. Considera-se injustiçado?
Muito injustiçado, muito! Porque não sei de onde é que essa questão poderá ter surgido, já passaram muitos anos e agora é difícil saber de onde poderá ter sido, mas foi uma questão completamente ridícula. Éramos um grupo e um núcleo muito unido e não estou a falar só de mim, do André Almeida, do Rafa ou o Grimaldo, esses jogadores, que se davam melhor. Éramos todos um grupo muito unido, tentámos ajudar sempre ao máximo todos os treinadores que estiveram connosco e obviamente para mim essa questão que aconteceu não faz sentido nenhum.
Faz parte do passado, no entanto fica sempre esse rótulo que não fica bem consoante a pessoa que eu sou e aquilo que sou e fui como jogador, mas são coisas que fazem parte do futebol e há que saber lidar com isso.
- E a sua saída surgiu no timing certo? Sente que pode ter sido de alguma forma precipitada ou foi na altura em que teve de ser?
Acho que sim, que os ciclos acabam por terminar, não podemos ficar para sempre num sítio. Obviamente que estava muito feliz no Benfica e sempre fui muito feliz lá, isso nunca foi posto em causa, mas também precisava de outros desafios para mim, para a minha vida pessoal e familiar. Para mim, enquanto futebolista, precisava de outros estímulos, porque se calhar estava um bocado confortável demais naquele momento, acabou por ser a saída que teve de ser. O que fica e o que me deixa feliz foi tudo o que fiz e conquistei ao serviço do Benfica.
- Sente por isso que foi tratado como deveria ter sido? O momento da saída foi pacífico?
Sim, foi completamente pacífico de ambas as partes. Há sempre momentos bons e maus em todos os clubes. Nós, enquanto profissionais, temo-los mas eu, desde sempre, e falo das pessoas ligadas ao Benfica, adeptos, sócios, massa adepta, sempre me senti muito acarinhado. Ainda hoje vou na rua e sinto-me muito acarinhado por toda a gente. Por isso, acabou por ser um tempo fantástico para mim e acabou no momento que tinha de acabar.
- A não ser que haja algum problema ou opção técnica, irá haver novamente esse regresso ao Estádio da Luz que até não será a primeira vez. Já defrontou o Benfica quando jogou no SC Braga e mesmo nessa altura percebeu-se a boa ligação que ficou.
Sentiu aí a imagem com que fica do seu percurso no clube?
Sem dúvida. Isso é uma das coisas que me deixa mais orgulhoso e certamente deve deixar orgulhosos os meus pais, porque criaram um menino que sempre foi respeitador, sempre tratou bem o próximo, sempre foi amigo do seu amigo.
Isso, para mim, além dos títulos, de tudo o que conquistámos, dos momentos bons que passamos, esse reconhecimento que acabamos por ter no final de as pessoas te aplaudirem em pleno Estádio da Luz, isso é das formas mais importantes de se dizer ok, fizeste coisas muito boas por este clube, estás a ser reconhecido e acho que não há melhor maneira de demonstrar o carinho que as pessoas tiveram.