Pedro 'Ró-Ró' Correia: de Mem Martins a herói do Qatar

O Qatar apurou-se na última terça-feira pela segunda vez para um Mundial e a vitória teve dedo… português. Ou, melhor dizendo, cabeça. A seleção qatari, treinada pelo antigo treinador do FC Porto Julen Lopetegui, precisava de vencer os Emirados Árabes Unidos para garantir já o apuramento. E assim fez: ganhou 2-1 e o segundo golo chegou aos 74’: Akram Afif bateu o livre pelo lado esquerdo e, ao segundo poste, Pedro ‘Ró-Ró’ Correia saltou para cabecear para o segundo da seleção da casa.

Natural de Mem Martins, linha de Sintra, o defesa-central qatari passou pela formação do Benfica, do Estoril e do Farense. Em 2011, aos 20 anos, rumou ao Médio Oriente e… nunca mais de lá saiu. São já 15 anos a viver no Qatar, repartidos por apenas dois clubes. Depois de estar cinco anos no Al Ahli, rumou ao Al Sadd, onde cumpre, neste momento, a 11.ª época. Ao serviço do emblema qatari, o mais titulado do país, somou já cinco campeonatos, três taças e quatro Taças da Liga. Foi treinado por Jesualdo Ferreira e também por Xavi, lenda do futebol espanhol, de quem também foi colega e que, em entrevista a A BOLA em 2020, definiu como o melhor com quem já jogou.

Com 235 jogos disputados pel Al Sadd, é o sexto jogador que mais vezes vestiu a camisola do 18 vezes campeão. E a ligação será para continuar, visto que renovou recentemente até 2030, altura em que celebrará… 40 anos.

Estar tanto tempo no país, de onde, afirmou na mesma entrevista, há quase cinco anos, nunca pensou sair, pelas condições que lhe foram dadas e pela forma como foi recebido fez com que, em 2016, escolhesse representar a seleção do Qatar. Na altura explicou também o porquê da alcunha por que é conhecido, Ró-Ró. «Quando comecei a jogar futebol no Mem Martins — tinha sete anos — era avançado. Um dia, o mister Sérgio perguntou-me como é que eu gostava que ele me chamasse. E eu respondi: Ronaldo, por causa do Ronaldo fenómeno. E ele disse-me: ‘olha lá, tenho um nome melhor para ti: Ró-Ró. Ró de Ronaldo e Ró de Romário», afirmou. Alcunhas de avançado, mas posição bem mais recuada: é defesa-central e já jogou pela seleção em 98 ocasiões.

Após nove anos de internacionalizações e duas Taças da Ásia conquistadas — em 2019, na final frente ao Japão, e em 2024, com vitória frente à Jordânia — Pedro Correia foi decisivo ao apontar o golo que permitiu que o Qatar vencesse os Emirados Árabes Unidos. Um empate obrigaria os qataris a lutarem no play-off. 16 anos depois de chegar, o defesa ‘Ró-Ró’ encarnou o Ronaldo e Romário da infância da alcunha, apareceu na área adversária e mostrou-se imprescindível para o sucesso de um país que, pela segunda vez na história, estará no Campeonato do Mundo, ambas com o luso-qatari.