Paulo Lopes recorda dérbis contra o Sporting: «Só tenho memórias boas»
Paulo Lopes trocou Mirandela pelo Estádio da Luz aos 15 anos, mas apenas rubricou a estreia pela equipa principal do Benfica aos 34. A segunda passagem pelas águias ficou marcada pela conquista de 13 títulos em seis anos e o estatuto de terceiro guarda-redes de uma hierarquia, que contou com inúmeros pesos pesados: Júlio César, Ederson Moraes ou Jan Oblak.
A reflexão sobre uma carreira invulgar precipita o lançamento do dérbi de sexta-feira entre Benfica e Sporting, em entrevista A BOLA.
—Considera que o Benfica pode conquistar o título esta época?
— Claro que sim.. Qualquer uma delas pode, porque ainda vão jogar todos os uns com os outros. A linha do estar bem ou estar mal é muito custa. Um deslize muda a opinião do público e a forma como os jogadores vêem as coisas. Vai ser uma boa corrida ao título. O Benfica começou muito bem, depois caiu um bocadinho e agora com a entrada do mister Mourinho, está a procura da melhor forma. Mas com a crença com que eles estão, mais jogo, menos jogo, vão equilibrar, mas acho que vai ser renhido.
— Quem considera partir na frente para o dérbi entre Benfica e Sporting?
— Por experiência própria, ninguém costuma partir à frente, seja em casa ou fora. É um dérbi, tudo é diferente, as emoções, a adrenalina, o próprio ambiente. É sempre difícil sempre fazer um prognóstico em relação a um dérbi, mas espero que seja um bom jogo. É difícil prever o que vai acontecer porque os dois lados têm jogadores de enormíssima qualidade que podem resolver em qualquer momento.
— Quais são as melhores memórias que tem de dérbis contra o Sporting?
— Tenho várias. Quando o Markovic entrou, fintou quase toda a gente e fez golo [1-1, a 31 de agosto de 2013]. Fomos mais felizes do que infelizes contra o Sporting. Só tenho memórias boas.
— Como é que surge a oportunidade de regressar ao Benfica, em 2012?
— O meu contrato com o Feirense estava a acabar, tinha várias possibilidades até do estrangeiro para continuar a jogar. Na altura, o Rui Costa, o presidente atual, ligou-me. Achei que era uma brincadeira, às vezes costumávamos fazer isso, mas não, era verdade. Perguntou se estava interessado e claro que aceitei pela idade que tinha e porque sentia que podia ainda ajudar o clube.
— O que é que sentiu quando, somou os primeiros minutos pelo Benfica, aos 34 anos, em Freamunde [18 de outubro de 2012]?
— Uma enorme satisfação, foi o concretizar de um sonho. Como tinha sido formado no Benfica, o meu sonho era jogar pela equipa principal. Não foi possível na altura. Fiquei triste, mas não desanimei, Continuei a trabalhar e as coisas surgiram. Foi com um enorme orgulho e satisfação que vi que tantos anos de trabalho compensaram.
— Como é que viu a mudança de estatuto para terceiro guarda-redes na hierarquia, a partir de 2013/14?
— Fiquei triste, como é lógico, por não jogar. Mas estou contente e muito satisfeito por ter pertencido a um leque tão restrito dos jogadores que jogaram num clube com tanta história como o Benfica. Costumo brincar e dizer que fui o guarda-redes com mais azar e, ao mesmo tempo, com mais sorte no mundo. Quando passo de júnior para sénior o guarda-redes era o MichelPreud’Homme, o melhor do mundo, por isso não joguei. Quando voltei ao Benfica tive o Artur, que tinha sido o melhor guarda redes do campeonato, na época anterior. Tive o Oblak, que acaba por ser o melhor do mundo, o Éderson também e o Júlio César que tinha sido o melhor do mundo. Fui sempre o segundo melhor (risos).
— Como é que foi conviver com jogadores deste gabarito?
— Foi muito fácil, porque todos eles, e até hoje mantemos contacto, são cinco estrelas. Ajudávamo-nos todos no treino.
— Soma minutos em três das quatro conquistas da Liga. Ficou com alguma mágoa por não ter entrado em campo em 2014/15?
— Mágoa, não. Fiquei triste porque fiz o mesmo que os meus colegas fizeram, nunca faltei a um treino, estive em todos os jogos. Senti-me triste por não poder colocar o meu nome lá. Só isso, mais nada. Mas no fundo, acabo por me sentir o mesmo que os outros porque fiz o mesmo trabalho.
— Tem alguma história no regresso ao Benfica que tenha ficado guardada?
— Tenho uma com o Raúl Jiménez. Fomos jogar à Vila do Conde e estamos os dois no banco de suplentes. O mister Rui Vitória mandou-o aquecer e ele não tinha a camisola de jogo, tinha deixado no balneário ao intervalo e eu disse ‘deixa estar que eu vou buscar e tu vais fazer o golo da vitória’. Depois vestiu, entrou e marcou.
— Também ficou celebrizado por um subir à baliza nos festejos de títulos, mas houve um ano que a taça não resistiu [Supertaça 2014/15]...
— Era de plástico [risos]. Aquilo era vidro fininho, acabou por partir, nada de especial.
— Ficou alguma coisa por conquistar como jogador?
— Ter jogador pela Seleção Nacional, era um objetivo que tinha e não consegui concretizar. Era algo que gostava muito ter alcançado, ajudar o meu país. E ganhar a UEFA Champions League
— Perder duas finais europeias foi uma mágoa?
— Vejo sempre o lado positivo das coisas, para estar numa final tens que ser dos melhores. Não fomos os sortudos na altura, mas demos réplica nos dois jogos e fomos superiores em alguns momentos. São poucos os que estão numa final e consegui estar em duas, é um momento de orgulho.