«Tenho a certeza de que o Gonçalo Moreira vai ser de nível 'top'»
Paulo Lopes iniciou a carreira de treinador do Benfica Campus, como timoneiro dos guardiões dos sub-23 encarnados em 2018. O antigo guarda-redes acumulou cinco épocas de experiência como treinador nos escalões de formação das águias, tendo coincidido com talentos que já figuram na equipa principal, como António Silva, Tomás Araújo ou Henrique Araújo.
2023/24 foi, simultaneamente, a última época de Paulo Lopes ao serviço do clube da Luz e a primeira como técnico principal, nos sub-23. O antigo treinador de João Veloso, Ivan Lima, João Rego, Rodrigo Rêgo ou Gonçalo Moreira refletiu sobre o potencial dos talentos encarnados emergentes, mas também sobre o modelo de desenvolvimento de jovens implementado pelas águias.
— Como é que caracteriza a articulação entre os escalões de formação e a equipa principal enquanto esteve no Benfica?
— Havia coordenação entre toda a gente, todos sabiam o que fazer e que caminho é que o jogador ia percorrer. Sabemos que quando tens três equipas é difícil para quem não joga. Às vezes, também é difícil para quem joga porque tem várias lideranças, o treinador da equipa B, o dos sub-23 e o dos sub-19, mas faz parte de adaptação para evoluir.
— Essa volatilidade condicionou a primeira época que fez como treinador principal (2023/24) ?
— Não me prejudicou porque deu-me várias valências, é normal. Quando não consegues trabalhar com a equipa toda e apenas com cinco, seis, sete jogadores fixos, é diferente. Em termos de jogadores, podemos ver agora o efeito. O [João] Veloso, o [Rodrigo] Rêgo, o João Rego, o Gonçalo Oliveira, o Gonçalo Moreira, são muitos jogadores que, na altura, trabalharam comigo e agora estão a aparecer. Agora precisam de tempo, faz parte.
— Entre os jogadores que treinou e que ainda não se estrearam pela equipa principal, a quem antecipa uma carreira de topo?
— Quando treinas uma equipa com a qualidade do Benfica, é natural que surjam muitos nomes. É muito difícil, porque tenho a certeza que em breve três ou quatro que vão estar no topo. Depende do contexto, mas gosto muito do Gonçalo Moreira. É muito parecido com o João Neves, na alegria com que vai treinar e na vontade com que está disponível para ajudar a equipa. Tenho a certeza absoluta que vai ser um jogador de nível top. Quando? Não sei. Isso vai demorar o seu tempo, vai ter de ter paciência, mas acredito que vai chegar já
— Apostou no Gonçalo Moreira nos sub-23, ainda com 17 anos...
— Foi uma geração muito nova, o [Gonçalo] Moreira, o [João] Fonseca, o Olívio [Tomé]. Se calhar por isso é que os resultados não foram os melhores (risos), mas em termos de desenvolvimento do jogador foi a melhor coisa que se fez. Estavam a jogar numa competição acima, contra jogadores mais velhos. Quem está no processo tem que estar consciente que pode haver insucesso e que não se vai ganhar tantas vezes. A equipa B na época passada fez uma época fantástica, mas entretanto houve uma mudança de geração. Se estivermos direcionados para de ganhar a competição, não pode ser este o plano, claramente. Mas se toda a gente estiver de acordo e estiverem focados, estou completamente de acordo.
— Treinou André Gomes e o Samuel Soares. Considera que a baliza do Benfica está segura para os próximos anos?
— Claramente. E a prova é que eles foram e são titulares da seleção. O Samuel já jogou vários jogos pelo Benfica esta época, o André também está a fazer uma boa época no Alverca. Mas é preciso paciência esperar pelo momento certo. Tem de estar preparado e continuar a trabalhar para quando surgir a oportunidade, agarrarem.
— Ter dois guarda-redes de qualidade pode criar um problema de gestão a longo prazo?
— Vou falar um bocadinho como treinador: o problema é não ter qualidade. Quando se tem dois guarda-redes com qualidade, é uma maravilha, a todos os níveis. Jogue quem jogar, vais estar descansado, e em termos de desenvolvimento, vão puxar um pelo outro nos treinos. De certeza que os dois vão acabar por ter uma carreira de sucesso.
— Seguindo o exemplo do Benfica que perfil de guarda-redes suplente é que, enquanto treinador, preferia? Um guarda-redes mais jovem, ou um mais experiente, num papel de líder?
— Depende da geração e do momento. Neste momento, faz sentido ter o Samuel como segundo guarda-redes porque é uma mais-valia para o clube e caso aconteça alguma coisa, os sócios estão tranquilos, tal como o próprio treinador. Depende do contexto também. Às vezes tens de ir buscar um jogador com mais idade para trazer mais traquejo e maturidade, porque estás à espera que aconteça algo.
— O seu filho, André, jogou na equipa B do FC Porto na época passada. Como é que um pai com largo passado no Benfica viu esta movimentação?
— Com uma enorme alegria e orgulho, sou pai. Ele faz o caminho dele e eu o meu. As pessoas do FC Porto quiseram que ele fosse representar o clube, ele quis ir perfeitamente, eu aplaudi e vi com uma enorme satisfação.