Samu e Pavlidis são os melhores marcadores de FC Porto e Benfica — um equilíbrio que já não se verifica no que respeita a assistências para golo. Fotos: Catarina Morais/KAPTA + e Miguel Nunes

Os golos antes do clássico: FC Porto ‘todo-o-terreno’ contra Benfica de uma nota só

Dragões têm ataque equilibrado e só ainda não marcaram a partir de livres diretos ou indiretos. Conseguirão as águias, com muito menor versatilidade ofensiva a julgar pelas concretizações, ferir a sólida defesa portista no clássico desta noite no Dragão?

Com apenas sete jornadas realizadas a imagem apresentada pelos clubes neste arranque de época não cria ideias muito definitivas — mesmo assim falamos de um quinto do campeonato já disputado — mas há números que permitem, desde logo, evidenciar características e definir tendências das equipas. E o comportamento de dragões e águias antes do clássico dessa noite pode ser avaliado e comparado tendo em vista os golos marcados e sofridos por ambos na Liga.

E o óbvio ululante, na imorredoura expressão do inolvidável Nelson Rodrigues, que se retira dos quadros à parte é que o FC Porto da era Farioli é uma equipa muito mais equilibrada do que os seus rivais pois, para lá de somar apenas vitórias na prova apresenta um registo superior de golos marcados (19 contra 13) e sofridos (apenas um golo consentido contra quatro dos encarnados), consegue marcar praticamente de todas as formas e feitios — com exceção de pontapés livres, diretos ou indiretos — ao contrário do que acontece com o monótono Benfica.

Os dragões são mestres no aproveitamento de pontapés de canto (cinco golos, tantos como os conseguidos nas 34 jornadas de cada uma das duas últimas Ligas!) e para lá dos apontados a partir de remates na área (11) já viram William Gomes marcar por duas vezes com disparos de longe. Lances nas alturas também permitiram aos portistas festejar por quatro vezes (duas por Samu, Froholdt e Pablo Rosário). Os azuis e brancos viram ainda Pepê e Borja Sainz finalizar dois lances de contra-ataque.

Já quanto à equipa de José Mourinho — que face à intensa sucessão de jogos realizados nas últimas semanas tem tido poucas oportunidades para mudar substancialmente práticas implementadas e que tão poucos resultados produziram, nomeadamente em bolas paradas e nas rápidas transições ofensivas — constata-se uma completa ineficácia em jogadas de futebol aéreo: dos 21 golos apontados nesta época em todas as competições só Enzo Barrenechea marcou de cabeça, ao Qarabag, e na sequência do único pontapé de canto terminado em golo. No campeonato, e para lá de três penáltis, as bolas paradas apenas renderam um golo, num livre indireto concluído por Pavlidis frente ao Santa Clara.

BENFICA ENFRENTA MURO DE BETÃO

E este Benfica, que nas palavras do seu atento treinador tem «pouca presença na área e está mais habituado a circular com muito passe lateralizado e procura pouco a profundidade», ainda não marcou com remates na pequena área (a tal falta de intensidade e presença próxima da baliza adversária), de fora da área (faltam jogadores com essa característica no plantel, pesem embora as tentativas de Ríos, até aqui com resultados desastrosos) ou em contra-ataques normalmente mal conduzidos.

As duas equipas equivalem-se no impacto trazido ao jogo pelos suplentes (Deniz Gul e Zaidu marcaram pelo FC Porto e o Benfica por Prestianni) mas já o setor recuado dos dragões tem mostrado um superior faro pelo golo: Nehuén Pérez, Pablo Rosário, Francisco Moura e Zaidu já inscreveram o nome na lista de marcadores, enquanto os rivais da capital apenas viram Dedic marcar, por sinal um belo golo ao Alverca.

Também no capítulo das assistências há um fosso entre ambos, com os dragões a terem o melhor da Liga neste departamento, o lateral-direito Alberto Costa (cinco passes para golo e esteve ausente em duas jornadas!), com Froholdt e Gabri Veiga a assinarem três cada. No lado dos encarnados nenhum jogador soma mais que uma assistência — e isso é bem indicativo deste monocórdico início de temporada para as bandas da Luz.

Quanto aos golos sofridos, o muro erguido pela equipa técnica de Francesco Farioli mostra-se sólido e difícil de ultrapassar, pois apenas concedeu um golo e nem esse alcançado por um adversário — autogolo em Alvalade marcado pelo infeliz Nehuén Pérez — o que em mais de 660 minutos (11 horas de competição incluindo as compensações!) merece ser enaltecido.

Neste particular, os encarnados sofreram quatro golos (um em contra-ataque e outro de livre direto), mas aqui há uma chamada de atenção especial — pois ainda subsiste o doloroso momento Kelvin aos 90+2’ que deu o título ao FC Porto e ajoelhou Jorge Jesus no relvado do Dragão a 11 de maio de 2013 — pois os quatro pontos cedidos pelas águias devem-se a dois empates consentidos em casa para lá dos 90 minutos: 90+2’ (Vinícius Lopes, Santa Clara) e 90+1’ (André Luis, Rio Ave). E se na Liga os dragões têm resolvido os seus compromissos bem mais cedo, também já mostraram (na Liga Europa) que gostam de guardar o melhor para o fim…