«O grande adversário de Luís Filipe Vieira é Rui Costa, o presidente do Benfica»
— Quem é João Antunes?
— Sou um simples benfiquista, antigo atleta do Benfica no basquetebol, com muita honra, durante a minha juventude, e sou um empresário nas áreas financeira e das tecnologias. Já fui fornecedor do Benfica, aquando da construção do estádio, em 2003. Sou benfiquista apaixonado e acho que o clube está numa situação que merece atenção especial para ver se conseguimos mudar o rumo dos últimos anos.
— Qual é a sua zona de conforto em termos profissionais e o que pode oferecer ao Benfica?
— Tenho por formação a área de gestão, mas conto também com os anos de experiência em múltiplas empresas. Há uma área especialmente importante no Benfica, a área do sócio e social do Benfica. O Benfica tem transversalidade social e uma paixão dos sócios que o tornaram diferente, conseguiu matriz social muito importante nos anos 60, nos anos 70 e nos próprios anos 80. Tem de respeitar a sua história e tem de ter futuro para as novas gerações continuarem a gostar do Benfica. Há uma marca social chamada Benfica.
— Porque razão foi escolha de Luís Filipe Vieira?
— Conheci Luís Filipe Vieira em 2003, numa situação muito especial, que tinha a ver com a implementação dos sistemas de gestão na área tecnológica. Luís Filipe Vieira transformou o Benfica, que passa hoje por dificuldades. Conheci-o em 2003 e encontrei um homem determinado em mudar o Benfica. E conseguiu mudar o Benfica, que atravessava crise enorme e não tinha recursos financeiros para nada. Conseguiu credibilizar o Benfica, pôr o Benfica num patamar empresarial absolutamente determinante para as vitórias. Reconheço que houve momentos, no final do seu mandato, de alguma controvérsia, na forma como não conseguiu o penta, mas encontrei novamente um homem determinado em colocar no Benfica um modelo de gestão adaptado aos dias de hoje.
— Integra a lista de alguém que significou muito para o Benfica, mas que saiu pela porta pequena e é arguido em vários processos. É algo que o incomode?
— Ser arguido não é uma circunstância feliz. Não vou dizer que é uma circunstância feliz. Temos de olhar para os temas com a devida proporção, e também a presunção de inocência. E eu digo com a maior das convicções que o ex-presidente do Benfica nunca faria algo para prejudicar o Benfica. Nos processos que têm a ver com o Benfica, jamais me passaria pela cabeça que ele fizesse coisas para prejudicar o Benfica. Agora, é uma coisa que não é agradável, era preferível não ter os processos. No entanto, ele próprio, quando foi detido em 2020, foi o primeiro a sair do Benfica e ainda era apenas suspeito. E porquê? Porque prejudicaria o Benfica pela condição que tinha. Não me passa pela cabeça que tenha uma condenação relativamente ao processo em que é arguido, segundo, se isso acontecer, terá de se tirar as devidas consequências. É um tema que não me incomoda, que era preferível não ter e que terá de ter também o seu término. E quanto mais rápido, melhor para o Benfica e para os benfiquistas.
— Que plano tem a candidatura para a área financeira do Benfica?
— A área financeira não pode estar dissociada do modelo de gestão. O Benfica, do ponto de vista financeiro, criou modelo de gestão na altura de Luís Filipe Vieira que era adequado à época que estávamos a viver. Hoje, o sistema financeiro do Benfica está baseado em sistemas obrigacionistas. E, portanto, se o Benfica quiser ter outro modelo de gestão terá de saltar para outro patamar do sistema financeiro. Tem de abandonar os empréstimos obrigacionistas, tem de fazer um revolving da dívida, tem de procurar meios de financiamento. Esse estudo está a ser feito com a equipa que está a ser constituída pela candidatura. As soluções vão passar por estar nos mercados onde os grandes clubes europeus se movimentam para financiar a dívida. O modelo de gestão tem de basear-se numa dívida com taxas muito mais confortáveis do que aquelas que estamos a pagar e tem de ser baseado em sucesso desportivo que traga receita operacional para que o Benfica consiga reter talento.
— Como pode o Benfica reter jogadores como João Neves e ainda contratar Bernardos Silvas?
— A primeira só é viável se conseguirmos estar nos grandes palcos europeus, com resultados operacionais sem compra e venda de ativos de jogadores para tapar buracos operacionais. O Benfica tem um crónico buraco operacional para resolver e, portanto, cobre sempre esse resultado operacional através de vendas de jogadores. E depois tem de ir buscar e cada vez está a comprar mais caro, que é o outro problema. Torna-se difícil criar mais valias nos jogadores que são adquiridos a valores mais altos. A formação tem de ter a capacidade de reter para poder conseguir retirar essa mais-valia mais à frente, com um ADN de sucesso desportivo que permita obter resultados operacionais desse mesmo sucesso desportivo. A atividade do Benfica é a atividade do futebol e só tem sucesso se o futebol tiver sucesso. Neste momento estamos a tapar buracos de tesouraria, temos de fazer empréstimos ou vender jogadores antecipadamente.
— Como pode votar-se em Rui Costa há quatro anos e estar agora alinhado com Luís Filipe Vieira?
— Fiquei muito desiludido com o meu voto. A primeira desilusão de todas é não ter títulos. Por isso a minha escolha de apoiar Luís Filipe Vieira e estar nesta candidatura. O Benfica, nos anos 90, ganhou dois títulos nacionais, foi decrescendo em títulos por década e nos anos 90 ganhou apenas dois. E sabemos o que aconteceu ao Benfica, é determinante para a área financeira, para a área de quotização, para a alma dos benfiquistas, para trazer novos adeptos, para os miúdos... Entramos num ciclo vicioso e tudo empurra para baixo. Uma segunda grande desilusão é a falta de comunicação e de liderança e tive oportunidade de dizer-lhe. Não conheço uma ideia do presidente atual, sobre qualquer coisa do Benfica. Tem de ter capacidade de comunicação e de mobilização dos sócios quando as coisas não correm bem e há quatro anos que as coisas não correm bem.
— A Benfica, SAD apresentou resultado positivo no último exercício de quase €34,4 milhões. Como avalia? É possível fazer melhor?
— É sempre possível fazer melhor. Temos de olhar para os resultados do mandato, não para os resultados de uma época. Apresentámos €34,4 M, com situações excecionais: Mundial de Clubes, venda de João Neves, um conjunto de circunstâncias que permitiram esse resultado. No acumulado dos 4 anos de mandato temos quase €28 M negativos. Esta candidatura tem vantagem, o antigo presidente conhece o carro que vai conduzir.
— É defensor do voto eletrónico?
— Hoje, do ponto de vista tecnológico, já há um nível de segurança para o voto eletrónico. Estamos a falar do voto eletrónico puro. Poder estar em minha casa a votar, através do telemóvel, com token, com vários níveis de segurança. Desde que isso seja entregue a uma empresa especializada, com o servidor num sítio completamente independente e completamente auditado pelas várias candidaturas, por várias presenças. É aberto um caderno de encargos, o risco de acontecer alguma coisa menos correta é diminuto. Temos assembleias com 400 pessoas, 500 pessoas, que determinam a vontade de milhões de adeptos e de 400 mil sócios. O Benfica sempre quis ser democrático, mesmo em períodos em que não havia democracia no País.
— Fala em democracia. Foi precisamente Luís Filipe Vieira quem afirmou que havia «democracia a mais no Benfica».
— Penso que ele se referia a outro tema, mas não quero fugir à pergunta. Se a frase foi dita do ponto de vista de eleições, é uma frase infeliz e não tem cabimento na minha ótica, nos tempos que correm, em qualquer tempo. É uma frase infeliz. O que eu penso que ele quis dizer, porque já conversei com ele, é que, nos atos de gestão a liderança da gestão tem de ser firme.
— Onde posiciona esta candidatura? Está entre as favoritas?
— Há, diria, três players. O incumbente, Rui Costa, terá sempre, normalmente, um conjunto de vantagens quando vai a eleições, um conjunto de ferramentas que os outros não têm, parte à cabeça e à partida com mais vantagem. Parece-me que Luís Filipe Vieira está a seguir ao incumbente, depois Noronha Lopes, porque já esteve em eleições, tem também alguma expressão. João Diogo Manteigas tem feito campanha muito própria e junto de um determinado tipo de massa associativa, ao nível das redes sociais. Cristóvão Carvalho e Martim Mayer têm tido menos expressão, terão menos tração junto dos benfiquistas. Só agora apareceram junto dos benfiquistas.
— Considera então que Rui Costa será o grande adversário de Luís Filipe Vieira?
— Eu penso que sim, porque é o presidente. Quem nos dera que não houvesse estes candidatos todos, era sinal de que tinha corrido muito bem o mandato de Rui Costa. Era sinal de que tínhamos sido campeões várias vezes, que o passivo não tinha aumentado, que os resultados tinham sido positivos, andaríamos felizes, o ato eleitoral seria uma coisa quase administrativa.
— Quer deixar uma mensagem aos sócios?
— Não podemos repetir a década de 90, não podemos correr o risco no Benfica de voltar a ter uma década com dois títulos. É o apelo que faço aos sócios. O Benfica não pode repetir nas décadas de 2020, 2030 o que fez na década de 90. O Benfica não aguenta, ficaria com problemas gravíssimos se isso se repetisse.
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