Mourinho desagradado com a arbitragem — Foto: MIGUEL NUNES

Mourinho pode mudar o VAR

Muito há a melhor na arbitragem portuguesa. O 'Special One' tem razão e estou a torcer por ele. Este é o 'Livre sem barreira', espaço de opinião de Hugo do Carmo

O Benfica acertou o calendário da Liga, somando, surpreendentemente, apenas um ponto da receção ao Rio Ave. Um empate que baixou, drasticamente, as expectativas dos adeptos encarnados, que tinham ganho uma alma nova com a contratação do Special One, que teve como resultado imediato a vitória na Vila das Aves.

José Mourinho, como todos sabemos, é muito mais do que um grande treinador, muito mais do que o melhor treinador português de sempre. José Mourinho é uma figura mundial, a quem ninguém fica indiferente e quem automaticamente transfigura tudo o que o rodeia.

Mourinho é uma verdadeira estrela e nós, portugueses, só podemos agradecer por ter decidido regressar, 25 anos depois, à nossa Liga. Nada será igual.

Cada conferência de imprensa é uma masterclass. Cada minuto é visto por milhões de telespectadores, cada frase é assimilada por todos, que de imediato iniciam uma autorreflexão. Mourinho tudo muda. É um craque da comunicação, da estratégia, da interpretação do mundo do futebol e de tudo o que o envolve.

Ao ouvir o treinador do Benfica no final do jogo com o Rio Ave, nomeadamente na análise da anulação do golo de António Silva, no que seria o 1-0, fiquei com a esperança de que também na arbitragem o dedo de Mourinho se faça sentir.

«Se se anula um golo por um dedinho ter sido pisado ou uma camisolinha ter sido puxada, não gosto do futebol de hoje», disse o Special One. Não posso estar mais de acordo.

A arbitragem em Portugal tem de mudar. O nível tem vindo a baixar de forma alarmante de época para época e nem a introdução da tecnologia permitiu que atingisse uma qualidade aceitável. A ausência de juízes portugueses nas grandes competições diz tudo.

O VAR impediu que se continuassem a cometer verdadeiros crimes, daqueles que os adeptos popularizaram como roubos, mas, convenhamos, ainda estamos muito longe de termos árbitros ao nível dos jogadores ou dos treinadores.

Sinceramente, considero que andamos todos há anos a treinar as interpretações. Depois de décadas a analisar a saudosa intensidade, agora entretemo-nos a tentar acertar durante os jogos o que o árbitro vai decidir depois de alertado pelo VAR. Não faz sentido.

No futebol há leis e cabe à arbitragem aplicá-las. Com critérios. É simples: basta defini-los e fazer deles uma regra. Como se faz em Inglaterra. Por isso todos utilizamos a expressão da arbitragem à inglesa. Todos sabem qual é, jogadores, treinadores e… adeptos.

Mais do que o «dedinho ter sido pisado» ou a «camisolinha ter sido puxada», o que mais critico em Portugal são as faltas assinaladas por um jogador ser atingido na cara. Não percebo como não há diferença entre atingir ou simplesmente tocar. Mais: no nosso futebol basta mesmo simular. É-se atingido no peito, agarra-se à cara e já está: falta e cartão amarelo para o adversário.

Todos vimos que não foi falta, mas já nada pode alterar-se, porque o protocolo não prevê estas situações…

As alterações na arbitragem não são fáceis, o caminho será, certamente, longo, as mudanças no protocolo dependem do International Board, mas José Mourinho será um grande aliado. Só mesmo alguém com a dimensão dele pode mudar o VAR. Eu estou a torcer por Mourinho.