«Mourinho gritou 'Idiotas! Não têm tomates!'. Senti-me diante um pelotão de fuzilamento»

Joe Cole decidiu passar para o papel a vida dedicada ao futebol. Entre êxitos e conquistas detalhados na autobiografia Jogador de Luxo, que será publicada neste mês, não faltaram também episódios mais polémicos, um deles com José Mourinho, atualmente ao leme do Benfica, no papel de protagonista.

Numa das passagens do livro a que o The Telegraph teve acesso o antigo internacional inglês recorda a reação furiosa do treinador português em fevereiro de 2005, quando estava no Chelsea e perdeu na visita ao Barcelona, 1-2, na primeira mão dos oitavos de final da UEFA Champions League.

«Foi a vossa primeira grande prova como equipa e falharam. Foram a Camp Nou e esconderam-se. Cobardes! Zero coragem» foram as palavras do então técnico dos blues no balneário, antes de ir jogador a jogador dar uma reprimenda, de acordo com o relato feito.

«Destruiu Petr Cech, John Terry, Lampard... Disse-lhes que Eto'o e Deco os tinham aniquilado, José [Mourinho] praguejava num perfeito inglês 'Malditos idiotas! Não têm tomates!', disse. Fê-lo com raiva, com desprezo, com deceção. Parecia uma sala cheia de condenados à morte à espera da sua vez», contou.

«Eu pensava 'Está a dar 20 segundos a cada um. Vão ver quando for a minha vez, vão ter de me levantar do chão'. Quando veio ter comigo e com o Duffa [Damien Duff], disse-nos que tínhamos jogado bem, que nos tínhamos esforçado. Senti-me um homem com os olhos vendados diante de um pelotão de fuzilamento, salvo por um indulto de última hora», lembrou.

Após a saída do português do balneário, imperou o silêncio: «Ninguém se atreveu sequer a pigarrear.» A resposta foi dada em campo, na segunda mão, em Stamford Bridge. «José queria agressividade e pressão e conseguiu-a. Já estávamos a ganhar 3-0 antes de o Barcelona entrar no jogo», disse, numa alusão aos 4-2 em Inglaterra que apurou o Chelsea para os quartos.

«Ele sabe quando é para destruir-te e quando é para levantar-te. Naquela noite, depois do apito final, veio ter comigo, abraçou-me e gritou para os adeptos 'Joe Cole! Ganhámos graças a ele!' Era a maneira dele de dizer que me tinha perdoado e eu senti que o tinha conseguido», acrescentou.

«Treinava-nos como ninguém. Era tudo com bola e sem interrupções. Obrigava-te a pensar enquanto jogavas. Fisicamente era esgotante, mas mentalmente fazia-te mais forte», sublinhou.

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