José Mourinho sucedeu a Bruno Lage no comando técnico do Benfica
José Mourinho sucedeu a Bruno Lage no comando técnico do Benfica - Foto: José Sena Goulão/Lusa

Mourinho é o maior. Voltará a ser o melhor?

Troféus internacionais festejados no FC Porto e conquistas em Inglaterra, Itália e Espanha deixam o 'special one' em vantagem sobre todos os colegas de profissão. Desafio no Benfica é mostrar que pode recuperar em 2025 a aura de 2004. 'Hat trick' é o espaço de opinião semanal do jornalista Paulo Cunha

Na história do futebol, tanto na era do preto e branco como das transmissões televisivas a cores, se procurarmos treinadores carismáticos que marcaram o jogo com inovações táticas revolucionárias, currículos abastados e legados inesquecíveis, o cardápio de escolhas é farto.

Com recurso à memória, nem sempre de elefante, e ao amigo Google, recordo-me de Alex Ferguson, Johan Cruyff, Arrigo Sacchi, Rinus Michels, Fabio Capello, Carlo Ancelotti, Jurgen Klopp, Arsène Wenger, Bill Shankly, Matt Busby, Helenio Herrera, Ernst Happel, Valeriy Lobanovskyi, Bob Paisley, Ottmar Hitzfeld, Juup Heynckes, Artur Jorge, Brian Clough, Pep Guardiola ou, claro, José Mourinho.

Em comum, são colecionadores de troféus, mas só um deles, inclusive entre outros que convido o leitor a acrescentar à lista, a somar a títulos em Inglaterra, Espanha e Itália, conquistou, em épocas seguidas, uma Taça UEFA e uma UEFA Champions League ao serviço de uma equipa portuguesa, no caso o FC Porto. O senhor de quem se fala é… José Mário dos Santos Mourinho Félix. Não é o melhor técnico da atualidade, aos meus olhos, no entanto, continua a ser o maior, simplesmente porque, além dos triunfos ao leme de clubes considerados favoritos, detém a pedra de toque de ter subido ao Olimpo como underdog a representar um emblema nacional.

Sem querer lançar maldição que eternizou Béla Guttmann — húngaro também celebrou, no Benfica, duas Taças dos Clubes Campeões Europeus em anos consecutivos, porém, não teve o impacto do special one nas grandes ligas —, nunca mais se verá algo igual em Portugal.

A distinção entre ser o maior e ser o melhor pode parecer subtil, mas é fundamental. O maior remete para o passado e para os momentos inolvidáveis de Sevilha e, sobretudo, Gelsenkirchen, onde os dragões ergueram a orelhuda, exceção à regra da ditadura dos big-5 instaurada desde essa final de 26 de maio de 2004 frente ao Mónaco.

Já o melhor é, por definição, o que está adaptado ao presente. E é aí que a discussão se adensa. O futebol de 2025 não é o de 2004. O jogo mudou, mudou muito. A pressão alta, a construção desde trás ou a versatilidade tática alteraram radicalmente o campo de batalha. José Mourinho não deixou de ser competente e um comunicador de excelência, embora salte à vista que tem mais dificuldades em lidar com uma geração de futebolistas que prefere a Playstation a uma cartada.

Guardiola a reinventar constantemente o jogo, Klopp com a arma do gegenpressing ou Luis Enrique com um novo futebol total cheio de ideias fora da caixa — e assim constatamos que Mourinho já não dita tendências. Segue-as, adapta-se, sem inovar.

A tentação de catalogá-lo como ultrapassado é francamente exagerada. A UEFA Conference League que acrescentou ao palmarés da Roma foi a prova de que mantém uma eficácia competitiva que poucos podem igualar. Certo é que ser o melhor, no sentido de impulsionar mudanças, é coroa que já não lhe pertence. Se poderá voltar a pertencer? O futebol não perdoa a estagnação e adora narrativas de reinvenção. Talvez Mourinho tenha uma última palavra a dizer, talvez ainda surpreenda no Benfica, nem que seja pelo prazer de provar que todos estavam enganados.

Até lá, fico com a certeza de que é o maior. O melhor? Isso já não.