Idalécio, antigo jogador, com José Mourinho - Foto D. R.

«Mourinho é o homem e o treinador certo para o Benfica»

Idalécio Rosa, antigo central português radicado em Londres há 13 anos, não duvida de que técnico pode devolver a estabilidade que o clube precisa; fala de como Londres irá receber Mou e as águias

Antigo defesa-central, o bom gigante de 1,96 metros jogou no Montijo, Louletano, Almancilense, Farense, SC Braga, Nacional, Rio Ave, Trofense, Gondomar e terminou a carreira no Quarteirense, em 2010/11. Em março completam-se 13 anos desde que mudou a vida para Londres, sem nunca perder a ligação com o futebol em Portugal. Foi nesse contexto, e com o regresso de José Mourinho a Londres, para defrontar o Chelsea na Champions, que Idalécio Rosa falou com A BOLA e transmitiu uma visão especial, com simpatia e objetividade incríveis, atributos que, aliás, também marcaram a carreira dele nos relvados.

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Idalécio começa por confessar que recebeu com «muita alegria» a notícia de Mourinho no Benfica, «um dos muitos bons treinadores» portugueses e «o primeiro a conquistar muito e a abrir portas para outros agora admirados pelo Mundo fora». O regresso de Mourinho «trouxe muita experiência e entusiasmo ao Benfica e ao futebol português», assinala.

O antigo defesa, agora com 52 anos, acredita que foi encontrado o «perfil de treinador que pode inverter o momento menos bom» da equipa encarnada, não apenas nos resultados, mas também no futebol jogado. «Todos sabemos que as equipas de Mou não são de futebol bonito, mas são organizadas e têm muita sede de ganhar», analisa com confiança, mesmo identificando um contexto delicado: «Pode é, neste momento que o clube atravessa, não ser a melhor altura... Não que ele não aguente a pressão e responsabilidade, mas por os jogadores estarem um pouco desacreditados, com menos confiança, por tudo que está a acontecer, as más exibições, maus resultados; esperava-se mais e melhor. E as eleições do clube. Mas volto a dizer que, ganhe quem ganhar, Mou é o homem e treinador certo para que volte a estabilidade de que o clube precisa. Mas não vai ser em poucos dias ou numa semana que tudo vai ficar bem para aqueles lados... Ainda por cima a trabalhar com um plantel que não foi escolhido por ele.»

Não vai ser em poucos dias ou numa semana que tudo vai ficar bem para aqueles lados... Ainda por cima a trabalhar com um plantel que não foi escolhido por ele.

Passou muito tempo, mas Mourinho foi o treinador que deu dimensão ao Chelsea. O regresso dele, agora como adversário, não apagará o carinho, acredita Idalécio Rosa.

«Pela perceção que tenho aqui, em Londres, vai ser muito bem recebido e acarinhado», relata, com poucas dúvidas de que o treinador continua a ser admirado «pelo que representa no mundo do futebol», pelo «carisma e experiência», até pela «personalidade, por vezes engraçada e outras polémica», porque, regista, «não se pode agradar a todos».

Sobre o jogo e as possibilidades de o Benfica ser feliz em Inglaterra, Idalécio conta com a «motivação» dos jogadores num duelo desta dimensão. «Por vezes o subconsciente dos jogadores, olhando a este jogo ou ao do Qarabab, pode traí-los e se calhar foi o que aconteceu», diz, lembrando a derrota das águias por 2-3, na 1.ª jornada da fase de liga da Liga dos Campeões. «Não acho que o Benfica vá entrar olhos nos olhos, especialmente pelo momento de pouca confiança que atravessa. A recente mudança de treinador, habituado a estas andanças, pode retirar-lhes pressão, mas nem agora ou noutra fase acho que o Benfica fosse jogar olhos nos olhos com o Chelsea. A estratégia deverá ser de expectativa, bem organizados e de muita entreajuda para tentarem depois, com argumentos e qualidade, surpreender», aponta, como ideia provável em Stamford Bridge.

Não acho que o Benfica vá entrar olhos nos olhos, especialmente pelo momento de pouca confiança que atravessa.

Em relação ao arranque de época em Portugal, Idalécio Rosa confessa que não acompanha «tanto como desejava», até com «alguma mágoa» por nunca ter tido «oportunidade» de fazer algo ligado ao futebol, o que aceitou «naturalmente» por saber que «não há espaço para todos os ex-jogadores». Dedicou-se à família e trabalho, que lhe retira tempo e o distancia de um futebol atual cheio de «polémicas e ataques ferozes a todos os intervenientes».

«Cresceste, Idalécio?»
Idalécio lamenta nunca ter sido treinado por José Mourinho, só o conhece como adversário. Mas tem episódios com o técnico que o fazem sorrir. «Nas poucas vezes que nos cruzámos fora do futebol foi sempre simpático, acessível e divertido. Disparava uma ou outra brincadeira, como: 'fazias-me falta na minha equipa...', ou 'cresceste Idalécio?'», recorda o antigo defesa-central de 1,96 metros de altura. Sobre os confrontos em campo, Idalécio Rosa lembra-se bem do resultado do Rio-Ave-FC Porto de 30 de abril de 2004, quando os vila-condenses venceram por 1-0 a equipa de dragões liderada por José Mourinho. «Sim, lembro-me dessa vitória saborosa. Julgo que chovia ou tinha chovido, o relvado acho que estava encharcado em algumas zonas e talvez por isso, e também pela nossa qualidade na altura, acabámos por ser mais felizes. Salvo erro houve uma infelicidade no golo que sofreram, mas o Miguelito mereceu marcar, pois fez uma época brilhante», lembra. Nessa época de 2003/04, o Rio Ave terminou o campeonato em sétimo, e o FC Porto conquistou o título com 82 pontos, com oito de avanço para o Benfica e nove em relação ao Sporting.

Em relação ao plantel do Benfica, regista «novamente um forte investimento... muitas entradas, mas algumas posições com lacunas». Também jogadores «à procura de melhorar o rendimento» num «período» difícil do clube, «com eleições, maus resultados, mudança de treinador». No Sporting, observa que se manteve «algum equilíbrio em termos de investimento, apesar de ter perdido jogadores muito importantes, onde se destaca o Gyokeres». Já o FC Porto, assinala, «apostou num treinador jovem, sem experiência de futebol português, mas que já tinha demonstrado qualidade por onde passou». Farioli, analisa, «fez ajustes e demonstra mais consistência». Idalécio vê uma equipa «mais forte e organizada».

Idalécio ainda não sabe se poderá estar esta terça-feira no estádio para apoiar o Benfica. Mas sorri à presença de Portugal, de Mourinho e do Benfica em Londres.