Durante o intervalo do Vitória-Aves SAD, a Comissão de Festas Nicolinas desfilou no relvado do D. Afonso Henriques - Foto: D. R.
Durante o intervalo do Vitória-Aves SAD, a Comissão de Festas Nicolinas desfilou no relvado do D. Afonso Henriques - Foto: D. R.

Lenta progressão

'Sentido de pertença' é o espaço de opinião semanal de André Coelho Lima, jurista, empresário e associado do Vitória SC

1 Sem fazer uma exibição de gala, o Vitória contornou com imensa competência o Aves SAD, impondo-lhe uma derrota por quatro golos sem resposta. É fácil dizer-se que foi a valia do adversário que o justificou, até por se tratar do último classificado, mas convém não esquecer que esta mesma equipa já roubou pontos ao Moreirense e ao SC Braga e a verdade é que foi necessário um Vitória consequente e insistente, não apenas para vencer mas para o fazer por números concludentes, como foi o caso.

Um jogo com golos distribuídos por vários atletas, um pouco à imagem de como está montada a equipa, onde, para além do consagrado Nélson Oliveira a abrir o marcador, marcaram Óscar Rivas, Beni Mukendi, Oumar Camara e — não marcou mas merecia — Mitrovic, num livre fantástico com a bola a embater no ângulo, mas no ferro. Ou seja, com exceção do primeiro, todos estes são jogadores com pouca experiência de Vitória, a viver a primeira época como titulares indiscutíveis (casos de Rivas e Beni), o que significa que esta é, como tenho dito várias vezes, uma equipa em construção, uma equipa muito jovem, uma equipa com valores de futuro, para que precisamos de ter o tempo e a correspondente paciência que nem sempre é exigível a um adepto de futebol. Mas é no nosso interesse que o devemos fazer. Se achamos — e não tenho dúvida que nisso todos concordamos — que temos ali atletas de enorme valor potencial, temos de lhes dar o tempo para o demonstrarem.

Este jogo teve igualmente um momento que registo, embora com alguma parcialidade, pelo envolvimento e gosto que tenho e sempre tive com as Festas Nicolinas, festividade maior de Guimarães. Num jogo que se realizou um dia antes do Pinheiro, durante o intervalo a Comissão de Festas Nicolinas desfilou no relvado do D. Afonso Henriques, tocando o toque do Pinheiro no que foi acompanhada pelas bancadas, num momento revelador de tudo o que representa a vivência vitoriana, que se confunde com a cidade que ampara o clube, é o tal Sentido de Pertença com que intitulo estes textos. Está de parabéns o Vitória pela iniciativa e pela forma como se associa às causas vimaranenses.

2 Olhemos agora para a frente. O Vitória ocupa a 8.ª posição, a seis pontos do 4.º classificado (Gil Vicente) e a três pontos do 5.º classificado (Famalicão). O Minho ocupa todas as posições a seguir aos três da frente do campeonato, com nada mais nada menos que cinco emblemas em disputa dos lugares europeus. E creio que será entre estes que esses lugares se definirão. Ainda há muito campeonato pela frente para muita coisa poder ainda acontecer (ainda faltam cinco jogos para terminar a 1.ª volta), no entanto, eu mantenho o meu prognóstico reservado quanto ao sucesso na obtenção daquele que tem sempre de ser o nosso objetivo — atingir um lugar de qualificação para as competições europeias.

No entanto, os números revelam que estamos na luta! Temos agora um importantíssimo Vitória-Gil Vicente, a que se seguirá uma deslocação a Vila do Conde para defrontar o Rio Ave e, em seguida, recebemos o Sporting (pelo meio temos ainda um jogo para a Taça da Liga e outro para a Taça de Portugal). Creio que o foco deve estar nestes três próximos jogos, que disputaremos até ao Natal; sobretudo o primeiro, contra um adversário direto na luta pelos lugares europeus. Penso que devemos abordar o resto do campeonato por pequenos ciclos, agora abre-se este ciclo que termina com uma difícil receção ao campeão nacional. E ir fixando objetivo em cada um desses ciclos. E confiar que possamos continuar esta lenta mas progressiva evolução que se tem sentido, tanto de equipa como de atletas, para podermos sorrir no final.

3 Termino informando que na próxima edição do Sentido de Pertença terei como convidado João Sousa, o melhor tenista português de todos os tempos. Um vimaranense e vitoriano cujo percurso orgulhou o país inteiro e a que dediquei um destes meus escritos, em 5/4/2024, a propósito do anúncio do final da sua carreira. O João Sousa é um português de excelência a que calha apenas a coincidência — e para nós felicidade — de ser também vitoriano. É esse o propósito que procuro seguir nestes humildes escritos, procurar combater o fechamento que por vezes nos carateriza e fazer, na inversa, a pedagogia da dimensão humana e social que podem ter outros emblemas para além daqueles que recorrentemente ocupam 90% das páginas dos jornais desportivos.

A seguir ao cineasta Rodrigo Areias e ao artista plástico José de Guimarães, João Sousa, o melhor tenista português de sempre, honrará este espaço de vitorianos com a sua mensagem.