Adeptos do Vitória de Guimarães - Foto: Paulo Santos / ASF
Adeptos do Vitória de Guimarães - Foto: Paulo Santos / ASF

João Sousa, o melhor tenista português

'Sentido de pertença' é a opinião quinzenal de André Coelho Lima, jurista, empresário e associado do Vitória SC

1- Em várias ocasiões tenho usado este espaço para refletir sobre feitos e conquistas de atletas e equipas de modalidades que não apenas o futebol. Hoje é um desses dias. Porque o final de carreira do melhor tenista português de todos os tempos (até ao tempo atual), é circunstância mais que merecedora da distinção.

Sou do tempo em que o Nuno Marques e o João Cunha e Silva eram os tenistas portugueses de referência, por quem torcíamos como torcemos pela Seleção Nacional (confesso a minha preferência pelo Nuno Marques). Sempre à espera de uma afirmação, sempre fazendo contas para ver quando entravam no Top 100 do ranking ATP mas, com exceção de uma entrada fugaz do Nuno Marques (86.º), isso acabou por nunca acontecer. A similitude é aliás significativa com que escrevi há umas edições atrás quando recordei o Alexandre Yokoshi para destacar o feito do Diogo Ribeiro, recente campeão mundial nos 50m mariposa. E é por aqui que quero pegar.

2- Porque a circunstância de ter colocado como título que o João Sousa é o melhor tenista português de todos os tempos – o que é um facto – visa sobretudo destacar a fasquia para os vindouros. Porque não tenho a menor dúvida que o João desejará poder vir a ser ultrapassado, quererá que possam seguir-se gerações de tenistas portugueses que encimem o ranking ATP, pois isso é o que dará verdadeiro valor ao seu percurso absolutamente invulgar. O João rasgou horizontes, chegou onde nenhum outro tenista português havia chegado e isso, numa altura em que dá por finda a sua carreira, tem que ser mais tónico e desafio para futuro do que medalha para honrar o passado.

Termos desportistas como o João Sousa, como o Diogo Ribeiro, como o Miguel Oliveira, que rasgam e atingem o topo do Mundo em modalidades altamente competitivas e nas quais Portugal não tinha qualquer tradição relevante, tem que ser essencialmente uma abertura de caminhos para o futuro; é esse o seu legado.

3- Mas sendo isto claro, não pode deixar de se recordar os seus conseguimentos. Para o que se terá que recordar que o João Sousa atingiu o n.º 28 do ranking ATP em singulares (e já agora, o n.º 26 em pares) quando o melhor tenista português a seguir a ele (Gastão Elias) alcançou a 57ª posição – num grupo de apenas sete tenistas portugueses que atingiram o Top 100. O João Sousa obteve 25 vitórias em torneios do Grand Slam, sendo Nuno Marques o tenista português com melhores números a seguir aos seus, com 4 vitórias. O João Sousa tem 3 títulos em torneios internacionais (em 7 finais disputadas) sendo que mais nenhum português tem qualquer vitória em torneios internacionais – e bem nos recordámos da sua vitoria no Estoril Open permitindo-nos o supremo orgulho de poder ver um português a vencer o “nosso torneio”. Até em prize money, os mais de 8M $USD por si obtidos pulverizam todos os restantes tenistas dos quais apenas três ultrapassaram a fasquia do 1M $USD. São todos estes factos que fazem dele o melhor tenista português de todos os tempos. Mas como referi, estes números fantásticos têm que ser exemplo e projeção para mais, nas gerações vindouras.

4- Uma última nota apenas para dar conta de que, não obstante o seu epíteto de “Conquistador”, intencionalmente não referi a circunstância do João ser, como eu, vimaranense, e comigo partilhar a preferência clubística natural nas pessoas de Guimarães: o Vitória! E não o fiz porque considero que isso apouca o brilhantismo do seu percurso nele destacar uma circunstância que, para este efeito, é totalmente irrelevante; este texto é para homenagear o melhor tenista português de todos os tempos, sendo que a sua grandeza se afere pela circunstância dele querer – e todos querermos – que o seu extraordinário percurso possa ter aberto caminho para muitos que o possam seguir e até superar. Pois é isso que dá verdadeira grandeza aos/às grandes.