Guitane, metido num colete-de-forças leonino

Leão bem quando houve pressão... sem ela arriscou-se à depressão (crónica)

A vitória do Sporting na Amoreira não é para contestar, foi a melhor equipa e conseguiu as melhores oportunidades de golo. Mas o conjunto de Rui Borges foi desigual ao longo dos 90 minutos, em determinados períodos, coincidentes com o final de ambas as partes, baixou a pressão, e deixou os canarinhos voarem para fora da gaiola...

Os campeonatos ganham-se com pontos e o Sporting levou, da Amoreira, o prémio máximo. Mas, não pondo em causa a justiça da vitória verde e branca, há alguns elementos em que Rui Borges deve matutar, nomeadamente as quebras de pressão na reta final de cada um dos meios tempos, o que permitiu aos estorilistas, com alguns jogadores especialistas em filigrana, elaborarem algumas jogadas de bom nível, algo que não lhes foi permitido, para sermos precisos, do início de jogo aos 35 minutos, e do recomeço até ao minuto 75. Sendo verdade que o Estoril não se acercou com perigo, ao longo da metade complementar, uma vez que fosse, da baliza de Rui Silva, já nos últimos dez minutos da primeira parte, numa altura em que trocava a bola com inesperada facilidade entre as linhas leoninas, esteve perto de marcar, aos 41 minutos, após fífia de Debast, com Rui Silva a impedir o golo de Alejandro Marqués, e pregou um enorme susto ao guarda-redes verde-e-branco, quando um pontapé cruzado de Pedro Amaral (45m), passou muito perto do poste esquerdo da baliza.  

Dito isto, há que dizer também que a turma leonina teve muitos períodos em que sufocou o Estoril, que cada vez que queria sair em transição ofensiva esbarrava no muro pressionante, muito coletivo, liderado por Hjulmand. O melhor período do Sporting no jogo durou até aos 35 minutos da primeira parte, quando apresentou um futebol de altíssimo nível, feito de circulação rápida e pressão asfixiante, que justificaria mais do que apenas um golo.  

Sem surpresas

Ian Cathro encarou este jogo com o Sporting com algumas reservas, que não tiveram expressão na tática, o 3x4x3 do costume, mas sim numa dinâmica que o transformava constantemente em 5x4x1 de bloco baixo, como um pugilista que se refugia num canto para minimizar os socos do opositor. Rui Borges, por seu turno, apresentou um sistema (sem surpresa, também) de 4x2x3x1, que à partida poderia indiciar um comportamento simétrico dos setores, mas que na prática mostrou uma equipa virada à esquerda. E porquê? Porque Vagiannidis pouco subia porque tinha Quenda à sua frente, e este tinha dificuldade em jogar pelo meio, porque estaria a pisar terrenos por onde andava Trincão, enquanto que do outro lado, o posicionamento assumido de Pedro Gonçalves da esquerda para o meio permitia a Maxi Araujo aproveitar o flanco, e arrancar uma exibição de grande categoria. Provavelmente, o lateral uruguaio é o melhor na sua posição na Liga Betclic. Explicado o funcionamento das alas, falta falar de um processo defensivo que começava no incansável Suárez, passava a seguir por Morita e sobretudo Hjulmand, e contava com a defesa subida, muito graças à profundidade que a velocidade de Debast lhe dava. Foi assim que durante 35 minutos o Sporting não deixou o Estoril colocar pé em ramo verde, marcando um golo (Suárez, 12 minutos) e ficando-se a dever-se outros dois, o primeiro (21) quando Suárez não aproveitou um cruzamento, que foi geometria no espaço, de Debast, e aos 32, com Pote a embrulhar-se com Suárez e a desperdiçar, à Bryan Ruiz, uma assistência com mel de Quenda.  

Este Sporting avassalador saiu de campo aos 35 minutos, sendo substituído por outro, muito macio e vagamente pressionante, que deixou o Estoril sonhar com uma igualdade evitada com grande classe por Rui Silva (41). 

Querer e poder 

Ao intervalo, Rui Borges, pouco agradado com a falta de agressividade na reta final da primeira parte, trocou Morita por Kochorashvili, e os leões arrancaram para um quarto de hora de superioridade gritante sobre os donos da casa, que fizeram das tripas coração para se manterem no jogo, através da desvantagem mínima. Curiosamente, as substituições operadas por Rui Borges nunca mexeram na tática, embora a entrada de ‘speedy’ Allison aos 84 minutos tenha agitado muito as operações, lavando pânico à direita da defesa canarinha. A um quarto de hora do fim, Cathro ainda tentou dar mais poder de fogo ao ataque, colocando Begraoui ao lado de Lacximicant (entrado aos 64 minutos), mas embora o Estoril voltasse, na parte final do encontro, a beneficiar de nova quebra na pressão leonina, que lhe permitiu ter mais bola e equilibrar, do ponto de vista territorial, as operações, o que é certo é que nem por uma vez Rui Silva viu a sua baliza realmente ameaçada. O Estoril queria e não podia, enquanto que o Sporting, com uma defesa mais zonal, chegava para as encomendas e ainda era capaz de assustar, com a entrada de Catamo e a velocidade de Allison. 

 Num jogo que começou por prometer muito, mas acabou por ter períodos de baixa intensidade, o Sporting, com justiça, conseguiu o que mais pretendia, os três pontos. Na quarta-feira, em Nápoles, há mais...