Esperou-se 14 minutos por uma decisão em São Miguel. Foto LUSA
Esperou-se 14 minutos por uma decisão em São Miguel. Foto LUSA

Na televisão há pelo menos quatro penáltis por cada canto ou livre

O VAR existe para o bem, mas o abuso da tecnologia tem contra-indicações. Sobretudo quando se escalpeliza um lance durante minutos injustificáveis e ainda por cima se decide mal

A decisão sobre o penálti que ressuscitou o Sporting nos oitavos de final da Taça, na quinta-feira, é polémica quanto baste. A opinião generalizada dos especialistas não anda longe da de quase toda a gente e aponta no sentido de um claro exagero.

Não é a primeira vez que sucede — e provavelmente não será a última — o VAR encontrar motivo para grande penalidade num dos múltiplos lances que ocorrem dentro da área na marcação de um canto ou um livre. Já lá vamos.

O que parece realmente grave e a carecer de explicação é a demora nesta decisão. O protocolo diz que o VAR deve alertar o árbitro para um erro quando ele é claro e evidente, na sua perspetiva. Ora, um erro claro e evidente não demora 12 minutos a ser escalpelizado. Quando muito passamos para o terreno da dúvida, e aí manda o bom senso que se respeite a decisão do árbitro em campo.

Foram 12 minutos que prejudicaram o produto-futebol, levando à sobreposição de um jogo da Taça sobre outro e à dispersão dos consumidores. Ainda por cima o resultado final foi a típica cena em que a montanha pariu um rato: ao que parece, depois de vistas e revistas as imagens, desculpem os verdadeiros técnicos da coisa, é que não há qualquer penálti. Ou seja, além dos prejuízos já citados, há um prejuízo claro do Santa Clara, que podia estar nos quartos de final da Taça e não está.

Erros sempre houve e haverá, estamos fartinhos de escrever isto por aqui. Na maior parte das vezes beneficiam os grandes, pelo que também resulta uma vez mais irónico que o Benfica, já apurado, tenha vindo logo falar sobre o tema e o FC Porto, apurado mais tarde, idem. Este tipo de situações há de bater mais vezes às portas deles que às do Santa Clara, por exemplo, mas adiante.

Resulta daqui uma boa lição: a ânsia de usar a tecnologia levou-nos a achar que os problemas humanos se resolveriam através dela. Esquecemo-nos de que por cima de uma máquina (ainda) há seres humanos, que por definição são falíveis.

O VAR trouxe e traz um alargado conjunto de boas decisões que fazem do futebol um jogo mais justo. Mas nunca irá acabar com o erro. E se calhar era hora de perder a ânsia pela tecnologia e usá-la como quem rói uma unha até ao sabugo. Se houvesse dois VAR por equipa para cada canto ou livre, encontrariam quatro penáltis e quatro faltas ofensivas, contas por baixo, a cada lance destes. Se calhar está na hora de apelar àquela famosa 18.ª lei do jogo, a do bom senso.