Marcelo Teixeira (na imagem com Neymar) é o presidente do Santos
Marcelo Teixeira (na imagem com Neymar) é o presidente do Santos - Foto: IMAGO

Brasil já tem 'fair play' financeiro

JAM Session é o espaço de opinião semanal de João Almeida Moreira, jornalista e correspondente de A BOLA no Brasil

O fair play financeiro no futebol brasileiro nasceu, de parto demorado e nem sempre tranquilo, neste mês. «Ganhámos uma política de controle que poderá equilibrar o ambiente competitivo e dar oportunidade para os clubes corrigirem rumos», festejou Marcelo Teixeira, presidente do Santos a A BOLA. «Contribuirá para uma competição mais forte e para uma experiência melhor para o adepto», completa Alessandro Barcellos, presidente do Internacional. Para Cristiano Dresch, do secundário Cuiabá, «é um item de sobrevivência porque a Série B se tornou uma bolha financeira, com clubes falidos e salários atrasados. Na A, evita que os grandes continuem a burlar os menores».

Segundo a CBF, a versão brasileira será baseada em quatro pilares: controle de dívidas, equilíbrio operacional, controle de custos com plantel e capacidade de endividamento no curto prazo, conforme o modelo da UEFA, mas com adaptações locais: para atrair capital estrangeiro, não restringe a injeção de recursos por acionistas.

«Terá padrões de disciplina, transparência e responsabilidade que nós, no Juventude, adotamos há anos», regista Fábio Pizzamiglio, presidente do clube.

Noutro ponto do regulamento, a CBF proíbe que uma mesma pessoa, grupo ou acionista tenha influência sobre duas instituições de divisões próximas.

O custo dos plantéis deve ser inferior ou igual a 70% da soma de receitas, transferências e investimentos e o endividamento de curto prazo igual ou inferior a 45% das receitas.

Para os clubes da Série A, o défice máximo é do equivalente a 4,3 milhões de euros ou 2,5% das receitas. Para os da B, 1,5 milhões ou 2,5% das receitas — estão fora da conta os gastos com formação, futebol feminino, infraestrutura, projetos sociais e desportos olímpicos.

Para Cristiano Caús, advogado de direito desportivo da CCLA Advogados, o tema exige cautela: «O fair play não pode ignorar o estágio de maturidade económica dos clubes, exigir ajustes rígidos e imediatos pode acelerar processos de insolvência». A vigência plena será, por isso, em 2028.

«Finalmente, burlas e fraudes não serão mais toleradas, se os organismos reguladores forem independentes, livres de tráfico de influência, teremos numa década uma revolução na gestão dos clubes», defende Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil.

«Houve nos últimos anos no Brasil inflação nos salários e custos de transferência, além de investimento no profissionalismo, isto é, infraestrutura, formação e equipas multidisciplinares», lembra Fernando Lamounier, diretor da Multimarcas Consórcios.

Em resumo, para Moises Assayag, sócio da Channel Associados, a iniciativa chega em ótima hora: «Até porque, ao incorporar modelos da Premier League e La Liga, nasce moderna.»