Kalle Rovanpera quer ser novo 'Finlandês Voador' da Fórmula 1

A atração da Fórmula 1 e a oportunidade de fazer algo «realmente único» estão na base da decisão de Kalle Rovanpera de deixar o Campeonato do Mundo de Ralis (WRC) pela Super Fórmula japonesa em 2026.

O bicampeão do WRC em 2022 e 2023 cumprirá rara transição desta competição para a de monolugares, mas começará pela base da hierarquia das fórmulas, com uma estada prevista de dois anos na Super Fórmula do Japão, num programa apoiado pela Toyota, fabricante que representa no Mundial de Ralis.

O anúncio da mudança chegou com o finlandês, de 25 anos, ainda na corrida pelo terceiro título do WRC, a três etapas do final da temporada, começando com o Rali da Europa Central, na próxima semana, e acontece depois de, em 2024, ter-se estreado em corridas de circuito na Porsche Carrera Cup Benelux e numa participação em carros de fórmula – incluindo de Fórmula 1, um Red Bull de geração mais antiga – no Red Bull Ring, na Áustria.

Essa experiência levou-o a considerar seriamente uma mudança radical na carreira, apostando a tempo inteiro nas competições de monolugares de pista. O piloto garante que a decisão foi ponderada e que, à imagem do que fez nos ralis, não restringirá a sua ambição nas corridas de grande prémio - quer atingir o topo: a Fórmula 1. A concretizar esse objetivo, Kalle Rovanpera juntar-se-ia ao restrito grupo de Flying Finns (em português: Finlandeses Voadores, termo que designa os pilotos deste país que se destacaram no automobilismo) da categoria rainha do desporto automóvel, como o pioneiro do termo, Leo Kinnunen, e os seus sucessores Keke Rosberg, Mika Hakkinen ou Kimi Raikkonen.

«Não foi uma escolha fácil, de todo, mas foi uma escolha clara para mim. Priorizei as coisas que pretendia alcançar [no WRC] e conquistei-as ainda muito jovem, e estou feliz com isso», começou por afirmar Kalle Rovanpera, que soma 17 vitórias em ralis do WRC e uma série de recordes de juventude nesta competição.

«Na próxima temporada, vou competir na Super Fórmula, no Japão, fazendo muitos testes e trabalho em simuladores, e o plano para os próximos dois anos é pilotar carros de fórmula. Depois disso, precisamos de ver quais serão os próximos passos, mas o objetivo é ter um programa adequado com a Toyota em carros de fórmula e ambicionar o mais alto nível possível», explicou o finlandês, citado pelo Motorsport.com.

«Obviamente, o plano é chegar à Fórmula 1. Estou a começar basicamente do zero. Levará muito tempo no início para me habituar e desenvolver a minha capacidade de condução e tudo mais», assume Rovanpera.

«Não posso dizer qual será o meu objetivo final, já disse que é o nível mais elevado que puder atingir. A Fórmula 1 é o nível mais alto, mas obviamente existem tantas categorias e eventos interessantes em circuitos. Se me perguntarem 'quero fazer Le Mans um dia?', com certeza, se tiver oportunidade, quero ir a Le Mans. Quero participar em todas estas grandes corridas. Há tantas possibilidades», afirma.

«Temos a hipótese de fazer algo realmente único que nunca ninguém fez, e isso é parte da maior motivação – fazer sempre algo que talvez mais ninguém tenha feito. Isso é algo realmente interessante», sublinhou Rovanpera.

«Não tenho prazos estabelecidos, quando e onde devo estar. Devo apenas concentrar-me em cada temporada, trabalhar arduamente e melhorar, e se conseguir os resultados, tudo é possível», declarou. «Mas o meu tempo está definitivamente a esgotar-se. É por isso que a decisão teve de ser tomada agora. Um grande obrigado à Toyota, que quis estar ao meu lado nisto. Obviamente, este tipo de plano e projeto não seriam possíveis sem o apoio do fabricante», reconhece.

«Na vida, e especialmente no desporto automóvel, nunca se sabe o que está para vir. É preciso estar no lugar certo à hora certa, muitas coisas precisam de acontecer à nossa maneira, mas temos o tempo a meu favor, pois tenho apenas 25 anos, e queremos definitivamente ir até ao fim».

Kalle Rovanpera terminará a sua carreira no Mundial de Ralis (WRC) no final da temporada de 2025, encerrando um capítulo de sucesso que lhe valeu dois títulos mundiais, 17 vitórias em ralis e uma série de recordes de precocidade naquela competição. 

Com apenas 17 anos, o finlandês estreou-se numa prova do WRC, o Rali do País de Gales, em Ford Fiesta R5 (WRC2), e depois de passagem pela Skoda juntou-se à equipa de elite da Toyota Gazoo Racing em 2020. Logo no seu segundo rali do WRC, na Suécia, subiu ao pódio, no início de uma caminhada que o levou a tornar-se o mais jovem piloto de sempre a ocupar uma das três primeiras posições do WRC. A primeira vitória em ralis chegou na temporada seguinte, na Estónia, conferindo-lhe mais um marco de juventude na categoria, superando o compatriota Jari-Matti Latvala, que detinha o recorde desde 2028. 

A introdução do regulamento híbrido do Rally1 em 2022 revelou-se a combinação perfeita para o então piloto de 22 anos e o seu navegador Jonne Halttunen. Vitórias em cinco das sete primeiras etapas – além de um triunfo decisivo na Nova Zelândia – garantiram-lhe, aos 22 anos, o título de campeão mundial mais jovem da história do WRC – aos 22 anos e um dia, ultrapassando largamente o anterior recorde, do lendário Colin McRae (27 anos e 89 dias, em 1995).  

Kalle, filho de Harri Rovanpera, também piloto do WRC entre 1993 e 2006, mas apenas uma vitória e zero títulos mundiais - revalidou o cetro em 2023 com uma campanha de consistência notável, terminando todos os ralis, exceto um, entre os quatro primeiros. 

Mesmo tendo disputado apenas sete etapas em 2024, Rovanpera triunfou por quatro vezes, ajudando a Toyota a conquistar o quarto título consecutivo de fabricantes. Esta temporada, mantém-se firme na luta pelo terceiro título de pilotos, após um sucesso notável nas Canárias e uma emocionante primeira vitória em casa na Finlândia, onde estabeleceu a velocidade média mais rápida alguma vez registada num rali do WRC: 129,95 km/h. 

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