André Villas-Boas emocionado (foto: Estela Silva/LUSA)
André Villas-Boas emocionado (foto: Estela Silva/LUSA)

Jorge Costa eternizou Villas-Boas

Presidente do FC Porto falou do coração e mostrou como quem manda também pode ter elevação; 'Para lá da linha' é uma opinião semanal

Numa altura de troca de acusações entre presidentes de clubes que se julgava serem de uma nova geração passou a ser a regra, foi tocante ver como o presidente do FC Porto, André Villas-Boas, transformou uma cerimónia protocolar num momento tão pessoal.

A ideia era esta: dar o nome de Jorge Costa, à data da sua morte, diretor de futebol profissional do clube, ao centro de estágio do Olival, onde os dragões treinam há mais de 20 anos. Estava presente a família mais imediata do antigo jogador - mãe, viúva e três filhos, Dª Maria Adelaide Estela, David, Guilherme e Salvador - e, talvez por isso, o presidente dos dragões começou a ficar com a voz tremida ainda não ia a meio do discurso que levava preparado. Exaltou Jorge Costa histórica e institucionalmente. Tudo como é protocolar.

No final, depois de mais de cinco minutos a ler, sentiu, seguramente, que mais teria de dizer. Que o momento pedia mais do que palavras escritas num papel, algo mais dito do coração. «Se conseguir», notou. E mesmo a ver pela televisão, teve toda a minha atenção. O que se seguiu foi uma rara reflexão, quase como se a falar sozinho em voz alta, sobre o que significou ter e perder Jorge Costa. Enumerou parecenças que encontra entre um dos filhos e o ‘bicho’, como lhe chamou inúmeras vezes ao longo da intervenção, mas um ‘bicho’ que apenas suscitou carinho. Depois a confissão mais crua, voltando ao 5 de agosto em que Jorge Costa faleceu: «Às vezes sou invadido por diferentes sentimentos, por o ter trazido de volta a esta casa, mas também por o ter perdido aqui. E perdido da forma que foi, nos meus braços...»

Jorge Costa era um dos pilares da reconstrução do FC Porto pós Pinto da Costa, tendo assumido o cargo apenas semanas depois de Villas-Boas vencer as eleições. Está agora junto da equipa de outra maneira, mais mística. O presidente notou que este «pequeno gesto deveria ter sido feito em vida e nunca retribuirá tudo que lhe devemos, o privilégio de o termos tido connosco».

Não tenho dúvidas de que ter o seu nome e imagem pelas paredes vai reforçar o espírito de uma equipa que se reergueu e está bem viva sob o comando de Francesco Farioli. O FC Porto sempre foi bom a tirar forças de aparentes fraquezas.

Seria bom que quem manda percebesse que momentos como este fazem mais por quem representa os clubes do que aqueles outros com tanta má energia. E Villas-Boas saiu deste momento eternizado pelo poder do 'bicho'.

Galeria de imagens 10 Fotos