Ir além dos direitos
A centralização dos direitos audiovisuais do Futebol Profissional representa, sem dúvida, um marco histórico em Portugal. Não resolverá, por si só, todos os desafios do nosso futebol. É verdade. Contudo, pode ser o alicerce de uma transformação profunda, como uma plataforma de futuro que ultrapassa a mera agregação e comercialização conjunta dos direitos de transmissão.
O que se abre é a possibilidade de construir um ecossistema moderno, competitivo e sustentável. No produto, significa investir na qualidade audiovisual, analisar qual o formato competitivo que melhor serve as Sociedades Desportivas e reforçar a atratividade global das nossas competições. Nos conteúdos, é a oportunidade de criar uma nova economia audiovisual, coerente e com identidade própria. Um espaço de narrativas que valorizem os protagonistas e consolidem o Futebol como produto cultural e mediático, à imagem do caminho que tem sido efetuado pela Liga TV. Nos dados e na tecnologia, significa estar na vanguarda da criação de valor para adeptos e parceiros, através da personalização de experiências, da análise inteligente de audiências e da proteção de um ativo estratégico: o combate à pirataria digital. A centralização permitirá implementar sistemas unificados de monitorização, notificação e remoção de transmissões ilegais. Mas será igualmente indispensável o compromisso do legislador, para garantir a defesa do mais elementar direito de propriedade intelectual.
Mais do que uma redistribuição justa e solidária de receitas, o desafio passa por desenvolver mecanismos que valorizem verdadeiramente as competições, os estádios, as marcas e as comunidades locais. Como ensina a economia comportamental, não basta discutir critérios de repartição — é preciso trabalhar na operacionalização da criação de valor.
Saliento ainda a importância da internacionalização: a centralização facilita parcerias estratégicas, atrai investimento estrangeiro e abre canais de diálogo com outras Ligas e entidades reguladoras. É este o caminho que a Liga Portugal tem vindo a percorrer nos últimos meses, um caminho de construção, com ambição e visão, que pretende reposicionar o Futebol Profissional num novo patamar de competitividade global.