Honra europeia
Com o inesperado arranque em falso com o Qarabag, o Benfica enfrentava um cenário bem mais agreste para tentar estrear a sua pontuação na fase de liga da Liga dos Campeões. A recente vitória caseira para o campeonato foi positiva, mas não acrescentou a segurança e confiança de que a equipas precisam, quando o adversário seguinte se chama Chelsea.
A primeira parte de Londres mostrou algum equilíbrio, embora com o Chelsea, dono da casa, a jogar mais subido. O Benfica apresentou-se mais em espera, mas conseguindo sair bem num par de situações perigosas, onde coincidiu a intervenção de Lukebakio.
O autogolo de Richard Ríos acabou por assinalar algum desânimo e um maior domínio inglês, bem como uma incapacidade crescente do Benfica em ultrapassar a pressão adversária. Os defesas laterais são, muitas vezes, surpreendidos nas suas costas, como foi o caso de Dedic no lance que deu golo. Embora não seja fácil, eles estão obrigados a controlar a bola, mas também o que se passa atrás de si. Foi o que no caso não aconteceu com o bósnio.
A segunda parte trouxe um Benfica mais ameaçador e merecedor de outro resultado. Foi um jogo muito físico, contra um adversário poderoso, com menos jogos e menor fadiga. Aursnes, talvez o maior espelho do desgaste acumulado da equipa, foi quem esteve mais perto de marcar em duas situações de golo iminente.
O cansaço extremo prejudica a execução técnica, condicionante que traiu a finalização do médio norueguês. No final, não sobraram os pretendidos pontos, mas a equipa deu tudo, defendeu a sua honra europeia e fica prometida mais qualidade e luta.
Nunca visto
Já se antevia um reinício de época complicado para o Benfica. É difícil voltar atrás na história do clube e encontrar um período de tamanha dificuldade, com tão diferentes e complexas condicionantes.
Desde logo, descansar pouco, depois de uma época mais longa do que é hábito, pode marcar decisivamente o rumo mais ou menos ganhador de uma equipa. Depois, já na época corrente, sucederem-se os jogos com pouco intervalo obriga a processos de recuperação contínua que impedem o treino. E é o treino que melhora as equipas. As alterações de fundo num plantel que esta transição trouxe obrigavam à integração dos novos elementos, que também não foi possível processar em moldes razoáveis.
Depois de uma sequência de resultados positivos, mesmo num cenário complicado, o Benfica acabou por fraquejar em casa e precipitar a mudança técnica. O ambiente à volta da equipa acabou por determinar a partida de Lage e o regresso de Mourinho, o que, no imediato, representa a esperança renovada dos adeptos mas, ao mesmo tempo, requer a adaptação a um novo líder. Entretanto, porque as competições não esperam, é preciso conseguir ganhar, enquanto não é possível treinar para se jogar melhor. Complicado? Muito.
Como se sabe, o futebol é um desporto que obriga a um grande esforço físico, para o qual as equipas e os jogadores se preparam na pré-época, depois de um merecido período de férias. Longe do que aconteceu. Neste caso, nem preparação, nem descanso. Ao contrário, o cansaço prejudica a execução individual e o rendimento coletivo. Dar corpo a um grupo de jogadores, mesmo de talento, é um desafio que vai sendo para já adiado.
Media
O futebol é um desporto popular e democrático, cujo contexto atual multiplica os programas de debate e quem comenta. Pode-se sempre criticar ou até desconsiderar, que é, de resto, a grande tendência nestes tempos que vivemos, e o povo gosta. A convicção do discurso, muitas vezes, mascara o desconhecimento e a falta de proximidade do que se fala. Criticar rende mais, de longe, que elogiar ou procurar entender. Sinais da realidade dos tempos que vivemos. Quem dirige, treina ou joga, tem esta realidade mediática atual com a qual é obrigado a conviver.
Lukebakio
Se houve algo de positivo para o Benfica que este último jogo com o Gil Vicente trouxe, além dos fundamentais três pontos, foi a confirmação da valia do ala belga há pouco contratado. Entre lesionados e transferidos, o Benfica estava obrigado a acertar na vinda de alguém que acrescentasse velocidade e agressividade ao ataque.
Mesmo em condição física precária, Lukebakio fez a segunda aparição na equipa e confirma como pode ser um elemento decisivo, quer na assistência, quer na concretização. Enquanto Schjelderup não se emancipa de alguma fragilidade e imaturidade, é sobre o internacional ex-Sevilha que, neste momento, recaem as maiores expectativas.
Milagre
Como explicar um verdadeiro milagre prestes a acontecer em território sueco? Um modesto clube sediado numa pequena aldeia piscatória, de somente 800 habitantes, é o protagonista desta história por se encontrar perto do título nacional da primeira liga sueca. Mjallby é como se chama o clube de que agora se fala, mas do qual pouco se conhece. «Onde o mundo acaba e o mar começa», é o slogan que orgulhosamente os seus habitantes ostentam, com o incrível ceptro de campeão a caminho.
«Tornamos o impossível possível», outra expressão utilizada aquando da chegada à primeira liga. Baseado numa visão de representação da região, o Mjallby começou a priorizar a sua academia e o scouting, tal como a estabilidade financeira, esta sem ajudas de investimento externo privado.
O clube procura que metade do plantel sénior sejam atletas treinados na academia, com pelo menos dois jovens promovidos todas as temporadas. Um bom princípio. Uma pequena aldeia condenada a ser famosa e cujo clube merece uma visita de estudo. Do pouco se pode fazer muito.