Seleção Nacional festeja apuramento para o Mundial de 2026
Seleção Nacional festeja apuramento para o Mundial de 2026 - Foto: IMAGO

«Hoje, já vamos ganhar o Mundial»

Sentido de pertença é o espaço de opinião quinzenal de André Coelho Lima, jurista, empresário e associado do Vitória SC

1 — Uso sem pedido de autorização, mas com a devida menção, o título do artigo publicado ontem pelo editor d’A BOLA João Pimpim, por entender que se descreve, na perfeição, aquilo que pretendia transmitir (cuja leitura aconselho como proémio a este escrito).

A forma como talvez devêssemos racionalizar um pouco as nossas análises e humores, que alteram abruptamente em função dos resultados, tantas vezes causados por circunstâncias exógenas. A forma como devemos deixar fluir a belíssima irracionalidade das emoções em torno do futebol, mas sem deixar que nos condicionem alguma, por pouco que seja, objetividade na análise. Porque não é possível programar nada se de cada vez que a bola bate na trave tudo ficar em causa.

Eu queria, em primeiro lugar, prestar a minha homenagem a Roberto Martínez. Recordando o que aqui disse sobre no já distante 28.10.2023, felicitando-o pelo «apuramento mais imaculado de sempre».

Atribuí ao selecionador esse mérito, e reforço-o agora. E estou ainda mais à vontade porque até sou dos que considero que as escolhas para a defesa e o esvaziamento do meio-campo foram responsáveis pela sofrível exibição de Dublin mas, que diabo, registámos a 3.ª derrota em 45 jogos com este selecionador, acho que nos merece, no mínimo, o benefício da dúvida.

E acho que devemos a nós próprios não nos sentirmos ridículos por termos estado uns dias a discutir a substituição do selecionador nacional para agora todos nos encontrarmos em júbilo incontido. A irracionalidade emocional faz parte da vivência do futebol, mas calma…

Temos um conjunto de jogadores magnífico, temos uma sequência geracional absolutamente assegurada (acabaram as gerações de ouro… são todas!), temos atletas que disputam e vencem as maiores competições do Mundo, mas ainda nos falta muito para nos podermos arvorar a pretender vencer o Campeonato do Mundo.

Metade do caminho está feito: estamos lá. A 9.ª presença em mundiais, sendo a 7.ª consecutiva. Tiremos satisfação disso mesmo e preparemos o torneio com idênticas humildade e ambição.

2 — Isto que aqui referi relativamente à Seleção Nacional poder-se-ia aplicar igualmente ao meu Vitória. Cabendo-me representar o clube do meu coração nas linhas deste jornal faço-o, nunca cedendo na exigência e na transmissão livre da minha visão mas faço-o, confessadamente, procurando não utilizar um espaço dum jornal nacional para zurzir o meu próprio clube.

Deixo essa tarefa para os nossos rivais. Parece que é uma postura não compreendida com alguns adeptos que, porventura, gostariam mais de ver um vitoriano a ser o primeiro no regimento de infantaria do bota-abaixismo contra o seu próprio clube. Lamento, não alinho nisso.

Faço o possível por não deixar condicionar a racionalidade das minhas análises pela desilusão dos resultados, quando essas desilusões surjam. Como hoje estou a alinhar em citações, quero manifestar que a postura que entendo dever apresentar está totalmente em linha com o que vi dito por Manuel Machado, vitoriano e treinador de futebol, que numa entrevista ao jornal O JOGO manifestou que esta «está a ser uma época relativamente normal, dado que houve uma alteração profunda no quadro de jogadores do clube e na equipa técnica. Há um tempo para maturar. Ainda não há uma linha muito vincada, mas com as mudanças é normal. O penálti que deu a vitória no último jogo foi executado por um jogador de 18 anos e acho que isso é demonstrativo das profundas renovações no Vitória. É um plantel muito novo. Acho que com o tempo a equipa vai evoluir. É preciso tempo».

Tudo isto é óbvio. Basta não perdermos noção disso quando afinamos as nossas expectativas. São aceitáveis todas as críticas para a revolução que se operou no plantel, é legítimo concordar-se e discordar-se disso, mas agora que está operada, onde somos necessários é a remar, que não em sentido contrário.

3 — Uma palavra para Miguel Oliveira, que teve neste último domingo a sua última prova em MotoGP. Também ele muito criticado nos últimos anos pela perda de rendimento que acabou por conduzir a que na próxima época vá disputar o campeonato de Superbikes.

Também aqui quero fazer exatamente o inverso. Quero prestar, mais do que a minha homenagem, o meu agradecimento àquele que foi, até hoje, o único português a participar no circuito Mundial de Moto GP, um feito impensável ainda há poucos anos. Eu que sou do tempo de ver a brilhar Waine Rainey, Eddie Lawson e Randy Mamola, tempo em que o Moto GP se chamava Mundial de 500cc, sei valorizar aquilo que conseguiu Miguel Oliveira — elevar o motociclismo português ao topo do Mundo!

E isso, numa altura em que, após seis anos de Moto GP, com cinco vitórias, sete pódios e uma pole position, Miguel Oliveira sai honrando o nosso país pelo seu percurso e pelas suas conquistas. Ele terminou dizendo «tenho tanto potencial ainda por explorar e mostrar», por mim, basto-me com o potencial que ele demonstrou. Obrigado Miguel Oliveira!