Gyokeres, João Félix e a inevitabilidade
São as duas maiores novelas do verão no futebol português: Gyokeres trocará o Sporting pelo Arsenal? João Félix vai mesmo deixar o Chelsea para rumar ao Benfica?
Sem querer fazer aquele papel de spoiler irritante que conta o fim da série, ou da novela, antes dele ser transmitido, vão. É inevitável. Mais milhão menos milhão, mais percentagem menos bónus, é quase impossível outro desfecho que não as transferências.
Num caso e noutro, os jogadores já decidiram os seus futuros. Claro, qualquer coisa de última hora que lhes agrade poderia mudar o cenário, mas se nada surgiu até ao momento, apareceria algo agora porquê, com os negócios cada vez mais próximos de serem concluídos?
E esse é o lado que algumas pessoas parecem não ter compreendido, mas que é tão verdade como quando, no final do século passado, Afonso Martins passou quatro anos a dar voltas ao relvado dos campos de treino do antigo Estádio José Alvalade, a treinar à parte, ou a jogar pela equipa B: os jogadores têm a faca e o queijo não mão.
Gyokeres quer sair, claro. Tem contrato assinado e pode ser obrigado a ficar — Frederico Varandas até já assumiu que o que é um problema hoje, a indisponibilidade para se apresentar ao trabalho, resolver-se-ia quase por milagre quando o mercado fechar.
Mas será mesmo assim? Todos os sinais apontam para que o sueco não seja inconstante — e, convencido de que o leão faltou à palavra, tenho muitas dúvidas de que não leve o conflito até ao fim. Nem que tenha de entregar baixa médica, ou que se apresente mas passe os dias a queixar-se de problemas físicos que, estranhamente, o departamento médico não consegue encontrar. Por isso, o Sporting tem de vender. E como Gyokeres só quer o Arsenal, tem de vender ao Arsenal.
Mas os gunners também estão de mãos atadas — depois de tantos episódios da novela, deixarem cair o negócio por causa de dois ou três milhões em bónus mais ou menos prováveis seria um golpe na própria credibilidade, que poderia comprometer negócios futuros. O Arsenal não pode correr esse risco. O Sporting não pode correr o risco de ter Gyokeres contrariado. Estão condenados a entender-se.
O caso de João Félix tem semelhanças. Perante a falta de interessados, o internacional português decidiu que o melhor passo para a carreira, mesmo que isso envolva perder muito dinheiro, é voltar à Luz. O Chelsea só tem duas hipóteses: aceitar um negócio que não o convence, ou ficar com o jogador parado, a desvalorizar ainda mais.
O Benfica, sejamos honestos, com as eleições para a presidência a aproximarem-se, também precisa de fechar a transferência — com a vontade manifestada por Félix, será difícil os adeptos aceitarem que o regresso falhe por um ou dois milhões.
Depois, os detalhes terão de ficar com Jorge Mendes. Se bem que os moldes do negócio que tem sido falado só façam sentido se Félix, daqui a dois ou três anos, rumar a algum lado por pelo menos 50 milhões de euros, e esse é um princípio arriscado neste momento.