Ex-Rio Ave vai terminar contrato no Beijing Guoan, da China, e admite um regresso ao seu país, mas também está disponível para continuar no estrangeiro

Guga: «Estou livre e disponível para ouvir todas as opções»

Médio português de 28 anos vai terminar o contrato com o Beijing Guoan e, pouco mais de um ano e meio depois da sua saída do Rio Ave para a China, está aberto para um novo desafio na sua carreira, em Portugal ou no estrangeiro

Depois de três anos e meio a jogar pelo Rio Ave, Guga Rodrigues decidiu aceitar um novo desafio na sua carreira, a sua segunda experiência no estrangeiro, mas a primeira fora da Europa. O médio português rumou à China em fevereiro do ano passado e, um ano e meio depois, está prestes a terminar contrato e falou em entrevista à A BOLA tudo sobre a sua experiência no futebol asiático.

Destino Aventura é a rubrica em que A BOLA dá a conhecer os jogadores espalhados pelos cantos mais remotos do mundo. Gonçalo Rosa Gonçalves Pereira Rodrigues, Guga no futebol, fala-nos desde a China, onde encontrou uma realidade que o surpreendeu.

- Já tinhas tido uma breve experiência no estrangeiro, nos gregos do Panetolikos, mas como está a ser esta mudança para a China, depois de muitos anos seguidos em Portugal. Qual é o balanço, um ano e meio depois?

- O balanço acaba por ser positivo. Não foi uma mudança fácil, porque é outro continente, é um país completamente diferente do nosso, requer algum tipo de adaptação e eu tive de me adaptar. Tive a sorte de ter tido um treinador português [Ricardo Soares] que me ajudou e a verdade é que esta segunda época a nível individual está a correr melhor do que a última. Mesmo a nível de números e a nível coletivo, e sinto-me completamente adaptado já.

- Foi mais difícil adaptar ao futebol ou ao estilo de vida na China?

- Acaba por ser os dois, porque o futebol aqui é um pouco diferente da realidade que nós encontramos em Portugal e também na Europa. E a nível de estilo de vida também, mas claro que custa ao início, especialmente adaptar ao estilo de vida. Mas depois de estares completamente habituado consegues fazer uma vida completamente tranquila.

Guga foi pai no ano passado, na sua primeira época na China. Foto - Guga e Beijing

- Foste pai enquanto estavas na China, como é que foi essa mudança também a nível pessoal e familiar?

- Fui pai na China, mas o bebé nasceu em Portugal. Eu estava cá na China. Acaba por ser bastante diferente, a minha mulher acabou por vir grávida para Pequim, mas nós decidimos que o nascimento ia ser em Portugal, pelo apoio familiar, que aqui acabamos por estar os dois sozinhos. E tem sido uma experiência incrível. Mesmo estando longe e sem ajudas, está a ser muito bom, apesar de ser um bocado cansativo, mas está a ser uma experiência incrível.

- Como se compara a liga chinesa com a portuguesa, não só em termos de qualidade de futebol, mas também de intensidade e o ambiente que se vive nos estádios?

- Sim, tocaste por último no ambiente e eu tenho de começar por aí, porque é mesmo uma realidade completamente diferente que eu não tinha noção. Eu sabia que a China era um país volumoso a nível de habitantes, mas não estava à espera de encontrar estádios de 70, 60, 50 mil. Se eu for jogar ao estádio do último classificado, sou capaz de apanhar 25, 30 mil pessoas. No nosso estádio é sempre uma média de 50, 55, 52 mil pessoas, por aí. E isso a nível de ambiente é algo marcante que eu nunca vou esquecer. A nível do futebol, claro que a nível de qualidade não posso dizer que é a mesma de Portugal, mas mesmo assim conseguiu-me surpreender, porque há aqui jogadores com muita qualidade, chineses e principalmente estrangeiros, que acrescentam todos a sua qualidade às suas equipas. A nível da intensidade também foi uma boa surpresa, porque todos os jogos são intensos, algo partidos nos minutos finais, mas a verdade é que é uma liga supercompetitiva, principalmente o top-7, top-8 do campeonato são equipas muito complicadas.

– Já falaste aqui também dos teus números. Em Portugal chegaste a fazer 8 assistências numa só época pelo Rio Ave, na Liga 2, mas na China tens aumentado os teus números, também em golos. 11 golos e 9 assistências em ano e meio na China. Qual foi o segredo? Consegues jogar um futebol mais ofensivo na China?

- O que eu acabei por dizer até numa outra entrevista foi, que é normal e eu percebo que haja se calhar uma ideia que eu ter vindo para este tipo de campeonato, se calhar eu estagnei a nível da evolução, mas a verdade é que os dois treinadores que eu encontrei aqui no Beijing, exigem muito essa contribuição ofensiva. Tanto golos como assistências e eu consegui melhorar esse parâmetro. É verdade que eu no Rio Ave também tive bons números, mas aqui tenho a oportunidade se calhar de ter mais posse de bola, de aparecer mais nas zonas de finalização. É uma equipa que todos os jogos somos obrigados a ganhar, porque é uma equipa que exige estar na disputa pelos títulos, e isso também faz com que depois, a nível individual, os números apareçam e é algo que é bom para a minha posição.

- Faltam poucos jogos para terminar a temporada, vieram agora de duas derrotas, estão a cinco pontos do primeiro lugar, ainda é possível o título ou o objetivo está no apuramento para as competições internacionais?

- Não, o objetivo é a luta pelo título, como é óbvio. Claro que agora estas duas derrotas não eram o que queríamos, mas a verdade é que estão 5 pontos em disputa, em 6 jogos, no futebol tudo é possível, e até matematicamente ser possível, nós vamos acreditar. Ainda temos a final da Taça da China também, vamos jogar no dia 6 [de dezembro], e isso também é um dos objetivos do clube, campeonato e Taça, e se pudermos conseguir os dois títulos era algo inédito para o clube.

- Já falaste também como foi importante ter um treinador português, mas teres também um colega que fala português, como o Fábio Abreu, ex-Moreirense, quão importante é?

- Sim, eu até em termos de brincadeira digo que o Fábio é o meu pai na China [risos], estando ele cá há mais tempo, e também sendo mais velho, foi uma pessoa que me ajudou bastante, e ainda ajuda. E claro que isso depois facilitou a minha adaptação, o treinador, o Fábio, também tinha cá jogadores que tiveram passagem pelo futebol português e ajudaram-me bastante, e isso facilita depois bastante a adaptação para um país tão longe.

– Contrato termina no final deste ano. Há conversas para renovação?

- Eu estou aberto a todos os cenários possíveis, o que eu sei é que eu tenho 28 anos, vou acabar o contrato, mas tenho a certeza de que vou assinar outro, novo, não sei onde ainda. Pode ser aqui na China, pode ser no Beijing Guoan, pode ser em outro contexto, não sei.

– Admites um regresso a Portugal a curto prazo? Ou o plano é continuar e terminar a carreira na China ou noutro país estrangeiro?

- Não, nunca digo que não a Portugal, porque nós vemos que a nossa liga está cada vez mais competitiva e com maior visibilidade. Não posso dizer se vai ser num curto prazo de tempo ou daqui a uns anos, o que eu sei é que, estando livre, nós temos de ouvir todas as opções e eu estou disponível para ouvir.

– Mas como é que surgiu essa oportunidade de sair de Portugal e rumar à China. Havia outras ofertas no estrangeiro? Porque escolheste o futebol chinês?

- Sim, a verdade é que no mercado de verão em 2023, se não me engano, houve bastantes rumores, várias conversas, várias seguridades, mas a verdade é que acabou por não acontecer nada. Acredito que também o facto de o Rio Ave ter tido o impedimento de inscrever jogadores pode ter prejudicado um pouco essa situação da minha saída e eu sendo um dos capitães do clube... E a verdade é que eu próprio, individualmente, também foi algo desgastante esse mercado, porque era algo que eu queria, que era dar outro passo na minha carreira, porque sentia que naquele momento já tinha dado tudo ao Rio Ave e o Rio Ave também me ajudou bastante. E depois no mercado de janeiro eu tive uma conversa com a minha família, e também com o meu empresário, e dissemos que o foco no mercado de verão tinha sido o projeto desportivo, e financeiro. E isso não aconteceu, e que se houvesse uma oportunidade em janeiro financeiramente boa para mim, e para o Rio Ave também neste caso, que eu ia olhar com bons olhos, e a verdade é que foi isso que aconteceu. Claro que a proposta aqui do Beijing foi financeiramente boa para mim, para o Rio Ave também acabou por ser e depois ter tido a oportunidade de falar com o mister Ricardo Soares, de ser um português a comandar a equipa, claro que isso também influenciou bastante. Se calhar se não fosse por ele se calhar não me tinha chamado tanto a atenção e acho que foi uma decisão acertada da minha parte.

– Ainda tens 28 anos, acreditas que consegues jogar até que idade? A longevidade está a aumentar no futebol, mas também é isso que tu queres, estender a tua carreira?

- Sim, eu claramente gostava. Enquanto o corpo corresponder, que é o que toda a gente diz, enquanto me sentir feliz dentro de campo, eu acho que o objetivo de todos os jogadores é estender ao máximo a sua carreira. Hoje em dia nós temos tudo o que é necessário a nível de recuperações, hoje em dia há muita informação de nutrição, de recuperação e nós tentamos ser o máximo profissionais possíveis. E se der para chegar até aos 40 anos, como o nós vemos o Cristiano Ronaldo e outros jogadores, acho que é o objetivo de todos os jogadores.

– Quais são os planos para o final da tua carreira, treinar era algo que gostarias?

- Por acaso, neste momento, daqui a uns anos não sei, tenho uma grande paixão pelo jogo e de entender porque se faz isto, porque é que se defende assim, porque é que vamos atacar assim. E acho que todos os treinadores que trabalham comigo sentem isso, que sou uma pessoa bastante curiosa pelo jogo e atenta, mas não tenho esse objetivo de ser treinador principal. Quero e gostava de estar ligado ao futebol, mas sim mais numa parte de gestão de plantel, como diretor desportivo. Também gostava de ser agente de jogador, empresário, e essa parte acho que se identifica mais comigo do que ser um treinador principal.

- Vi numa entrevista recente que também tens interesse pelo setor imobiliário, mas gostavas de estar na mesma ligado ao futebol?

- Sim, eu sinto que, ainda estando na atividade de jogador, já dou alguns passos no setor imobiliário, tenho alguns investimentos, mas quando acabasse a carreira gostava também de estar mais presente, digamos. Não sendo algo que a minha vida dependesse disso, mas sim algo de gosto que eu tenho, da parte do negócio, de comprar e pôr a arrendar, comprar e fazer obras. É o passo seguinte de quando eu acabar a carreira, gostava de estar nesse ramo, mas ainda falta algum tempo [risos].

Destino Aventura é a rubrica em que A BOLA dá a conhecer jogadores e treinadores espalhados pelos cantos mais remotos do mundo.