Goleador da Ovarense aprendeu com campeão do Mundo: «Virou-o ao contrário!»
Com 47 golos marcados em 14 jogos no Campeonato SABSEG da AF Aveiro, a Ovarense é dona do melhor ataque nos principais escalões distritais por esse país fora. O principal contribuinte para esse pecúlio dá pelo nome de Mário Correia, que, aos 24 anos, foi seduzido pelo projeto «ambicioso» do histórico alvinegro. A aposta revelou-se certeira: após uma época menos conseguida no Leça, com apenas três golos em 16 jogos, o avançado revitalizou a carreira, com soma 17 remates certeiros em… 16 partidas (contabilizando a Taça de Aveiro).
«O problema foi mais a nível mental. Pus muita pressão em mim mesmo. Focava-me muito em fazer golo. Agora, estou a focar-me muti mais em fazer as coisas certas e em respeitar posicionamentos. Curiosamente, nos jogos em que pensei muito em fazer golo, não fiz. Evitando pensar demasiado nisso, acaba por aparecer naturalmente», explica Mário a A BOLA. «Quando não marcas no início, começas a meter coisas na cabeça e parece que a bola não quer entrar. Este ano tem sido ao contrário. E o caudal ofensivo ajuda muito. Com o sistema implementado pelo míster [Fábio Vieira], já sabia que as oportunidades iam aparecer», prossegue o ponta de lança.
Com experiência na Liga 3 e no Campeonato de Portugal (CdP), Mário Correia não encarou a ida para o contexto de distrital como um passo atrás. «Após meio ano sem jogar, senti que precisava de um ano numa equipa que lutasse por objetivo positivo. Lutar pela subida é sempre melhor. O Diogo [Almeida, guarda-redes] já me tinha falado muito bem do projeto e as pessoas da Ovarense fizeram um esforço para contar comigo, uma confiança que não senti de outros clubes. O facto de treinarmos de manhã também ajuda», ressalva, explicando logo de seguida: «Estou a acabar o mestrado em Engenharia Eletrotécnica. Agora mesmo estou a sair da faculdade e ainda tenho de tratar de um trabalho».
Os estudos não são obstáculo no caminho que liga Mário Correia às balizas adversárias. Já foi assim no Alpendorada, em 2023/24 e até antes, mais jovem, na formação. Um percurso que até o levou a passar uma temporada em Itália, no histórico Perugia. Com 16 anos, chegou a treinar com o plantel principal e bebeu do conhecimento de um campeão do Mundo: Alessandro Nesta, que esteve na caminhada gloriosa de Itália em 2006.
«Ainda no outro dia estava a falar sobre isso com alguns colegas. A equipa sénior estava na Serie B, que é muito intensa, muito dura. Até estavam bem classificados. O treinador era o Nesta e eu, com 16 anos, sabia quem ele era, mas não tinha a perceção que tenho agora. Um homem imponente, a inspirar aquele respeito... Lembro-me de ele estar a dar um treino de linha defensiva. Ele disse para meterem a bola no avançado e eis que aparece a dar um carrinho. Virou-o completamente ao contrário! Ficámos a absorver o que se tinha passado, mas depois alguém se riu e o ambiente lá aligeirou», relata. Com um professor destes, não admira que Mário tenha aprendido os segredos para enganar os defesas…
Química especial com o filho de uma lenda... mas não só: «Arranja sempre uma bolinha para a cabeça»
Mário Correia não tem dúvidas. Na Ovarense, a competitividade por um lugar no setor ofensivo é acérrima. «Eu, o Morgan, o André Claro, o Gonçalo Semedo… Todos têm capacidade para jogar, a luta é acesa», assegura. E se o último dos nomes citados diz algo ao leitor, não se admire: Gonçalo é filho de Semedo, figura histórica do FC Porto nos anos 80 e 90.
«Vou criando algumas parcerias engraçadas. Na frente posso falar do Semedo, temo-nos ligado muito bem. Entre os dois, estávamos com 22 golos em 11 jogos. Ele acabou por ter uma pequena lesão e houve algumas trocas. Nesse período, comecei a dar-me muito bem com o Cacheira. E o Pedro Martins, numa zona mais central, tem metido bons passes. Então nas bolas paradas, arranja sempre uma bolinha para a cabeça», atira, entre risos.