Após uma temporada difícil no Leça, Mário Correia já tem mais golos do que jogos pela Ovarense - Foto: D. R.
Após uma temporada difícil no Leça, Mário Correia já tem mais golos do que jogos pela Ovarense - Foto: D. R.

Goleador da Ovarense aprendeu com campeão do Mundo: «Virou-o ao contrário!»

Mário Correia marca que se farta (17 golos em 16 jogos) e alimenta o sonho do clube de Ovar: voltar aos escalões nacionais esta época. Aos 16 anos, chegou a ser treinado por Alessandro Nesta no Perugia

Com 47 golos marcados em 14 jogos no Campeonato SABSEG da AF Aveiro, a Ovarense é dona do melhor ataque nos principais escalões distritais por esse país fora. O principal contribuinte para esse pecúlio dá pelo nome de Mário Correia, que, aos 24 anos, foi seduzido pelo projeto «ambicioso» do histórico alvinegro. A aposta revelou-se certeira: após uma época menos conseguida no Leça, com apenas três golos em 16 jogos, o avançado revitalizou a carreira, com soma 17 remates certeiros em… 16 partidas (contabilizando a Taça de Aveiro).

«O problema foi mais a nível mental. Pus muita pressão em mim mesmo. Focava-me muito em fazer golo. Agora, estou a focar-me muti mais em fazer as coisas certas e em respeitar posicionamentos. Curiosamente, nos jogos em que pensei muito em fazer golo, não fiz. Evitando pensar demasiado nisso, acaba por aparecer naturalmente», explica Mário a A BOLA. «Quando não marcas no início, começas a meter coisas na cabeça e parece que a bola não quer entrar. Este ano tem sido ao contrário. E o caudal ofensivo ajuda muito. Com o sistema implementado pelo míster [Fábio Vieira], já sabia que as oportunidades iam aparecer», prossegue o ponta de lança.

Com experiência na Liga 3 e no Campeonato de Portugal (CdP), Mário Correia não encarou a ida para o contexto de distrital como um passo atrás. «Após meio ano sem jogar, senti que precisava de um ano numa equipa que lutasse por objetivo positivo. Lutar pela subida é sempre melhor. O Diogo [Almeida, guarda-redes] já me tinha falado muito bem do projeto e as pessoas da Ovarense fizeram um esforço para contar comigo, uma confiança que não senti de outros clubes. O facto de treinarmos de manhã também ajuda», ressalva, explicando logo de seguida: «Estou a acabar o mestrado em Engenharia Eletrotécnica. Agora mesmo estou a sair da faculdade e ainda tenho de tratar de um trabalho».

Um toque de classe de Mário Correia

Os estudos não são obstáculo no caminho que liga Mário Correia às balizas adversárias. Já foi assim no Alpendorada, em 2023/24 e até antes, mais jovem, na formação. Um percurso que até o levou a passar uma temporada em Itália, no histórico Perugia. Com 16 anos, chegou a treinar com o plantel principal e bebeu do conhecimento de um campeão do Mundo: Alessandro Nesta, que esteve na caminhada gloriosa de Itália em 2006.

«Ainda no outro dia estava a falar sobre isso com alguns colegas. A equipa sénior estava na Serie B, que é muito intensa, muito dura. Até estavam bem classificados. O treinador era o Nesta e eu, com 16 anos, sabia quem ele era, mas não tinha a perceção que tenho agora. Um homem imponente, a inspirar aquele respeito... Lembro-me de ele estar a dar um treino de linha defensiva. Ele disse para meterem a bola no avançado e eis que aparece a dar um carrinho. Virou-o completamente ao contrário! Ficámos a absorver o que se tinha passado, mas depois alguém se riu e o ambiente lá aligeirou», relata. Com um professor destes, não admira que Mário tenha aprendido os segredos para enganar os defesas…

Mário Correia, aqui com 16 anos, no Perugia, de Itália

Química especial com o filho de uma lenda... mas não só: «Arranja sempre uma bolinha para a cabeça»

Mário Correia não tem dúvidas. Na Ovarense, a competitividade por um lugar no setor ofensivo é acérrima. «Eu, o Morgan, o André Claro, o Gonçalo Semedo… Todos têm capacidade para jogar, a luta é acesa», assegura. E se o último dos nomes citados diz algo ao leitor, não se admire: Gonçalo é filho de Semedo, figura histórica do FC Porto nos anos 80 e 90.

«Vou criando algumas parcerias engraçadas. Na frente posso falar do Semedo, temo-nos ligado muito bem. Entre os dois, estávamos com 22 golos em 11 jogos. Ele acabou por ter uma pequena lesão e houve algumas trocas. Nesse período, comecei a dar-me muito bem com o Cacheira. E o Pedro Martins, numa zona mais central, tem metido bons passes. Então nas bolas paradas, arranja sempre uma bolinha para a cabeça», atira, entre risos.