FC Porto: o dia em que Farioli deu uma lição ao PSG e a Luis Enrique
O dia 15 de setembro de 2023 terá sempre lugar de destaque no livro de memórias de Francesco Farioli. Acabado de chegar ao Nice como um jovem treinador desconhecido e acompanhado da promessa de futebol personalizado, o italiano apanhou França de surpresa com uma vitória retumbante em pleno Parque dos Príncipes, por 3-2, sobre o poderoso PSG, já orientado por Luis Enrique. Tratou-se da primeira derrota averbada pelo espanhol ao leme do emblema parisiense, num jogo que serviu de palco ao modelo de jogo pragmático e pressionante privilegiado pelo agora técnico do FC Porto, que, amanhã, poderá puxar atrás a fita do tempo quando receber, no Dragão, o antigo clube.
Mas voltemos a esse triunfo épico na capital gaulesa. Pela frente, um PSG com vincado sotaque luso — Danilo Pereira, Vitinha e Gonçalo Ramos foram titulares — e com estrelas como Hakimi, Dembélé e Mbappé (bisou) a acompanhar. Do lado do Nice, Farioli apostou no habitual 4x3x3, com Pablo Rosario a entrar aos 87'. Mas quais foram as chaves do triunfo do emblema do sul de França? Além de uma exibição superlativa do avançado Terem Moffi, autor de dois dos três golos (Laborde anotou o outro), a estatística ilustra bem o pragmatismo da abordagem posta em prática pelo técnico transalpino, então com 34 anos.
Naquela noite de setembro, o Nice bateu o PSG com apenas 31% de posse de bola e menos de metade dos passes realizados pelo adversário — 692 contra 314. Ainda assim, foi capaz de criar perigo mais vezes: a turma orientada por Farioli rematou em 14 ocasiões, oito delas enquadradas, enquanto o PSG disparou 12 vezes e somente três com a direção certa. Os segredos? Pressão, transições velozes e agressividade: nessa noite, o Nice fez 17 faltas, mais do dobro das que os parisienses cometeram (oito). «Vi uma equipa de guerreiros em campo, com e sem a bola», elogiou, na altura, Francesco. «Mais do que a tática, o que me deixa mais feliz é o espírito desta equipa», enalteceu.
Os dois embates seguintes já não correram tão bem ao Nice, mas ninguém apaga o registo daquela inesperada vitória. Uma espécie de cartão de visita do italiano.
Tentativa de suicídio e suspensão noutros episódios marcantes
Nem só de alegrias se fez a passagem do atual técnico do FC Porto pelo Nice, adversário de amanhã. No espaço de semanas, Francesco Farioli teve de lidar com duas situações delicadas no seio do plantel do Le Gym. A 29 de setembro de 2023, o médio Alexis Beka Beka ameaçou suicidar-se, atirando-se do viaduto Magnan, com cerca de 100 metros de altura. Para demover o jogador, agora nos belgas do La Louvière, foi montada uma operação que envolveu os serviços de emergência, bombeiros, polícia e a psicóloga do clube.
Um episódio que levou o treinador a alertar para a importância da saúde mental dos jogadores. Pouco tempo depois, em meados de outubro, o futebolista Youcef Atal foi suspenso pelo Nice por republicar uma mensagem pró-Palestina numa altura em que as tensões na faixa de Gaza escalaram. O lateral argelino não voltaria a jogar pelos franceses, rumando à Turquia em janeiro.
Pesadelo para Franck Haise
Antes de suceder a Farioli no banco do Nice, Franck Haise orientou o Lens e defrontou o homólogo italiano em duas ocasiões, ambas a contar para a Ligue 1. O saldo é 100% favorável ao agora homem do leme portista, que venceu os dois encontros: por 2-0, em casa, e por 3-1, como visitante. Amanhã, no Dragão, o treinador francês tentará contrariar a 'tradição', enquanto Farioli pretende dilatar o saldo perante o rival. Isto numa altura em que o Nice está a ferro e fogo, vindo de quatro derrotas consecutivas e com os métodos de Haise a serem questionados. Segundo a Imprensa francesa, há já um clima de tensão no balneário...