Opinião quinzenal João Caiado Guerreiro

Estrelas no céu do Mundo

'Direito ao golo' é o espaço de opinião quinzenal de João Caiado Guerreiro, jurista

O Paris Saint-Germain ganhou, brilhantemente, ao Inter de Milão, por 5-0, na final da Liga dos Campeões. De parabéns estão os portugueses Vitinha, João Neves, Nuno Mendes e Gonçalo Ramos, já que, além de campeões europeus, jogaram a final. E os três primeiros, titulares, com grande impacto devido à sua qualidade superlativa. De parabéns está, claro, o resto da equipa, o treinador Luis Enrique, o português Luís Campos, diretor para o futebol do clube, e o emir do Qatar, peça fundamental para este sucesso. Porquê?

Em 2011, a Qatar Sports Investments, 100% detida pelo Estado do Qatar, comprou 70% do PSG e, no ano seguinte, os restantes 30%. Durante anos, o Qatar investiu com o objetivo de ganhar a Liga dos Campeões. E passou um, dois, três, sete anos. E passaram 10, 11, 13, 14 anos. Aí, ao 14.º e tantos incontáveis milhões depois, conseguiu.

O dinheiro do Qatar comprou Neymar por 200 milhões, comprou e manteve Mbappé, comprou Messi e comprou muitos outros considerados estrelas. Os melhores treinadores, os melhores cuidados médicos, instalações excelentes, tudo da mais elevada qualidade. Esse mesmo dinheiro juntou a atual equipa jovem, sem estrelas cadentes, mas com estrelas permanentes. Essa foi a grande diferença, jovens estrelas que juntas sabem que brilharão em qualquer relvado do mundo, ou, de forma mais poética, no céu do futebol mundial. Se analisarmos com mais cuidado percebemos que o emir do Qatar continua a gastar muito dinheiro. Vejamos: Kvaratchkelia 100 M€; Dembélé, 50 M€; Doué 60 M€; João Neves, 60 M€; Vitinha 41,5 M€; Hakimi 68 M€; Nuno Mendes, 38 M€, só para dar alguns exemplos. Para investir assim, como mais ninguém na Europa continental, só mesmo um país. Por definição um país, ainda por cima rico como o Qatar, tem fundos ilimitados. Como se vê também pelo Manchester City, propriedade dos Emirados Árabes Unidos.

A UEFA, tentando manter o futebol equilibrado, criou as regras do fair play financeiro, explicitando que um clube não pode gastar mais que o que ganha ou fatura. Só que os Estados fazem as regras e a UEFA não consegue mais que dar uma palmada na mão. Sim, a última foi uma multa de 60 M€ ao PSG por infringir o fair play financeiro. É muito dinheiro, mas não para um país. Na mesma linha o Manchester City foi considerado culpado de ter gastos excessivos, multado em 30 M€, e banido dois anos das competições europeias, mas um tribunal suspendeu a decisão. E assim continua, suspensa, ainda não há decisão final.

Se recuarmos uns anos percebe-se o porquê do Qatar ter adquirido o clube da capital francesa: ganhar influência política e social. E conseguiu, já que foi anfitrião do Mundial de futebol e, com isso, recuperou o investimento. E com a vitória na Liga dos Campeões prevê-se que o investimento não pare, compensa, certo? Os ingleses chamam sportswashing, ou seja, melhorar a imagem e conseguir objetivos políticos através do desporto. O que chama o caro leitor?

Já eu tinha escrito este texto quando recebi aqui em Hong Kong a notícia que Diogo Jota e o seu irmão André Silva faleceram num brutal acidente de viação. As palavras pouco significam perante tamanha tragédia. Endereço, por isso, as minhas sentidas condolências à família, amigos e a todos os que vibravam com o talento de ambos. Descansem em paz!